DEU NO JORNAL

Paulo Briguet

São Paulo, 30/03/2025, movimentos sociais e sindicais realizam ato contra a anistia.

O dogma central da mentalidade esquerdista é a morte do inimigo político. Na maioria dos regimes socialistas, ao longo do século XX, a pena de morte foi usada para destruir qualquer possibilidade de oposição ou questionamento contra o poder revolucionário. 

Em cem anos, cerca de 135 milhões de pessoas perderam a vida unicamente pelo fato de serem consideradas inimigas do regime. Esse número supera a soma de todas as guerras, catástrofes e epidemias do mesmo período.

Quando falamos em socialismo, é necessário distinguir entre a pena capital propriamente dita e as diversas formas de aniquilação humana a ela associadas: tortura, fome, banimento, trabalhos forçados e perseguições de toda espécie. 

Durante o reinado de Josef Stálin, por exemplo, o regime admitiu oficialmente ter fuzilado quase 1 milhão de pessoas; no entanto, o número de mortos no Gulag, segundo historiadores como Robert Conquest e Anne Applebaum, chegou a 20 milhões.

Situações análogas ocorreram em lugares como China, Camboja, Vietnã, Coreia do Norte, Cuba e países do Leste Europeu. Qualquer pessoa que se diga comunista, portanto, está fazendo política sobre uma montanha de cadáveres.

Além da pena de morte, houve regimes socialistas especializados em transformar a vida das pessoas comuns em um inferno. Esse era o caso da Alemanha Oriental, oficialmente chamada República Democrática da Alemanha. Ali existia a Stasi, polícia política cujo lema era “A espada e o escudo do Partido” (em alemão, Schild und Schwert der Partei.) 

O próprio estatuto da Stasi a definia como um instrumento de lealdade incondicional ao Partido governante: “Na sua função de escudo, a Stasi deve afastar todos os ataques ao governo socialista. Na função de espada, a Stasi deve destruir agressivamente tudo que se interpõe no caminho do Partido e dos seus objetivos políticos”.

Como se vê, a Stasi não conhecia limites. Em 1989, quando caiu o Muro de Berlim, a polícia secreta tinha a seu serviço 91.015 agentes especiais. Como a população da Alemanha Oriental era de 16 milhões, isso significava um espião da Stasi para cada 175 habitantes. 

Os “hackers” comunistas da época utilizavam todos os meios possíveis para espionar os cidadãos: escutas telefônicas, violação de correspondências, instalação de câmeras e gravadores nas residências, cooptação de familiares e amigos das vítimas. Para a Stasi, inexistia a vida privada. Tudo era interesse do Partido Comunista. 

De posse das informações coletadas, a Stasi montava um perfil político e psicológico de cada cidadão. Caso a pessoa tivesse opiniões contrárias ao Partido ou aos líderes comunistas, os agentes utilizavam as mensagens pessoais em armas para atormentar a vida do sujeito. Essa técnica, que sempre envolvia a falsificação do material obtido ilegalmente, chamava-se “Zersetzung” — decomposição.

Na Tchecoslováquia não era diferente. Estou lendo, com grande interesse, o livro “Cartas a Olga”, que reúne a correspondência do dramaturgo Vaclav Havel para sua esposa de 1978 a 1983, período em que ficou preso por “crimes contra o Estado socialista”. Condenado a trabalhos forçados, Havel passou por diversos problemas de saúde na prisão e foi transformado em uma não-pessoa. 

O crime do escritor tcheco consistiu em participar da criação de um Comitê de Defesa dos Injustamente Processados. Foi isso mesmo que vocês sete leram: Havel foi condenado a uma morte em vida por questionar perseguições judiciais em seu país. O detalhe é que, meses depois da condenação de Havel, seu advogado foi preso. 

Todos os reféns do 8 de janeiro vivem hoje a mesma situação no Brasil. Sem terem cometido crime algum — a não ser, em raríssimos casos, o crime de depredação — eles foram condenados a uma morte em vida por questionarem o golpe socialista de 2022. Muitos desses presos políticos estão e correm o risco de ter o mesmo destino de Clezão (tenho aqui uma lista deles).

Quase todos estão em depressão e perderam dezenas de quilos, tornando-se sombras do que eram, como ocorria com os internos dos campos de concentração. Nenhum deles oferece o menor risco à sociedade. 

Quando Hugo Motta se nega a colocar em votação o PL da Anistia, ele está sendo cúmplice dessa sentença de morte em vida decretada contra brasileiros comuns e inocentes, cujo único azar foi ter acreditado na liberdade de pensamento e manifestação.

Eles querem a nossa morte em vida, mas não a terão. 

E eu digo isso com base na história. Dez anos depois de ser preso, Vaclav Havel se tornou presidente da Tchecoslováquia. Cedo ou tarde, algo semelhante irá acontecer no Brasil. Quero estar vivo para ver com os meus próprios olhos.

3 pensou em “A PENA DE MORTE E O 8 DE JANEIRO

  1. Eu sou o resultado de meus próprios atos, herdeiros de atos; atos são a matriz que me trouxe, os atos são o meu parentesco; os atos recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mal, eu dele herdarei. Eis em que deve sempre refletir todo o homem e toda mulher.
    https://kdfrases.com/frase/138232

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