PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Poeta da saudade, ó meu poeta qu´rido
Que a morte arrebatou em seu sorrir fatal,
Ao escrever o Só pensaste enternecido
Que era o mais triste livro deste Portugal,

Pensaste nos que liam esse teu missal,
Tua bíblia de dor, teu chorar sentido
Temeste que esse altar pudesse fazer mal
Aos que comungam nele a soluçar contigo!

Ó Anto! Eu adoro os teus estranhos versos,
Soluços que eu uni e que senti dispersos
Por todo o livro triste! Achei teu coração…

Amo-te como não te quis nunca ninguém,
Como se eu fosse, ó Anto, a tua própria mãe
Beijando-te já frio no fundo do caixão!

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

Um comentário em “A ANTO! – Florbela Espanca

  1. Este Anto refere-se provavelmente ao poeta português António Nobre (1867 – 1900).

    Ele foi ainda em adolescente alcunhado de Anto, redução de António, por uma preceptora inglesa sua. Ele assumiu a alcunha, e o seu mais famoso livro, “Só” (1892).

    Florbela, que vivia solitária em seus sentimentos, Leu o livro e amou o Anto como se fosse a mãe do poeta o beijando frio no fundo do caixão.

    Não conviveram, mas tinham uma ligação forte, como mostra o Soneto

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