XICO COM X, BIZERRA COM I

Acordei com o barulho do vizinho reclamando de algo que pousara em frente a sua casa. Era Ícaro na ponta dos dedos de uma criança das redondezas. Seu objeto voante ia alto, como que viajando, estendido ao vento, rumo ao sol. Sem cerol, para que mais leve fosse, levava o menino ao infinito do céu. Seguia agarrada pelo barbante dos sonhos. Aos seus olhos, a pipa passeava alto como se passarinho fosse. E quase era. Apenas não sabia cantar. Nem precisava, tão bela era aquela coisa colorida e voadora. Até que, fantasia interrompida, linha cortada, veio pousar, distraída e lentamente, nas plantas do jardim de meu vizinho chato e implicante … Pior: sequer estava florado o seu pé de manacá em que aquela arraia aterrissou. Recolhi-a, à espera que o seu dono a procure. Jamais permitirei que se imiscua da grosseria e brutalidade adulta esse tão puro sonho infantil.

Um comentário em “A PIPA COLORIDA

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