CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Em 17 de junho de 1962 o Brasil tornou-se Bicampeão Mundial de Futebol derrotando a Tchecoslováquia por 3 x 1 no Chile. Nesse mesmo dia, nascia o primeiro filho homem de João Simão. O comerciante tomou um porre homérico e deu-lhe o nome de Amarildo, homenageando o grande jogador da Copa 1962. Afinal um homem, depois de duas meninas. Amarildo foi crescendo e deu preocupação ao pai, era um menino diferente. Não gostava de futebol, nem das brincadeiras de meninos na Praça do Centenário, onde moravam numa bela casa. João Simão proprietário de dois postos de combustível, trabalhador, deu conforto e educação para a família. Ele tinha desgosto em Amarildo não gostar de futebol, comprou camisa do CSA, obrigava ao garoto acompanhá-lo aos jogos. Amarildo nem se incomodava se o time ganhasse ou perdesse. Na verdade João Simão tinha um pavor que o filho fosse “viado”, ficava triste com essa possibilidade. Adolescente, Amarildo andava de bicicleta pelas ruas do Farol com os amigos, contudo, era um rapaz bem comportado, não falava, nem se gabava de namoradas e mulheres. Até que um dia João Simão chegou em casa depois do trabalho e encontrou Laurinha, sua esposa, chorando. Quando ela contou que havia flagrado Luzia, a empregada, transando no quartinho dos fundos com seu jovem filho, Amarildo, João Simão deu um pulo de alegria, disse para mulher que deixasse de besteira e foi comemorar com amigos no botequim da esquina, ganhou alma nova. O fantasma da “viadagem” do filho que o atormentava há anos, desapareceu

Amarildo cresceu, sem fazer alarde era o “come quieto” da turma. Tinha uma namoradinha, que naquele tempo deveria ser virgem, mas gostava era de perambular, conquistando as jovens empregadinhas que vinham do interior atrás de melhorar de vida. Vez em quando frequentava a Boate de Mulheres do Rei da Noite de Maceió, o Mossoró.

Ainda era estudante na Faculdade de Economia quando seu pai morreu. Ele teve que assumir a administração dos Postos de Combustível. Com o tempo tornou-se um excelente comerciante. Comprava pequenos apartamentos na planta, quando terminava a obra, vendia o apartamento pronto pelo dobro. Entrou nesse negócio de compra e venda de imóvel, enriqueceu. Certo dia encontrou-se com Fátima, uma colega da Faculdade, saiu com a amiga algumas vezes, até que veio a notícia, ela estava grávida. Fátima era divorciada com um filho, não quis casar. Nasceu o Amarildinho. O pai fazia visitas esporádicas ao filho, aproveitava dormia com a amiga, sempre discreto, aquilo só interessava a ele. Até que conheceu Elizabeth, uma bela jovem, estagiária no escritório de seu advogado. Com um ano de namoro e muita paixão, se casaram. Amarildo, antes de casar confessou ter um filho de cinco anos, mas não havia relacionamento com a mãe. Elizabeth, muito bonita, trabalhadora e inteligente, ajudava nos negócios do marido. Ele gostava de se gabar que havia ganho dinheiro à custa de seu trabalho honesto, nunca havia feito negociatas com políticos e cofres públicos. Amarildo mesmo depois de casado, continuou com dois vícios: correr pela manhã e, vez em quando, sair com uma jovem, era um irresistível mulherengo, sem alarde, discreto.

Quando o marido completou 60 anos, Elizabeth preparou uma festa com a família e amigos mais íntimos. Amarildo bebeu demais e fumou bastante, contrariando ordens médicas, ele tinha um probleminha no coração. No dia seguinte Amarildo acordou-se com mal estar, vomitando. Para acabar a ressaca vestiu um short frouxo, uma camiseta, calçou o tênis e danou-se a correr em torno da Praça do Centenário. Já estava retornando à sua casa quando sentiu uma dor no peito, a vista escureceu, caiu no chão, infarto fatal. Foi uma choradeira geral no enterro de Amarildo, morte inesperada, tão jovem 60 anos. A família, algumas namoradas anônimas choravam de saudade.

Depois da missa de 30º dia, o filho mais velho entrou em contato com a mãe do seu meio irmão, para iniciar o inventário. Estavam reunidos no escritório do advogado os quatro filhos de Amarildo. Elizabeth, a viúva, não quis participar da reunião. Fátima apareceu acompanhada do filho, Amarildinho, e uma jovem em vestido simplório. O advogado informou que todos os bens iriam ser divididos conforme a lei: metade da viúva e a outra metade dos cinco filhos.

Foi quando Fátima interrompeu.

– Cinco não, são seis, tem um menino no bucho dessa jovem, minha empregada, ela afirma que o filho é de Amarildo. Peço fazer DNA quando a criança nascer para se habilitar à herança. Esclareço que essa jovem é faxineira, não dorme em minha casa e mora pelas bandas de Bebedouro.

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