O antigo galanteio nada tem a ver com o moderno e despudorado Assédio sexual, definido no Art. 216 do Código Penal, como o ato de “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
Tempos atrás, não se falava em assédio sexual, como hoje. O que havia era galanteio. As cantadas “sadias”, saudáveis, galanteios e elogios despretensiosos não eram crimes e podiam até envaidecer a alma feminina, aumentando-lhe a autoestima.
As propostas indecentes sempre existiram, sem que caracterizassem, de fato, crime de assédio sexual, como nos tempos atuais.
Pois bem. Dr. Minora, um conhecido advogado, recebeu em seu escritório uma senhora, bonita e insinuante, 50 anos, que queria contratá-lo para fazer o seu divórcio.
Depois de ouvir os motivos que estavam levando a cliente a pedir a separação, o advogado elogiou a sua beleza e comentou que existia homem idiota, que não enxergava a mulher que tinha ao seu lado.
Na verdade, o advogado era galanteador por natureza e não podia ver uma mulher bonita, que tentava conquistá-la, mesmo que fosse sua cliente.
Sentia um certo fascínio por mulheres casadas, em fase de separação. Sentiu-se atraído pela cliente e os elogios eram verdadeiros.
A mulher sentiu-se gratificada, pois vinha atravessando uma fase de desprezo do marido, que há meses não tinha com ela qualquer relacionamento conjugal. As palavras do advogado massagearam seu ego..
Ao sair do escritório, o Dr. Minora foi com um amigo, Dr. Rildo, também advogado, até o café mais próximo, onde fizeram um lanche e conversaram sobre sua nova cliente. Contou ao amigo os elogios que lhe tinha feito, e se justificou, dizendo que toda mulher gosta de receber elogios, principalmente quando já está entrando na idade madura.
De repente, de surpresa, a esposa do Dr. Minora chegou ao café e sentou-se para lanchar também, junto com o marido e o amigo. Muito bonita e elegante, Rosilda despertou a atenção de quem estava por perto, e o amigo do seu marido. não conseguia deixar de admirar a sua beleza. Teceu-lhe elogios e parabenizou Dr. Minora, pela bela mulher que ele tinha. Disse, ainda, que o Dr. Minora era um felizardo, por ter se casado com uma mulher tão bonita, elegante e simpática.
Ele sempre ouviu Dr. Minora dizer que um homem educado, quando está diante de uma mulher atraente, tem o dever de fazê-la sentir-se admirada. Isso massageia o ego feminino, pois a mulher gosta de elogios.
A indiferença do homem diante de uma mulher bem vestida, perfumada e elegante é humilhante para ela, principalmente quando se trata de uma mulher na idade madura. Vem logo o complexo de velhice, que é o pavor de todas as mulheres.
Baseado no que sempre ouvia o Dr. Minora dizer, o amigo se desmanchou em elogios à sua esposa, que ficou muito envaidecida.
Entretanto, Dr. Minora ficou sério e não gostou do excesso de elogios à sua esposa. Teve uma inesperada crise de ciúme. O amigo se justificou:
– Sempre escutei você dizer que o homem educado tem que elogiar as mulheres.
– É verdade. Mas a minha mulher está fora dessa lista. Somente eu, posso elogiar!!!

Estimada amiga Violante Pimentel, ao terminar de ler seu agradável, inteligente e bem redigido conto, prorrompi em estrondosa gargalhada.
Dr. Rildo foi muito habilidoso e sutil ao utilizar as mesmas ferramentas do nobre colega Minora e deixá-lo molestado e enciumado com o excesso de elogios dirigidos à sua esposa, justificando que sempre ouviu Dr. Minora “dizer que o homem educado tem que elogiar as mulheres”.
Moral do seu belíssimo conto: fica um alerta aos galanteadores de plantão.
Parabéns, Violante!
Um forte abraço,
Boaventura.