CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Quando percebo que o momento exige humorismo de fato, vou ao meu arquivo de notas para escascavilhar e arranjar assuntos pouco visto pelos meus leitores do JBF.

Suspeita-se que há “anos-luz” houve compra de votos para aprovação da Emenda que permitiu a reeleição de FHC para a Presidência da República. O reeleito, todo risonho, defendeu-se de forma estranha, mas inteligente: “Certamente não fui eu o comprador! ”.

Quando Prefeito de Palmeira dos Índios, AL, o escritor Graciliano Ramos estabeleceu que cavalos, porcos e cabras não podiam mais andar soltos nas ruas da cidade. Em certa ocasião as vacas encontradas no passeio público eram do pai do escritor. O Fiscal informou constrangido, mas Graciliano ordenou, na hora: “Lavre a multa e remeta os animais a leilão. Prefeito não tem pai! ”

No dia 8 de dezembro de 1991, em Brest, os presidentes das repúblicas da Ucrânia e Bielo-Rússia assinaram um acordo revogando a entidade chamada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O grande derrotado teria sido Mikhail Gorbachev. Assim como houve “o último dos moicanos” ele se tornou o último dos soviéticos. Mas fez história!

Em tempo de defender as reformas políticas da Polônia o sindicalista Lech Walesa afirmou: “Não estou aqui para parecer Presidente, mas para sê-lo!”

Já que estamos vendo as barreiras rolarem por cima de Collor, vem à mente esta: “Os todo-poderosos devem tomar cuidado pois o Poder que tudo dá, também subtrai.” Mas não é bem assim, segundo o Primeiro-ministro da Itália, Giúlio Andreotti: “O Poder só desgasta quem não o tem!”

Em janeiro de 1993, o economista Mário Henrique Simonsen enumerou os quatro maiores erros da década: a Lei da Informática: O Plano Cruzado, a Constituição de 1988 e o Plano Collor.

Collor acabara de se separar de Rosane quando o trocadilhista e ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima fuzilou, comentando o Projeto de Entendimento Nacional: “Isso é coisa de Collor, que anda louco atrás de nova aliança. ”

Mas, por via das dúvidas, na mesma época, jornais publicaram que a matriarca dos Malta, D. Rosita, descartou logo qualquer possibilidade de divórcio: “Na família Malta não existem mulheres separadas. Só viúvas! ”

O Ministro Antônio Rogério Magri, ex-Ministro do Trabalho, não entendia porque tanto fuzuê da Imprensa apenas pelo fato de sua mulher haver levado numa Kombi do Governo, sua cadela Orca ao veterinário. E pipocou: Cachorro também é ser humano! ”

Só para atualizar algumas ideias presidenciais de hoje, lembro aos incautos endinheirados que o Plano Collor, deflagrado em março de 1990 confiscou valores de quem possuía mais de 50 mil cruzeiros no Over, nas Contas Correntes ou na Poupança. Um mendigo, na porta de famoso restaurante de São Paulo, castigou: ”Ô ricãos! Vocês num tão cum nada!”

Quando Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso expeliu suas qualidades de médico: “A inflação deu um soluço. – Quando a inflação espirra a gente dá aspirina para evitar que vire pneumonia. – O País está sofrendo de esquizofrenia. – A inflação é uma urticária.”

Sem essa de muito respeito em campanhas políticas, dizia o candidato a governador paranaense, Roberto Requião, em 1990: “Campanha de alto nível é pra candidato que tem rabo preso.”

A família do saudoso amigo ex-governador de Pernambuco, Nilo de Souza Coelho, poderosa e tradicional, inspirou o ditado, em 1990: “Aqui, quem não é coelho é couve! ” Anos antes Rosa e Silva havia soltado esta: “Em Pernambuco quem não é Cavalcanti com “te e ti”, é cavalgado.

E o candidato a se reeleger governador de Pernambuco, que era chegado a um joguinho de cartas nas madrugadas de palácio, mandou fazer uma faixa bem grande e fixou na principal avenida do Recife, respondendo a seu contendor que havia lhe criticado em uma entrevista: “Minha palavra é uma só! ”

Mas a Oposição, na madrugada seguinte, completou a frase com a palavra “baralho”, e a faixa ficou assim: “Minha palavra é uma só: Baralho”.

Fui biógrafo do advogado José David, um dos maiores criminalistas do Recife e, sendo jornalista, vi os fatos de perto, os quais publiquei em seu livro. O povão ficava até as madrugadas esperando a edição dos jornais para saber quem estava vencendo. Nesse tempo eram votos em papel. Uma trabalheira infame.

A campanha já nos finalmente, chumbo grosso pela Imprensa. Defensor ferrenho de Roberto Magalhães – que disputava com Marcos Freire o governo de Pernambuco – José David se arreta ao ver a manchete espalhafatosa dos esquerdistas do Diário de Pernambuco:

“É hora da virada de Marcos Freire! ”. Mas o candidato não chegava nem perto do concorrente. Vinha perdendo feio.

E eu lá, no salão do Clube Internacional do Recife, contando votos, sob requisição da Justiça Eleitoral, que sempre solicitava ao Banco do Brasil alguns dos seus funcionários.

No dia seguinte à manchete, Dr. José David compra num ferro-velho de Iputinga, uma Kombi, daquelas mais enfadada do que lata de construção, mete num guincho e despeja os “restos mortais” do veículo na frente do prédio do jornal: a Praça da Independência. Aquela presepada!

José David faz campana para saber a quantas andavam os números da apuração dos votos cuja contagem se encerraria de madrugada, a fim de se certificar da vitória de Doutor Roberto e completar sua comemoração.

Pela manhã aparece a Kombi tombada na praça e a faixa: “A virada de Marcos Freire!”.

Dr. Roberto se reelege. Dr. José David espuma de alegria.

3 pensou em “A GRAÇA DOS OUTROS

  1. Depois de ler e rir de tantas “graças” dos políticos, só lembrando de uma frase do saudoso Stanislaw Ponte Preta, com relação a eles os políticos: “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.”

  2. Caro Deco,

    Sua participação me anima a continuar, após os meus 87 anos nos costados.

    Peço licença para publicar o texto que me enviou, na próxima crônica sobre o assunto.

    Por aqui no Recife é chuva tipo dilúvio.

    Desculpe-me a demora na resposta e creia na minha amizade internética.

    Abração do

    Carlos Eduardo

  3. A GRAÇA DA PILANTRAGEM

    O gentil leitor que se assina sob o pseudônimo de Deco, colabora conosco trazendo uma graça interessantíssima, o que agradecemos.

    Depois de ler e rir de tantas “graças” dos políticos, só lembrando de uma frase do saudoso Stanislaw Ponte Preta, com relação a eles os políticos: “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento. ”
    Artistas e intelectuais se reuniram para malhar a arte. Mas Arnaldo Jabor não deu trégua aos “críticos”: “Antes os burros se encolhiam pelos cantos, se esgueiravam tímidos do próprio analfabetismo. O burro hoje trepa num caixote e grita: “Eu sou uma besta. Logo tenho razão!” E é logo cercado por u’a multidão de: bestas que o aplaudem.

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