Nem sei se apagaram a luz. Sei que foi fechada a última livraria que havia naquele Shopping grandão. O que há mais lá pra se fazer se minha motivação era exclusivamente sentir o cheiro dos livros? Não me interessava a imensa loja de utilidades domésticas, geladeiras e TVs, nem o box no corredor que exibia smartphones e outros utensílios de informática, tampouco a lanchonete com nome em inglês e que vendia hot-dogs que encantam as crianças. Interessava-me, tão-somente, aquela livraria. Os encontros que eu marcava em frente aos livros, onde acontecerão? E em que ambiente compartilharei minhas experiências literárias? Meus versos, livres, uns, e algemados, outros, desencontrados de lógica às vezes, se perderão nos corredores frios do shopping imenso. Minhas rimas vagarão entre as vitrines coloridas dos magazines, descerão pela escada rolante e se perderão no estacionamento amplo e lotado de carros, vazio de poesia. Resolvido: não mais irei ao Shopping e preservarei minhas palavras, beberei minhas rimas no bar da esquina, guardarei minhas frases e largarei no ar apenas as reticências … Vírgulas, as deixarei penduradas na porta daquela que já foi livraria e um ponto final restará sob a placa um dia luminosa que indicava ali ter existido uma casa de livros. A casa está vazia e não se sabe onde se esconderam as letras. Lá, não mais estão.
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É um prazer danado ler a prosa perfeita desse grande pensador que é o grande Xico Bizerra. Aqui está mais uma prova. Maravilha.
Mestre Xico,
Na casa onde moravam estão vaziando seus sentimentos, que só por meio das palavras podemos expressar alegria e amor.
Carolina Maria de Jesus, a favelada da favela Canindé (Sampa), dizia que só se realizava quando a barriga estava cheia, uma caneta na mão para expressar os sentimento dos favelados, e os livros que ela catava no lixão organizados na sua instante de papelão.
Não há mais livrarias. Não há mais livros, não há mais papos nos corredores da Alfândega.
A tecnologia acabou com esse sonho? Ou o tempo passou e a gente não viu?
Abraçaço, estimado poeta. Xêro em Bernardo, em Leonardo e em Vinícius. Quem sabe eles não provoquem uma revolução literária que nos faça não sentirmos saudade?
Obrigado ao cumpade Ciço, sempre inspirado, e ao Mestre José Paulo, meu lisboeta com sotaque pernambucano preferido. Me deixa orgulhoso suas amizades e seus comentários. Só espero que lá onde moravam os Livros não se instale uma loja de vender armas, para contrariar minha filosofia de vida atual: EU ME ARMO DE LIVROS E ME LIVRO DE ARMAS.
Belíssimo texto, grande poeta Xico Bizerra! Um verdadeiro poema em prosa!
Nenhuma tecnologia será capaz de nos fazer esquecer o cheiro dos livros, o prazer de manusear suas páginas, nem, tampouco, a satisfação de caminhar entre as prateleiras de uma livraria.
Adorei a frase “EU ME ARMO DE LIVROS E ME LIVRO DE ARMAS”.
Grande abraço!