XICO COM X, BIZERRA COM I

A saudade distante é a que mais dói, talvez pela questão temporal. Não importa se boa ou má, é uma saudade das que lancinam, seja da professora do maternal, Dona Silvina – nem sempre amorosa ante minhas traquinagens infantis, seja da casa em que morava ou do berço em que embalava meu sono. Como esquecer o primeiro beijo, o primeiro desejo? E a primeira vontade que deu de roubar uma estrela para a ela oferecer? As saudades recentes, não sei explicar, são mais fugazes: acho que por conta do monte de informações que se recebe no dia-a-dia, por falta de espaço no HD da cabeça ocupada por coisas às vezes sem utilidade de tão fúteis que são. As histórias que minha vó contava, no balançar da cadeira ou o passeio àquela praia distante, num lugarzinho escondido do Ceará chamado Praia do Mucuripe, meninice a banhar-se no mar, não consigo esquecer. Hoje bateu-me uma saudade, nem sei ao certo do quê. Talvez de ter motivos para ter saudades, das boas e daquelas imensas e devastadoras que eu acho que ninguém merecia sentir nunca. Mas talvez seja melhor sentir saudades do que não tê-las para sentir. Certo é que, sem ter saudade, nunca devemos esquecer um tempo passado que deve ser lembrado até para que não volte a ocorrer. Ainda bem que existe o uísque e as pílulas para curar as insônias que a má saudade produz.

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2 pensou em “A PRIMEIRA SAUDADE

  1. Na falta de um Johnnie Walker, abra-se uma Coca-Cola. Ou, melhor ainda, beba-se um suco de acerola ou pitanga. Melhor receita pata abstêmios e acadêmicos não há, meu caro Doutor Zé Paulo..Dispensa até as pílulas, se a saudade não for das grandes. Só não garanto que a saudade seja indolor …

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