A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal …
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias …
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve … ninguém vê … ninguém …
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
A dor da Florbela era algo tão especial que não era uma dor qualquer, era a Dor, assim mesmo em letra maiúscula, como uma entidade superior.
Não sei se Florbela chegou a viver de verdade em um, porém compara sua Dor a um convento, onde estabeleceu sua morada da alma.
Pois para ela o convento é um lugar triste, frio, sombrio; o que foge totalmente da realidade.
Conventos são lugares onde o silêncio reina para haver oração com entrega pessoal e total a Deus.
Afora as narrativas, ninguém vai a um convento obrigado e ali fica preso. Não é assim que funciona.
Florbela sofria de depressão profunda, isso é um fato. Retratava esta realidade dentro de seus versos e usava figuras de linguagem para isso.