Sem lei nem rei, me vi arremessado
bem menino a um planalto pedregoso.
Cambaleando, cego, ao sol do acaso,
vi o mundo rugir. Tigre maldoso.
O cantar do sertão, rifle apontado,
vinha malhar seu corpo furioso.
Era o canto demente, sufocado,
rugido nos caminhos sem repouso.
E veio o sonho: e foi despedaçado!
E veio o sangue: o marco iluminado,
a luta extraviada e a minha grei!
Tudo apontava o sol! Fiquei embaixo,
na cadeia que estive e em que me acho,
a sonhar e a cantar, sem lei nem rei!
Ariano Vilar Suassuna, João Pessoa-PB (1927-2014)