
Getúlio Vargas e seus puxa sacos
Mais uma crônica ácida do crítico musical José Teles que merece ser reproduzida aqui no JBF pelo seu conteúdo atualíssimo: a eleição de atores músicos e até presidentes da república, sem ter sequer publicado um Manuel de Instrução da Guerrilha, como o fez o guerrilheiro de Wagner Moura.
Com poucos se lembrando de como a ABL, por várias vezes, foi servil às ditaduras, com generais e políticos, nulidades literárias, assumindo cadeiras naquela casa. O melhor exemplo foi a entrada do ditador Getúlio Vargas na imortalidade em 1941. Transcrevo um texto da coluna Movimento Literário da revista Carioca (do grupo A Noite, de Irineu Marinho), de uma subserviência que dispensa comentários:
“Para ocupar a cadeira de Alcântara Machado na Academia Brasileira de Letras, o presidente Getúlio Vargas foi eleito por 33 votos, sem nenhuma cédula discrepante. Existe um voto em branco, vindo do estrangeiro e que, nem por isto, quebrou a expressiva unanimidade com que o nome do ilustre brasileiro foi sagrado para a mais alta corporação cultural do país.
Após o pleito, A Noite colheu diversas impressões de acadêmicos, todos satisfeitos com a entrada do Chefe da Nação para a academia. Eis algumas das impressões:
Cassiano Ricardo – Considero o dia de hoje um dia de festa para a inteligência e para a cultura brasileiras.
Ministro Oliveira Viana – Acho que a escolha da academia está acima de qualquer crítica. O presidente já era, por si mesmo, pelo seu feitio, pela sua finura, sua inteligência, e espírito agudo, um acadêmico. A academia só pode se honrar em incorporar ao seu grêmio uma figura de relevo, não digo nacional, mas mundial.
Ribeiro Couto – A eleição do presidente Getúlio Vargas marca para nossa instituição um grande dia. O espontâneo e caloroso ambiente de entusiasmo, que notamos hoje aqui, traduz não só o alto apreço da academia por essa iminente figura de intelectual, mas o apreço dos intelectuais do Brasil inteiro, que nós representamos.
A obra de Getúlio Vargas assemelha-se a da maioria dos militares ou políticos que entraram para a ABL: compilação de discursos, textos para justificar sua ideologia e, claro, o livro do discurso pronunciado na solenidade de posse na academia.
Nesses tempos servis literais, a exceção é encontrada no imortal José Paulo Cavalcanti Filho, colunista do JBF, que imortalizou Pessoa com a obra-prima, Fernando Pessoa – Uma Quase Autobiografia.

A obra-prima que fez jus à memória do poeta de Tabacaria
Pois é, Ciço, meu bom compadre:
Quando leio suas observações sobre o cordão dos puxa-sacos, lembro-me também do Sarney, um escritor de necedades (V. “Marimbondos de Fogo”, ou algo assim), sendo saudado pelos ilustres imortais.
Pelo menos agora, com o José Paulo Cavalcanti, temos gente letrada na academia mais letrada das terras tupiniquins.
Parabéns pela crônica.
Um abraço acadêmico e um bom final de semana.
Magnovaldo
Magnovaldo Santos,
Dos indicados quase que por unanimidade, o único que honrou a indicação foi o autor da obra-prima, Fernando Pessoa – Uma Quase Autobiografia.
Abraçaço, amigo.
Uma ternurinha ao nosso editor, Luiz Berto, para que retorne logo para nos alegrar com o seu senso de humor imortal.
Tá lá, no 2º artigo da ABL, que diz textualmente que “só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário”
Na prática leia-se: Aquele que fizer o melhor lobby entre os 39 imortais que, em voto secreto, escolhem seu próximo colega.
Só pra lembrar que já preteriram nomes como Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Paulo Leminski., Monteiro Lobato, e por aí vai…
Se rola safadeza como grana, politica, chantagem, Q.I, ideologia…as suspeitas fica por conta do imaginário de cada um de nós, os simples mortais.
Isso, estimado causídico Marcos André M. Cavalcanti.
O estatuto da ABL é um CPB onde todos os seus artigos podem ser violados, conforme a conveniência momentânea.
Abraçaço