PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal …
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias …

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve … ninguém vê … ninguém …

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

Um comentário em “A MINHA DOR – Florbela Espanca

  1. A dor da Florbela era algo tão especial que não era uma dor qualquer, era a Dor, assim mesmo em letra maiúscula, como uma entidade superior.

    Não sei se Florbela chegou a viver de verdade em um, porém compara sua Dor a um convento, onde estabeleceu sua morada da alma.

    Pois para ela o convento é um lugar triste, frio, sombrio; o que foge totalmente da realidade.

    Conventos são lugares onde o silêncio reina para haver oração com entrega pessoal e total a Deus.

    Afora as narrativas, ninguém vai a um convento obrigado e ali fica preso. Não é assim que funciona.

    Florbela sofria de depressão profunda, isso é um fato. Retratava esta realidade dentro de seus versos e usava figuras de linguagem para isso.

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