JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O passado me faz bem. Gosto muito do meu passado e os sofrimentos da infância no seco sertão do Ceará serviram como limadores rítmicos e polidores da minha (nossa) vida.

O que nos machucou na juventude, também já entrou no livro dos acasos e dos incentivos para vencer na vida, sem tergiversar ou prejudicar o próximo.

Aprendemos, no passado e com o passado, a respeitar o próximo (e até o adversário, caso exista), e se necessário, conviver com ele de forma harmoniosa e sem rancor.

Por ter me proporcionado felicidade, o passado me faz bem. Gosto do passado, e das coisas do passado – tanto que devo seguir o conselho matuto de Jessier Quirino e arrumar as malas para viver em Pasárgada. Vou-me embora para lá.

Hoje resolvemos falar um pouco de duas profissões tão importantes num passado não tão distante, que o tempo e o modernismo atual estão destruindo, mandando-as para o “Asilo dos Velhos e Imprestáveis”.

Quero falar do Alfaiate e do Sapateiro.

“O único homem que eu conheço que se comporta sensatamente é o meu alfaiate; ele toma minhas medidas novamente a cada vez que ele me vê. O resto continua com suas velhas medidas e espera que eu me encaixe nelas”. George Bernard Shaw

Nossa mania brasileira de arrumar dia para toda profissão, determinou que, o dia 6 de setembro sempre foi dedicado ao Alfaiate.

Recorri profissionalmente a um Alfaiate, depois de adulto e quando passei a comprar tecidos para fazer roupas. Durante os anos que morei no Rio de Janeiro, por conta do clima frio ao qual não estava acostumado, me habituei a comprar tecidos na loja R. Monteiro, a maior do ramo, que funcionava na Rua Uruguaiana – recentemente voltei ao Rio e não encontrei mais a loja.

Antes, todas as roupas (não havia o hábito de comprar roupas feitas nas lojas) que usei foram feitas por Costureiras. Me senti realizado quando, pela primeira vez precisei ir ao Alfaiate, para que ele “pegasse minhas medidas”. Me senti mais realizado, ainda, quando fui pela primeira vez “provar” uma roupa feita pelo Alfaiate.

Pois, no modernismo de hoje, lamentavelmente, começamos a perceber que o Alfaiate está sumindo. Está deixando de ser a profissão respeitada que sempre foi, com a qual muitos pais mantiveram honestamente suas famílias.

Alfaiate

A outra bela e nobre profissão é a do Sapateiro. Sempre foi o Sapateiro quem moldou nossos sapatos para que não sofrêssemos tanto com os joanetes. Da mesma forma, sempre foi o Sapateiro que, batendo martelo num pé-de-ferro, botou “meia sola” ou “sola inteira” nos nossos sapatos, quando nossos pais não podiam comprar um novo par – e quando ainda não havia o Vulcabrás 752 ou os sapatos descartáveis de hoje.

Os sapateiros sempre trocaram as “virolas” dos sapatos femininos, trocando saltos, recolocando peças que contribuíram definitivamente para a beleza e elegância femininas.

O dia 25 de outubro, é o “Dia do Sapateiro”.

Sapateiro

5 pensou em “PROFISSÕES – SERÁ QUE EVOLUÍMOS?

  1. A minha família paterna tradicional na arte da sapataria.
    Meu pai depois que voltou do exército, em 1957, entrou no ramo pela Sapataria de Zeca Marques, seu tio.
    Depois já casado, em 1963, produzia suas peças em casa mesmo, tendo se especializado em chuteiras e chinelas de dedo.
    Em 1965 os calçados de borracha invadiram de vez o mercado, com preços imbatíveis.
    Papai arrumou um emprego na algodoeira e se fechava o ciclo de sapateiros na família, com Tio Zeca comprando uma granja e fechando o negócio no centro de Acary.
    Pelo lado de mamãe dois tios meus, Cipriano e Mário Velho Sapateiro, também eram da arte.

    • Jesus, a invasão do Vulcabrás e do Passo Doble mudou muita coisa. Lembro que eu calçava 38 e meu pai (o Governo nunca nos deu porra nenhuma – nem a nós nem a ninguém) comprava um par da pontuação 40. Ele sabia e esperava que durasse séculos aquele sapato. Existia um modelo com cadarço e outro sem, tipo esportivo. O Liceu aceitava (e até recomendava) o com cadarço. Em casa, acabou-se aquela meia-sola, sola inteira ou apenas o salto. Essas coisas simples e práticas fizeram a nossa vida diferente da atual geração. O Vulcabrás engraxado no domingo, se chovesse na segunda-feira, recomendava a “galocha”!

  2. Pingback: A ARTE DA SAPATARIA | JORNAL DA BESTA FUBANA

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