JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Olhos que falam mais que a boca

“Ela é a dona de tudo
Ela é a rainha do lar
Ela vale mais para mim
Que o céu, que a terra, que o mar

Ela é a palavra mais linda
Que um dia o poeta escreveu
Ela é o tesouro que o pobre
Das mãos do Senhor recebeu”

A camarinha tinha apenas uma porta. A de entrada. Quatro redes armadas, todas com aquele véu que cobre os berços dos de poucos dias de nascidos, com o objetivo de dificultar a vida dos pernilongos aqui, e, muriçocas acolá.

Na “boquinha da noite”, casa sem televisão, a bagunça era inevitável. Debaixo das redes dos mijões noturnos, uma bacia em cada uma, pretendia evitar a urina no piso de tijolo sem lustre – a modernidade não havia chegado.

A porta da camarinha se abre. Silêncio total, sepulcral. Alguns até fingiam “roncar” – sempre os mais travessos. Todos dormiam ou fingiam. Era a “mãe”.

A mãe, naquele momento, fingia que acreditava que todos dormiam. Ninguém dormia. Mas, a bondade da mãe, o carinho, e o zelo de verificar cada véu de cada rede, funcionava com se sonífero fosse.

Mãe, acreditem, faz milagres. Tudo checado, tudo certo. A lâmpada do quarto é apagada. A porta é fechada…… e, naquela camarinha ou em qualquer cômodo com beliches, a bagunça recomeça.

A noite é curta, apenas para a mãe, que precisa acordar e levantar para o café do marido e a diária e rotineira arrumação dos lanches que todos levarão para a escola – ainda não é tempo para a emissão do cartão de crédito. Melhor levar o lanche caseiro preparado com esmero e carinho. Coisas de mãe.

Mãe. A mãe. A dona de tudo, que se divide em quantas forem necessárias.

Dia claro, a porta da camarinha se abre. Dos quatro filhos, apenas três estão acordados. O caçula ainda não acordou. A mãe tenta despertá-lo…. mas, percebe algo de anormal. Leva a mão à fronte!….. febre alta! Deus dos céus!

Enquanto o marido sai para o trabalho e, não podia ser diferente, leva os meninos para a escola. A mãe se multiplica. Se divide entre as tarefas da casa e o cuidado com o filho: a divisão cede espaço para a multiplicação. É a mãe!

O marido chega para o almoço. Os meninos que foram à escola, também chegam.

A mesa está posta. Os meninos que foram à escola, tomam banho. Um de cada vez. O almoço está servido.

E……. a febre baixou! Mãe é mãe!

O marido volta ao trabalho. Os meninos descansam após o almoço.

A mãe, só agora é hora do banho e do almoço. Tudo rápido, pois os meninos precisam ser acompanhados nas tarefas escolares, no banho da tarde……. e o jantar precisa ficar pronto.

Mãe!

Mãe?!

Hoje, comemoramos o “Dia das mães”!

Alguns, que deveriam ter sido “abortados” agradecem o zelo, a preocupação e o amor, levando as mães para um asilo.

Esses, são os verdadeiros “filhos-da-puta”!

O sofrimento e o amor expressados pelos olhos

DEDICATÓRIA: Minha mãe, faz algum tempo não está entre nós. Com certeza, ao lado de tantas outras mães, está nos “espiando”, vigiando a bagunça que cada um de nós está fazendo. Com ou sem febre. Ao lado do Pai Eterno, como uma estrela maior, continua nos apontando o bom caminho – Assim, esta pequena crônica é dedicada a ela e todas as que estão no mesmo plano. E, claro, as que continuam se multiplicando para desempenhar o melhor papel que Deus lhes confiou.

4 pensou em “A ETERNA DONA DE TUDO

  1. Eita José.
    Antes de mais nada, meus parabéns pelo seus 81 litros de gasolina no Posto Esso da vida.
    Linda história.
    Não haveria palavras mais bem postas que as suas para se referir às mães. A sua, igual a milhões de outras mães do mundo, são, simplesmente, mães, e não precisam de nenhum outro adjetivo: os anjos que Deus pôs na Terra para nos amar sem cobranças. Seus olhares, suas mãos, seus braços, são todos cheios de amor. Valeu. Bom dia, um grande abraço.

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