A chaminé está “pronta” para o Natal
Hoje, percebo e entendo que as coisas nunca foram fáceis para famílias pobres. Nunca foram fáceis, asseguro.
Dezembro chegava, e, aparentemente, tudo estava ligado à celebração natalina – no nosso caso de crianças, repercutia bem o sucesso na escola – a “reprovação” na escola era um mau sinal. Ouvíamos em chantagem, que Papai Noel não trazia presentes de Natal para quem não fosse “aprovado” na escola. Cheirava sim, a chantagem. Mas era assim.
Nossa casa tinha piso de tijolos de cerâmica, mas, sem o modernismo atual. Apenas a sala era forrada com tacos – que eu e alguns irmãos tínhamos a obrigação de encerar aos sábados. Só depois dessa “obrigação” estávamos liberados para a pelada com os amigos na rua. Era uma tarefa doméstica nossa.
O quarto era calçado com tijolos. Prevenida, minha mãe punha uma bacia grande debaixo de cada rede, para evitar que o “mijo” noturno alagasse o ambiente.
Papai Noel vai entrar pela chaminé
A “preparação” para a infalível visita do Papai Noel começava além dos bons resultados na escola. Atingia a expectativa do pagamento do mês de novembro (não existia o décimo-terceiro, e o pagamento do mês de dezembro só acontecia no princípio de janeiro. Depois do Natal.).
Como não tínhamos “chaminé”, ajudávamos na limpeza e pintura da casa. A tinta usada nos dias atuais, também não existia. Usávamos “cal”, que substituía a fase anterior à pintura. Começava ali a “união” da família na busca de um Feliz Natal.
O bom velhinho com dificuldades para entrar
Até hoje não consegui descobrir o que a nossa Mãe nos servia em forma de chá, para que dormíssemos, e não víssemos a entrada triunfal do Papai Noel pela chaminé. Há quem afirme que era “chá da ansiedade”, ou, em algumas vezes, o chá do “vai dormir menino” temperado com o açúcar da autoridade materna.
As mães dos dias de hoje são diametralmente diferentes. Não mandam “pn” nos filhos. Ao contrário – paparicam, plantando a semente da desobediência, da falta de respeito com todos na vida adulta.
As antigas mães tinham tanta autoridade diante dos filhos, que, só recorriam aos pais em última instância: “deixa teu Pai chegar, que vou contar tudo, tim-tim por tim-tim!”
Quando o Pai tomava conhecimento da desobediência, “anotava” na caderneta mental e descontava no pedido para Papai Noel.
A entrada triunfal do Papai Noel
O sono chegava via imposição, ou não. Mas chegava.
Criança que tinha o hábito – durante as férias escolares – de acordar e levantar por volta das 09:00h, quando a claridade entrava pelas frestas das portas ou janelas, já estava levantado e, antes mesmo da assepsia das primeiras horas do dia, começava a desembrulhar os pacotes que o bom velhinho trouxera, entrando pela chaminé.
Ninguém reclamava por não ter ganho um telefone celular!
As meninas, reclamavam sim, por não terem ganho uma boneca que “andava”, e os meninos acordavam os demais da casa com o barulho provocado pelo velocípede novo.
Êxtase!
Os pais não cabiam em si, de tanta felicidade proporcionada aos filhos. Éramos uma família alegre, unida, diferente.
Paulo Freyre, felizmente, não havia chegado nas escolas com a implantação da Teoria da Libertação. Felizmente!




Perfeito, brilhante, verdadeiro!!!!!!!!
Muito obrigado!