Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou viro santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
– só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Adélia Luzia Prado de Freitas, Divinópolis-MG (1935, 89 anos)
O fim da vida chega e é igual para todos.
Neste momento da vida não há reis, bilionários, hedonistas.
A poetisa não sabe se vai abrir a porta e ser doida, ou fechar para ser santa.
Eu digo, mesmo no momento final há tempo de conversão e arrependimento.
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Se esse poema aborda a inquietação de uma mulher que aguarda por uma serenata em sua janela, a mulher do poema Vaso Noturno, da mesma autora, já tem quem faça serenata para ela:
“À meia-noite, José dos Reis
– que namoro escondido –
Vem fazer serenata pra mim.”
(…)
Grande Adélia Prado!
Que bom ter sua poesia exposta nesse espaço.
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