VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Um neto de um conhecido político do Rio Grande do Norte se surpreendeu ao chegar ao seu gabinete em Brasília e encontrar na parede uma enorme tela que retratava um sapo barbado, de paletó e gravata.

Perguntou ao avô a razão daquela decoração na parede e o homem respondeu:

“A política é a arte de engolir sapos”. Eu, como político, tenho que me conscientizar disso, e saber que tenho de engolir sapos, sempre que estou aqui trabalhando. Por isto, mandei fazer esta tela.

Sapo é bicho esperto e astucioso. A vida dos sapos é intimamente relacionada com a água. A água é fundamental para sua reprodução e a umidade garante sua respiração cutânea.

A pele dos sapos é seca, glandular e vascularizada. Eles não possuem nenhum tipo de pelos ou escamas.

A pele fina permite as trocas gasosas, e respiração cutânea. Essa condição também impõe que os sapos habitem ambientes úmidos e sombreados. A exposição aos raios solares pode provocar o ressecamento da pele. Por isso, muitos sapos são ativos apenas durante a noite.

Normalmente as pessoas confundem rã, perereca e sapo, embora estes três animais, possuam muitas diferenças entre si, na morfologia, no “habitat” e no comportamento.

O que eles têm em comum é o fato de serem classificados como anuros, nome dado aos anfíbios que não possuem rabo.

Ao contrário do que muitos pensam, as rãs e pererecas não são as fêmeas dos sapos. Existe sapo macho e sapo fêmea, rã macho e rã fêmea, assim como perereca macho e perereca fêmea.

Os sapos apresentam uma pele mais seca e rugosa em relação a dos outros anuros. Além disso, preferem viver em terra firme e só procuram ambientes aquáticos quando vão se reproduzir.

As patas posteriores do sapo são mais curtas, assim eles não conseguem dar grandes saltos, como os das pererecas. Devido às glândulas que possui na região dorsal, quando o sapo sofre alguma pressão externa (como ser pisado, por exemplo), libera um veneno que pode irritar nossos olhos e as mucosas. Pode até cegar.

As rãs são as mais habilidosas entre esses três tipos de anuros. Seus membros posteriores mais longos ajudam no salto e na natação. Elas conseguem dar saltos de até 1,5 metro de comprimento e 70 centímetros de altura.

Vivem principalmente em lagoas e apresentam uma pele bem lisa e brilhante. Suas toxinas estão localizadas nas regiões das costas.

Ao contrário dos sapos e pererecas, as rãs são usadas para alimentação, pois possuem uma carne suave e nutritiva, que lembra vagamente a carne de frango.

Normalmente, as pererecas são menores que os sapos e rãs, tendo como característica os olhos esbugalhados, além de serem mais coloridas.

Não gostam de lagoas e preferem viver em árvores. Com pernas finas e longas, são capazes de grandes saltos e de fixarem-se nas superfícies, pois possuem discos nas pontas de seus dedos, que funcionam como ventosas e permitem essa fixação. Assim como as rãs, possuem uma pele bastante lisa.

São pertencentes a várias famílias. Muitas vezes, são encontradas em banheiros de casas, já que gostam de ambientes úmidos.

Pois bem. Certa vez, um fazendeiro rico levou para casa um sapo e entregou aos três filhos ainda meninos, para lhes servir de brinquedo. A alegria foi grande.

Os meninos brincaram muito com o sapo e depois passaram a maltratar o pobre animal indefeso.

Nesse tempo, os bichos podiam falar à vontade.

Apavorado, o sapo pediu que o soltassem, para que ele voltasse ao pântano, que é o seu “habitat”. e os meninos disseram que iriam matá-lo, jogando-o nos espinhos.

O sapo, desesperado, começou a tapear os meninos, dizendo:

– Espinho não fura meu couro! Ah, ah, ah…

Um deles sugeriu:

– Vamos queimar o sapo!!!

O sapo fingiu ter gostado da ideia e vibrou:

– No fogo, eu me sinto em casa!

Os meninos gritaram:

–  Vamos jogar o sapo nas pedras!

O sapo respondeu: Pedra não mata sapo!

O menino maior, o mais malvado, disse:

– Vamos furar o sapo de faca!

O sapo respondeu:

– Faca não atravessa sapo!

Até que um dos meninos sugeriu:

– Vamos jogar o sapo dentro da lagoa!

Aí, o sapo se fingiu de triste e chorou copiosamente, desesperado, implorando:

– Me bote no fogo! Na água eu me afogo!!!

Esse truque do sapo salvou sua vida.

Os meninos, eufóricos, gritaram ao mesmo tempo:

– Vamos todos para a lagoa!!!

Pegaram o pobre do sapo por uma perna e jogaram no meio da lagoa. O sapo mergulhou e subiu à tona, eufórico, pois o remédio que precisava era aquele, depois de ter sido tão judiado pelos meninos. E começou a gritar:

– Eu sou bicho d’água! Eu sou bicho d’água!!!

E escapou são e salvo da maldade dos meninos.

Anos atrás, numa chácara em Pereiras (SP), estava eu com meu marido, minha sogra e um cunhado com a namorada. A moça era chilena e divorciada de um funcionário do alto escalão de Salvador Allende.

Estávamos no terraço da casa, quando ouvimos um grito de pavor vindo do banheiro, onde a namorada do cunhado estava tomando banho. De repente, surge a moça completamente nua, em pânico, tremendo de medo e gritando por socorro, com os olhos esbugalhados. Todos nós nos assustamos, pensando ter havido uma desgraça, como um assalto. Mais que depressa, minha sogra cobriu a moça com um lençol, e lhe deu água, sem ninguém entender o que tinha havido.

Finalmente, ela conseguiu falar:

– Uma rã!!! – Vi uma rã no banheiro!!!

Saí do terraço com meu marido, para rir no quintal. Nunca vi tanto fricote!!! Uma mulher altíssima e altiva, com experiência de vida, dar um escândalo desse por causa de uma inofensiva rã!!!

Nasci e me criei, na simplicidade do Agreste Nordestino, e me acostumei a conviver com sapos cururus enormes. Rãs e pererecas não fazem mal a ninguém.

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