PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

Valdir Teles (1956-2020)

Waldir Teles glosando o mote:

Quando morre um alguém que a gente adora
Nasce um broto de dor no coração.

Quando morre um parente ou um amigo
Resta só lamentar, ninguém dá jeito
A tristeza se aloja em nosso peito
A angústia se apossa do abrigo
O seu corpo levado pra o jazigo
É seguido por uma multidão
Nem compensa apertar na sua mão
É inútil dizer não vá agora
Quando morre um alguém que a gente adora
Nasce um broto de dor no coração.

* * *

Chico Nunes glosando o mote:

A saudade é companheira
De quem não tem companhia.

Vivo em eterna agonia
Sem saber o resultado
Deus já me deu o atestado
Pra eu baixar à terra fria.
Em volta só vejo o mal
Deste meio social,
E espero sozinho o dia
De minha hora derradeira…
A saudade é companheira
De quem não tem companhia.

* * *

José Lucas de Barros glosando o mote:

A viola, em silêncio, está chorando,
Com saudade da voz do violeiro.

Chico Motta viveu de cantoria,
Imitando as graúnas sertanejas,
Nos ardores de inúmeras pelejas
Que aprendeu a enfrentar com galhardia;
Seu programa, nem bem raiava o dia,
Acordava o sertão alvissareiro,
Mas, depois do seu verso derradeiro,
Que inda está, nas quebradas, ecoando,
A viola, em silêncio, está chorando,
Com saudade da voz do violeiro.

* * *

Pinto do Monteiro glosando o mote:

Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.

Me lembro perfeitamente,
Quando em minha idade nova,
O meu pai cavava a cova
E eu plantava a semente.
Eu atrás, ele na frente,
Por ter força e mais idade,
Olhando a fertilidade
Da vastidão da campina,
Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.

* * *

Severino Ferreira glosando o mote:

O Nordeste poético ainda chora
Com saudade de Pinto do Monteiro.

Sei que Pinto deixou como recinto
A Monteiro que é sua cidade
O Nordeste até hoje tem saudade
De um poeta pacato e tão distinto
Outro galo não faz mais outro pinto
Que seja poeta e verdadeiro
Se pegar a galinha no terreiro
E tentar fabricar o ovo “gora”
O Nordeste poético ainda chora
Com saudade de Pinto do Monteiro.

* * *

Jó Patriota glosando o mote:

A casa que tem criança
Deus visita todo dia.

Quando a criança adormece
A mãe já fraca do parto
Nos quatro cantos do quarto
Deus em pessoa aparece.
O Santo Espírito desce
Distribuindo alegria
Aquela rede sombria
Tem uma mão que balança
A casa que tem criança
Deus visita todo dia.

* * *

A GRANDE BRIGA DE UM VELHO COM UMA VELHA EM MOSSORÓ – José Costa Leite

Quem ler este folhetinho
vai sorrir de fazer dó
é duma briga que houve
na cidade Mossoró
da velha Zefa Tingole
com o velho Chico Gogó.

A velha Zefa Tingole
reclamava todo dia
porque vivia amigada
e a Chico ela dizia:
– Chico! vamos casar!
mas o velho não queria.

O velho Chico Gogó
dizia a Zefa Tingole;
– O que vale é a união
e comigo ninguém bole
vamos viver assim mesmo
é melhor que se console.

O velho Chico Gogó
lhe disse todo enraivado
– Ouviste dizer algum dia
que um pescador afamado
continuou a dar isca
depois do peixe pescado?

A velha Zefa Tingole
chorava e se maldizia
dizendo: Tu não me amas
mas já me disseste um dia
que te casavas comigo
e muito bem me queria.

O velho dizia: – Zefa
aquilo era caçoada
tu eras moça bonita
hoje estais feia e pelada
e mesmo o casamento
para mim não vale nada.

A velha Zefa Tingole
disse a Chico Gogó
– Eu casarei nem que seja
por força de catimbó
e agarrou-se com ele
sem ter compaixão nem dó.

O velho Chico Gogó
quando se viu agredido
meteu o braço na velha
mesmo no pê do ouvido
cada tapa era uma queda
e cada queda um gemido.

A velha Zefa Tingole
apanhou que só jumento
o velho metia o braço
com toda força e talento
dizendo: Danada veia
toma aí o casamento.

Zefa Tingole danou-se
prendeu a saia na frente
e acochou o cordão
bufou e rangia o dente
e veio em cima do velho
como um cachorro doente.

O velho inda quis correr
mas a velho não deixou
dizendo: Véio danado
a sua hora chegou
se prepare pra morrer
ai o pau trovejou.

O velho Chico Gogó
vendo o pau trovejar
quando metia o bofete
via o mocotó passar
e a velha dava murro
do cabelo arrepiar.

Aquela bolo danado
ia lá e vinha cá
o povo todo dizia
sem coragem de ir lá:
– “ É a muiê do Aniba
dando no Zé do Angá”.

Chico disse: Eu fui criado
com o leite da “Mococa”
mas no pau ele piava
igual a galinha choca
o pau estava roncando
que só na casa de Noca.

Depois o velho pegou
a velha no mocotó
Zefa Tingole agarrou
um tóro de mororó
e meteu na Çchã da gaia
do velho Chico Gogó.

Chico Gogó esparrou-se
e começou a gemer
passou a mão pela cara
e viu o sangue correr
agarrou Zefa Tingole
para matar ou morrer.

Pegou no braço do velha
com toda disposição
e deu-lhe um murro na cara
com toda força da mão
a velha deu um pinote
que a saia caiu no chão.

O velho ainda mordeu
a velha no mocotó
mas a velha deu um salto
como cobra de cipó
e escanchou-se nas costas
do velho Chico Gogó.

Era uma briga danada
que a poeira cobria
o velho se levantava
dava um bofete e caia
a velha gritava e chorava
o velho corava e gemia.

Uma vez o velho estava
montado em Zefa Tingole
outra vez estava igual
um sapo que a cobra engole
com a cara banhada em sangue
e o corpo todo mole.

Zefa Tingole dizia:
– Aqui, você se enrasca
o velho mitia o pau
do lombo largar a casca
dizendo: Véia danada
você comigo se lasca.

O velho pegou a velha
com toda gota serena
deu-lhe um murro tão danado
que a velha quase empena
e mesmo na venta dela
meteu o dente sem pena.

A velha soltou um grito
conhecendo do perigo
agarrou Chico Gogó
deu nele o maior castigo
e meteu o dente num canto
que eu me dano e não digo.

Quando o velho se livrou
ficou igual um leão
correu e voltou de novo
com uma foice na mão
dizendo: Véia danada
agora eu findo a questão.

A velha correu com medo
e voltou sem ter demora
com uma mão de pilão
dizendo na mesma hora
– Minha brigada esta dentro
mas eu vou botar pra fora.

O velho meteu a foice
sem ter compaixão nem dó
a velha saltou e girou
em cima duma perna só
e meteu a mão de pilão
pra lascar Chico Gogó.

O velho metia a foice
com toda disposição
a velha deu um pinote
e meteu a mão de pilão
a poeira levantava
e o sangue ensopava o cão.

A velha Zefa Tingole
já se achava cansada
e o velho Chico Gogó
com a cara machucado
se um estava cansado
o outro não valia nada.

O velho metia a foice
para corta-la no meio
mas a velha pinotava
e no corpo dava volteio
metendo a mão de pilão
pra pegar o velho em cheio.

O velho cortou da velha
o dedo grande da mão
a velha sentindo a dor
meteu-lhe a mão de pilão
que o velho deu um gemido
e estendeu-se no chão.

A velha pegou no pescoço
do velho, na mesma hora
dizendo: Véio danado
você me paga é agora
ou você casa comigo
ou seu pescoço se tora.

Chico Gogó vendo Zefa
Igual cobra caninana
lhe arrochando o pescoço
com um força tirana
disse: – Me solte que eu juro
me casar toda semana.

Acabou-se toda raiva
e os dois se abraçaram
foram para o hospital
e depois que se trataram
na igreja Mossoró
os dois velhos se casaram.

A velha beijou o velho
que ficou de olho murcho
o velho disse sorrindo
– Zefinha, deixa de luxo!
você com esse chamego
termina crescendo o bucho.

A velha beijava o velho
e dava um abraço acochado
o velho beijava a velha
e dizia consolado:
– O amor depois da briga
é gostoso que é danado.

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