JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O “arado” usado durante anos pelo meu Avô

Ainda criança, aprendi com os meus avós: “plantar sempre as sementes da bondade e da honestidade, regando com o suor e com o pranto, que o fruto receberá o nome de dignidade.”

Cedo, meus avós, sem doutorado, me ensinaram a amar a Terra, único lugar de produzir alimento. Cedo, aprendi a usar a enxada para capinar a roça. Cedo, aprendi a semear, regar e colher o fruto. Cedo, aprendi que a divisão do que a Terra nos dá, nada mais é, que uma multiplicação.

Tudo que for semeado frutificará. Até a maldade. Como se fora um pé de bumerangue.

João Buretama (uma corruptela de Uruburetama, local de nascimento dele), me ensinou o manejo da enxada na roça, o perigo do mau uso e o benefício do uso correto.

Foi com ele que aprendi, que, “a sombra, nem sempre é coisa boa”. Descansa, mas também pode acomodar.

Minha Avó, Raimunda Buretama (resolveu e aceitou usar a corruptela do nome do meu Avô como sobrenome), me ensinou que a semente (qualquer uma), é o princípio da vida.

O arado com a tecnologia revolucionária da tração animal

Minha adolescência, diferente da de muitos outros jovens, foi naquele ambiente. Preparar a terra, semear, regar, plantar, cuidar da preparação para a colheita.

Os meus me ensinaram o que entendiam como “agricultura familiar”. Que será sempre aquela que, reúne todos os esforços no objetivo do plantio e, alegre, usufrui da colheita. Na minha roça, agricultura familiar pensa em primeiro plano no abastecimento próprio, da alimentação e da subsistência entre uma safra e outra.

Hoje, de forma equivocada, a agricultura familiar visa muito mais a negociação. Tá errado!

Primeiro a família, a alimentação farta na mesa. Em seguida, a preocupação com a armazenagem da semente para o plantio da próxima safra. Depois, aí sim, algum tipo de comercialização.

Lembro bem que, milho e feijão para plantar na próxima safra, eram selecionados e guardados em cabaças, cujas bocas eram “lacradas” com cera de abelhas para evitar as pragas.

A “sobra” era levada para as pequenas feiras na sede municipal. A troca dos produtos vinha em primeiro lugar. Trocar feijão por café em grãos, trocar milho por sal, trocar arroz por açúcar, rapadura.

A farinha todos produziam e estava sempre fora dessa negociação.

Legumes como batata doce, macaxeira, inhame, abóbora, entravam nas negociações.

Logo apareceram as pequenas “cooperativas”, que vendiam enxadas, gadanhos, arame farpado, foices, facões, cordas, querosene, fumo, creolina e mais uma infinidade de produtos. Toda a paga era feita a partir do lucro produzido pela sobra da agricultura familiar.

Agricultores da família conduzidos partes da colheita

Sabe-se que, neste ano de 2022, o Brasil já se aproxima dos 250 milhões de habitantes, o que conflita com a população brasileira dos anos 1950, por exemplo. Isso, provavelmente explica a inserção na vida de muitos, da indústria tecnológica na agricultura, principalmente com equipamentos que garantem “rapidez” em quase tudo.

Paralelo a esse crescimento – por extrema necessidade, diga-se – a criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) foi a cereja do bolo, principalmente na questão da produção de mais e mais alimentos – e aí viceja a exportação de produtos que vai além da “sobra”. Aquela que, no passado, levávamos para a troca nas feiras da agricultura familiar.

A Embrapa é hoje, sabe-se, a maior e mais eficiente empresa de pesquisas agropecuárias no mundo inteiro. Um orgulho brasileiro.

As atuais feiras de produtos da agricultura familiar

Mais que a quantidade colhida para alimentar (inicialmente) a família, garantir o semear da próxima safra, o que mais “frutificou” em mim, semeada ainda no tempo de criança, foi o amor à Terra. Isso sem esquecer o entendimento da importância dos bons invernos e, agora, da transposição das águas do Velho Chico. Agricultura sem água, é a mesma coisa que agricultura sem semente.

Ainda que entenda que a tecnologia e a maquinaria é importante (só para a produção em grande escala e geração de exportação), serei sempre favorável a convivência direta do homem (agricultor) com a Terra, produzindo e derramando suor para regar as sementes.

As máquinas são importantes e ajudam. Mas acabam por tirar milhares de oportunidades de “emprego”, além de propiciar o “desapego” pela terra.

Mesa farta graças à agricultura familiar

A agricultura familiar, desde muito tempo, é a garantia da mesa farta. É, também, a ponte para a autoestima e o entendimento do que realmente seja a “liberdade” das mesquinharias políticas e dos favores, que nada mais são que cabrestos.

4 pensou em “A “MINHA” AGRICULTURA FAMILIAR

  1. Parabéns aos produtores rurais, gente lutadora e de caráter, longe, muito longe dos pulhas sindicalistas e dos políticos socialistas/comunistas.
    O país apoia todos os produtores rurais e suas famílias!

    • Flavio, era assim mesmo. O que o homem digno fazia para criar a família, porque nunca aprendeu nem teve coragem de roubar do alheio. A terra seca era só poeira, mas a Fé que um dia a água da chuva chegaria, nunca acabou. Politicamente, qual a importância de quem fez “apenas” 80% da transposição? Quem fez “apenas” 20% e abriu as torneiras, tem muito mais valor. Fácil assim. Repito: esses instrumentos canalizavam o sangue, o suor e a dignidade do homem ao campo. A “máquina”, ajuda mas afasta!

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