O tempo do amor sincero e verdadeiro. Respeitoso, cordial, honesto e, principalmente, recíproco.
O namoro era na porta da casa da moça – muitas vezes sob os olhares dos pais. O beijo na boca não era prova de amor. Era a assunção do compromisso de casamento. Diferente dos dias atuais.
Talvez fosse esse procedimento que tornava o casamento duradouro e sem os problemas atuais que acabam em separação com pagamento de pensão alimentícia, ou até em feminicídio.
Long play de vinil
O compromisso sério recebia as bênçãos dos pais. Dos pais da jovem e dos pais do jovem – era, por assim dizer, o primeiro compromisso de união familiar.
O noivado era um acontecimento digno de festejo: precisava do consentimento dos pais da jovem, que recebiam a visita dos pais do jovem – quando acontecia o “pedido de noivado e de futuro casamento”.
Tudo mudou. E, entendo, mudou não para mais moderno. Mudou para a inexistência de compromisso e de união familiar. Os pais, tanto da jovem quanto do jovem, quase nem são avisados. São surpreendidos com a visibilidade da gravidez.
Mas, o que marcava mesmo, nos anos 50, 60 e 70, era a paixão. A forma de se dizer e mostrar apaixonado. “Arriado os quatro pneus”, como se dizia, principalmente, nas cidades interioranas.
E a mais contundente forma de mostrar paixão, era fazer uma “Serenata”. Os que amavam faziam serenata – e a jovem até incentivava, ainda que temesse a reação do pai. Mas, a mãe, ficava sempre do lado da filha, usufruindo do romantismo.
“Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram
Tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou
São meus os teus lábios
Estes lábios que os meus desejos mataram
São minhas as tuas mãos
Estas mãos que as minhas mãos afagaram
Sou louco por ti
Eu sofro por ti
Te amo em segredo
Adoro teu porte divino
Pela mão do destino
A mim tu vieste
Tenho ciúme do sol, do luar, do mar
Tenho ciúme de tudo
Tenho ciúme até
Da roupa que tu vestes.”
Orlando Dias
Compact disc de vinil
Eu fiz seresta. Muitas vezes. Eu amei e fui apaixonado, também, com os quatro pneus arriados. Nunca tive problemas noturnos, com as namoradas ou com os pais delas. Sempre andei (e fiz serestas) com amigos – não ficava bem, entendia, varar a noite fazendo seresta, andando só.
Entendia eu que, naqueles anos, Orlando Dias, Agostinho dos Santos, Moacyr Franco e Altemar Dutra eram os mais apreciados ao mesmo tempo que os Beatles e os Rolling Stones.
“Tu és o maior amor
Da minha vida
Tu és uma estrela
Guiando os meus passos
Nas horas tristes
Nas horas mortas, minha querida
Tu és o maior amor
Da minha vida
Enquanto existir lá no céu
Uma estrela brilhando
E o Sol no infinito
Teu rosto queimando
Tu serás a luz
A iluminar o meu caminho
Tu serás querida o maior amor
Da minha vida”
Radiola portátil movida à pilha
Programávamos o dia e a hora de sairmos para a serenata na casa da namorada. Sempre pela madrugada. Separávamos os vinis e os cantores. Diferente de hoje, que tudo é levado num pendrive.
A radiola era separada, limpa e lubrificada. Pilhas novas. Tudo pronto – e a paixão se renovava e o namoro se comprometia. Acabava sempre em casamento.


