CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Cícero ficou radiante ao conseguir emprego na transportadora de valores, passado o período de capacitação, deram-lhe fardamento, armamento e logo iniciou seu trabalho com atenção e medo de assaltantes. Ao retornar em seu bairro, fardado, sentia-se o próprio coronel de Polícia, até brigas e pendengas entre moradores ele era consultado. Comprou uma moto barata de segunda mão, em cujas prestações escorriam metade de seu salário. Numa festa conheceu Alzira, jovem, 18 anos; apaixonou-se, namorou, engravidou e casou-se. Foram morar numa casa alugada de porta e janela, perto do sogro, onde nasceu Geraldo. Cícero não deixou Alzira trabalhar para cuidar do menino, comiam na casa do sogro no bairro do Clima Bom.

Passaram-se seis anos, o casal sobrevivendo, até que Cícero deu para beber, vivia reclamando da vida, comportamento estranho, deixou de procurar a esposa na cama, ela que gostava tanto da vadiagem. Nessa época Alzira havia arranjado um emprego de doméstica na casa de um ricaço. Limpava, lavava, passava e cozinhava. Melhorou sua situação econômica, Geraldo estudando, entretanto, a cachaça e o distanciamento do marido entristecia a bela Alzira. Certa tarde ela apanhou o filho mais cedo na escola, estava febril, ao chegar em casa percebeu a moto de Cícero, entrou e teve a maior surpresa de sua vida. Ao abrir a porta do quarto, o marido abraçado, se pegando com um rapaz conhecido no bairro. A maior decepção, humilhação e traição que uma mulher pode ter. No mesmo dia expulsou o marido de casa, chorou a noite toda. Levantou-se de madrugada, olhou-se no espelho, prometeu a ela, recuperar sua vida, tinha o amor de Geraldo para lhe dar força.

Com um ano de separação a dor amenizou. Alzira, bonita, assediada por muitos homens, preferiu, embora gostasse tanto do amor, fechar-se, não queria outro homem por enquanto. Até o patrão rico mostrava uma queda pela bela empregada, ela fingia não entender as insinuações.

No dia que Arnaldo, o patrão, completou 67 anos teve um derrame, uma tragédia na casa de Dona Geruza. Ela e os dois filhos deram a assistência devida no hospital. Ao voltar para o luxuoso apartamento, Arnaldo precisou de uma enfermeira para ajudar no banho, no vestir-se, o empresário falava um pouco enrolado, mas, dava para entender, o que queria. Cismou com as enfermeiras, toda semana trocava de assistente. Certo dia na falta de enfermeira, Alzira ajudou Arnaldo a tomar o banho de banheira, enxugou-o, vestiu-o. O velho ficou surpreso com a delicadeza, a suavidade de gestos da empregada, gostou daquele cuidado, disse que Alzira havia nascido para cuidar de idoso. A partir daquele momento só chamava pela empregada, durante todo dia, inclusive no banho de sol em cadeira de roda, só queria a jovem bonita.

Alzira dava conta da casa e do patrão, ficou muito cansativo, inclusive em suas folgas sábado à tarde e domingo era chamada com urgência, Arnaldo só queria a assistência da enfermeira improvisada. Quando Alzira se recusou a trabalhar à noite e nos dias de folga, foi um Deus no acuda, Dona Geruza entendeu, seu marido, não só gostava do tratamento de Alzira, ele estava encantado pela jovem. Dona Geruza foi de uma grandiosidade extraordinária só encontrada nas grandes mulheres. Entrou em um acordo com a empregada. Propôs Alzira morar em um de seus apartamentos perto da sua casa, pagaria a escola de Geraldo e aumentava o salário, desde que ela desse maior dedicação em seu tempo a Arnaldo. Alzira só não abriu mão das noites com seu filho e sua folga aos domingos, assim ficou acertado. O bom salário e o colégio de Geraldo pago, compensava.

Hoje, aos 70 anos Arnaldo melhorou bastante sua mobilidade, Alzira foi treinada a aplicar certos exercícios. O velho, com o tempo, está mais conformado com a situação, tem em casa uma mulher que o apoia, dois filhos que tomam conta de seus negócios, e uma cuidadora competente, suave, cuja delicadeza ameniza o sofrimento do enfermo.

Uma vez na semana Dona Geruza vai às compras no Shopping, é dia do banho prolongado. Arnaldo passa a tarde com a gentil Alzira trancados no banheiro, os dois dentro da banheira, água morna. Ela o massageia em todas as partes e buracos do corpo, as partes íntimas deixa por último, sua mão de ouro faz milagres, bem devagar, suave, sensual. Arnaldo adora.

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