Um político brasileiro, ex-prefeito de uma cidade do interior nordestino, meteu-se num grupo para fazer uma excursão a alguns países da Europa. Ele, a esposa e outros casais amigos ficaram deslumbrados com a beleza das coisas que viram em Portugal, Inglaterra, Suíssa, França, Itália e Alemanha. Viajaram em uma companhia de turismo, e passaram vinte e quatro dias numa verdadeira maratona.
Com uma semana de excursão, o prefeito e a esposa, marinheiros de primeira viagem, já estavam com saudade da comida brasileira, do povo e, principalmente, da cama e dos seus travesseiros. Exaustos do corre-corre, de terem de acordar cedo, com hora marcada, passar várias horas viajando de ônibus, não viam a hora de voltarem para o Brasil. Cumprindo o roteiro organizado pela companhia de turismo, visitaram tudo o que havia de museu, igrejas e monumentos históricos.
Acostumados a uma alimentação substanciosa, praticamente passaram fome na Europa, pois a alimentação era muito leve, e quase sem tempero. Nunca imaginaram que iriam sentir tanta falta da comida brasileira, principalmente da feijoada, do arroz e da carne de sol. Comiam, quase sempre, para saciar o vazio do estômago, sem gostar nem um pouco da comida.
Em Paris, num momento de folga da excursão, o ex-prefeito Damião afastou-se do hotel com a esposa Marlete, e os dois deram uma volta no quarteirão. Convém salientar que o casal mal sabia ler e escrever.
Em palanque político, Damião era um excelente orador. Decorava com facilidade discursos elaborados por um dos seus assessores, e sempre se dava bem. Entretanto, quando abria a boca para falar, sem discurso escrito por outrem, era um desastre.
Nessa volta que Damião deu com a esposa, os dois tiveram oportunidade de ver um cortejo fúnebre que passava, cheio de aparatos e luxo, que denotava tratar-se de alguém muito importante naquele país. Damião, semianalfabeto, não sabia português e muito menos o idioma francês. Ansioso para saber de quem era aquele enterro tão importante, perguntou a um homem que estava parado, assistindo ao cortejo fúnebre:
– Amigo, de quem é este enterro?
“Je ne sais pas” – respondeu o desconhecido.
Para confirmar o que ouvira, Damião afastou-se e perguntou a uma senhora:
– Senhora, de quem é este enterro?
A resposta da mulher foi a mesma do homem:
“Je ne sais pas”.
O casal voltou para o hotel.
Uma semana depois, a excursão terminou e os turistas retornaram ao Brasil.
Quando já havia chegado à sua cidade, o ex-prefeito fez questão de receber seus parentes para jantar, para contar como foi a excursão.
Muito conversadores, Damião e Marlete contaram todos os detalhes do passeio maravilhoso que haviam feito, o que para eles foi um verdadeiro conto de fadas. Para não dar gosto a ninguém, omitiram a parte chata da excursão, que foi a cansativa correria, uma verdadeira maratona, e o fato de terem achado a comida péssima. Só contaram coisas boas, de dar inveja a quem nunca foi à Europa. Um compadre, que estava presente, perguntou a Damião:
– Mas me diga, compadre, o que foi que você viu de mais bonito nesse passeio à Europa?
Damião respondeu:
– O enterro de um homem muito importante em Paris, chamado “Je ne sais pas”. Foi a coisa mais bonita que eu vi!!!