Não tenhas medo, não! Tranquilamente,
Como adormece a noite pelo Outono,
Fecha os teus olhos, simples, docemente,
Como, à tarde, uma pomba que tem sono…
A cabeça reclina levemente
E os braços deixa-os ir ao abandono,
Como tombam, arfando, ao sol poente,
As asas de uma pomba que tem sono…
O que há depois? Depois?… O azul dos céus?
Um outro mundo? O eterno nada? Deus?
Um abismo? Um castigo? Uma guarida?
Que importa? Que te importa, ó moribundo?
– Seja o que for, será melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que esta vida!…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Poema de alento a um moribundo.
E a eterna dúvida; o que há depois da partida desta vida?
Como se garante que o que há depois é melhor do que o agora, se não se acredita em Deus? Foi só para consolar o moribundo?
Depois da morte temos um encontro para dizer ao Criador o que fizemos de nossa vida e com os talentos que Deus nos deu.
Florbela recebeu de Deus um talento dado a pouquíssimos, deixou uma obra que nos trás muitas reflexões.