VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Anos atrás, na Igreja Matriz de uma capital nordestina, o padre começou a celebrar a Missa das 7 horas da noite do domingo, falando mal da politicalha que assolava o País. Isso desagradou aos presentes, na sua maioria petistas. E seu vozeirão ecoou aos quatro cantos do templo:

– Irmãos, estamos hoje aqui, reunidos para falar dos “Fariseus”, esse povo mentiroso e corrupto, que está acabando com a economia do nosso País!

– Virgem Maria!!! Foi o murmúrio generalizado que ecoou na Igreja.

Os petistas saíram xingando o padre, e houve bate-boca na porta da Igreja. O prefeito, indignado, foi falar com o padre na Sacristia, ameaçando-o de requerer ao Bispo a sua remoção daquela Diocese, se ele continuasse a falar mal dos políticos, na hora do Sermão.

– Padre, pega leve! Os petistas são sindicalistas e funcionários públicos que ganham bem. Gastam na lojas, e, nos restaurantes e colaboram com a coleta da Igreja. Não agrida os políticos! Isto é uma ordem! Não ponha a Prefeitura em situação difícil!

Durante toda a semana, na cidade não se falou de outra coisa, senão do padre e do Sermão do domingo. Aquele zum-zum-zum todo deixou as pessoas curiosas, para saber como seria o sermão do domingo seguinte.

É bem verdade, que uma parte da cidade estava até satisfeita, pois, muitos moradores não morriam de amores pelos petistas.

Finalmente, chega o novo domingo, o prefeito vai à sacristia e recomenda:

– Padre, o senhor lembra da nossa conversa? Por favor, não arrume nenhuma encrenca hoje, certo?

Começa a missa e o padre chega ao sermão:

– Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: “Maria Madalena”. Aquela mulher, a prostituta que tentou seduzir Jesus, como essas ativistas desgraçadas, do sovaco cabeludo e mal cheirosas, vagabundas, mentirosas, corruptas e ladras que estão aqui.

O Padre mal acabou de falar, não deu outra!!! Pancadaria na igreja, atendimentos no Pronto-socorro da cidade, e o prefeito, novamente, foi ao encontro do padre:

– Padre, pelo amor de Deus! O senhor não me disse que ia pegar leve? Olha, eu também não morro de amores por esses petistas, eles são complicados, tem uns probleminhas, são ignorantes, prepotentes, não tem nenhuma ética etc, mas se o senhor não parar com isso, vou ter que pedir ao Bispo a sua retirada da paróquia.

Naquela semana, o zum-zum-zum foi maior ainda. O papo era só o sermão e ninguém perderia a missa do próximo domingo, nem por decreto! Na noite do domingo, a Igreja parecia final de Campeonato Brasileiro : Muita gente em pé, pois faltou lugar para sentar.

Antes da Missa, o prefeito entrou na sacristia, acompanhado pela polícia e, mais uma vez, advertiu o Padre:

– Padre, pegue leve, senão o senhor vai preso!

A igreja estava lotada. Todos querendo ver “o circo pegar fogo”. Quase não se conseguia respirar de tanta gente. Pessoas que há anos não pisavam na igreja, no domingo estavam lá, com terços e santinhos nas mãos, parecendo super devotas.

Quando o padre apareceu, houve uma tensão generalizada, com cochichos espalhados pelos quatro cantos.

Aparentemente calmo, o Padre começou a falar:

– Irmãos, estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais importante da vida de Cristo: “a Santa Ceia”.

– Jesus, naquele momento disse aos apóstolos:

– Esta noite, um de vocês me trairá!

Então, João perguntou:

– Mestre, serei eu?

E Jesus respondeu:

– Não, João, não será você.

Então Pedro perguntou:

– Mestre, serei eu?

E Jesus respondeu:

– Não, Pedro, não será você.

E então, Judas, aquele desgraçado, vagabundo, mentiroso, corrupto e ladrão, que estava vestindo uma túnica toda vermelha, perguntou:

– Cumpanhêro, é eu?

-Tu o dizes! – Respondeu o Mestre.

E a pancadaria comeu solta … !

10 pensou em “A CONFUSÃO

  1. Violante.
    Excelente texto….para desanuviar uma sexta-feira com volta ao trabalho depois de 30 dias fazendo absolutamente nada.
    Parabéns pela alegria e pelo riso que me provocou.

  2. Cara Violante bela crônica.

    O fato se deu na igreja Matriz de uma capital do NE. Pode ser qualquer uma, pois o enredo se encaixa.

    Aqui em SP – Capital, na Arquidiocese ocorre exatamente o contrário, os padres é que são comunistas. Pregam contra aqueles que trabalham e geram emprego.

    Só que os fiéis aqui ficam quietos a rezar ou saem das igrejas, como eu aqui em Rib. Preto para não passar raiva ao ouvir a ladainha comunista.

    Voltando para SP – Capital, o bispo de lá está preocupado em encobrir as mazelas de padres comunistas pedófilos.

    A Igreja Católica passa por cisma nunca antes visto.

    Bom FDS.

    • Obrigada pelo comentário gentil, prezado João Francisco!
      Essa cena poderia ter ocorrido em qualquer paróquia do País, principalmente agora que o clero abriu o jogo e não funciona mais como eminência parda. Já passou até dos limites, haja vista os escândalos expostos pela mídia. Até o Papa “deu o grito de independência ou morte”, e afronta o povo, com suas ideias de vanguarda.

      Grande abraço e bom final de semana!

  3. Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Roque! Sua presença valoriza este espaço!
    Um texto leve e bem-humorado faz bem à saúde…rsrs
    Desejo a você um maravilhoso final de semana, com muita saúde, alegria e Paz!
    Grande abraço!

  4. Violante,

    Meus parabéns por uma crônica atualíssima nesses tempos em que a religião extrapola seus limites. A separação entre Igreja e Estado é um dado das atuais democracias. Ela é, sem dúvida, uma das condições mais importantes para que haja tolerância religiosa em uma comunidade política. A possibilidade da separação dessas duas comunidades foi um dos objetos de maior discussão do século 17.

    Religião e política são dois assuntos polêmicos. Quando os dois universos se juntam, as discussões podem ser ainda mais intensificadas. Entretanto, existe uma grande participação de pessoas atreladas à religião, especialmente, evangélicos na vida política do país.

    A princípio, não há problemas em pessoas religiosas se envolverem na política, desde que haja o respeito ao estado democrético de direito e às leis vigentes. Além disso, deve-se respeitar a laicidade do Estado e não impor ou transferir para o governo ideais e valores que são particulares, como os da vida religiosa.

    Concluo minha reflexão afirmando que o Brasil é um Estado laico, não ateu – ou seja, não proíbe práticas religiosas em seu território. Assim, todas as religiões devem ser respeitadas e seu exercício permitido. Os governantes, desse modo, têm o direito de praticar suas crenças individuais na esfera privada.

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria!

    Aristeu

    • Obrigada pelo excelente comentário, prezado Aristeu!
      Gostei imensamente da sua reflexão!
      Realmente, o Brasil é um “Estado laico, não ateu – ou seja, não proíbe práticas religiosas em seu território.”
      Diz o ditado: “Cada macaco no seu galho”. Acho que política e religião não devem se misturar. Entretanto, os tempos atuais nos mostram exatamente o contrário, a começar pelo Papa Francisco, a quem respeitamos como representante de Cristo. Além de demonstrar suas preferências políticas, o Papa tem tomado posicionamentos de vanguarda, o que tem provocado polêmicas.

      Desejo a você também, um final de semana pleno de paz, saúde e alegria!

  5. Violante,

    Este é um daqueles textos que Berto deveria colocar em destaque na semana que antecede TODOS os pleitos eleitorais nesta nossa querida Banania.

    Um ótimo final de semana a todos que ficaram fãs do padre arretado.

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