MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Apliquei hoje uma prova de Matemática Financeira e uma das questões era a seguinte: “Atualmente, discute-se um empréstimo no valor de R$ 12 bilhões para “salvar” os Correios. O custo financeiro máximo permitido pelo Tesouro Nacional é 120% do CDI e o empréstimo seria amortizado em 15 anos com carência de 3 anos. Faça uma planilha de desembolso desse empréstimo pelo sistema de amortização constante.” Forneci outras premissas relativas aos custos operacionais, previsão de 15 demissões, fechamento de unidades, calote de R$ 740 milhões no plano de saúde dos servidores etc. tudo com o objetivo de que o aluno explicasse o contexto de tudo isso e fizesse uma análise da capacidade de pagamento desse empréstimo.

O CDI representa o custo, de fato, o custo de captação de recursos dos bancos e, hoje, é 14,90% ao ano, de modo que essa operação seria negociada a uma taxa de 19,75% ao ano. Esperava que os alunos apresentassem uma planilha com o pagamento anual de juros e de amortização do valor principal. Assim sendo, eles mostrariam que esta operação resultará numa dívida de R$ 33 bilhões, de modo que o pagamento dos juros importaria em R$ 21 bilhões.

Num sistema democrático, cada um escolhe quem quiser para ser seu representante. Você vota em quem quiser e o eleito representa a vontade de uma maioria. Para mim isso é, absolutamente, normal e o que não é normal é a falta de cobrança para que as coisas sejam, pelo menos, próximas daquilo que foi prometido nas campanhas. Em outras palavras: o que me incomoda é não haver cobrança pelos erros cometidos pelo governo eleito.

Eu sempre coloco nas minhas provas exemplos reais (financiamento de carros, apartamentos, empréstimos consignados, operações com cartões de crédito como parcelamento das faturas etc.) e o caso dos Correios é bastante emblemático. Ao longo do tempo a empresa não conseguiu se estruturar para enfrentar mudanças tecnológicas. Em diversos países do mundo, os Correios se modificaram e agregaram novos serviços para continuar sendo rentáveis, no Brasil, não. Continuamos insistindo em coisas não produtivas e perdemos espaço.

Ao longo da sua história, os Correios se notabilizaram pelo fornecimento de diversos produtos, dentre os quais, as entregas de encomendas, cartas e telegramas, ordens de pagamentos. A chegada da telefonia móvel, foi um sinal claro de que era necessário redefinir procedimentos e isso não foi feito. As ordens de pagamentos viraram pó quando a tecnologia bancária e nos últimos 5 anos, com o Pix, isso sequer tem mais cabimento. Cartas e telegramas foram substituídos, naturalmente, pelo e-mail e pela comunicação via zap que permite um papo, inclusive, por vídeo.

Restava aos Correios duas opções: a primeira é caminhar para um processo de privatização e a segunda era se modernizar para liderar o mercado de entregas de encomendas. A primeira questão não deu certo por duas razões básicas. Uma foi o comportamento do STF que entendeu que empresa pública, para ser privatizada, precisava de autorização do congresso. Uma coisa para lá de absurda, colocada em 2018, ou seja, apenas com o fito de não permitir que o ministro Paulo Guedes tivesse êxito no seu plano de redução do estado.

Aliado a esta questão vem a atuação do sindicato dos funcionários que diz, textualmente, que a difícil situação dos Correios é decorrente das medidas do governo e Temer e (vou colocar em negrito) das propostas neoliberalistas do governo Bolsonaro, ou seja, colocam a culpa dessa absurda situação em uma proposta que não foi implantada por decisão da corte máxima da justiça. Cabe dizer, mil vezes se necessário: os Correios deram lucro no governo passado e eu não estou dizendo isso para defender o governo Bolsonaro. Estou dizendo por que foi assim, mas é exatamente isso a sensação: FINGIMENTO.

As pessoas escolheram o presidente que nomeou pessoas incapazes para administrar os Correios e baseado na necessidade de se gastar para atender demandas socias (não sou contra elas) o governo usa os cofres públicos num temendo risco fiscal, posto que a dívida bruta do país já beira os 80% – de acordo com os dados – e já passou dos 90% para organismos internacionais como o FMI.

Como foi dito antes, eleição implica vontade da maioria, mas o fato de não haver cobranças pelos erros cometidos pelo governo, para mim, soa apenas como fingimento, ou seja, vamos fingir, divulgar, propagar que está tudo bem, apenas para não reconhecermos, publicamente, que fizemos uma grande merda.

Um bom Natal a todos!

4 pensou em “FINGIMENTO

  1. Bom dia nobre Assuero, sem acrescentar ou tirar uma vírgula, descrito em seu textobum raio x claríssimo de que o atual gestor veio para acabar com o que foi plantado antes, fazendo tudo errado com a conivência da mídia corrupta e paga com nosso suado dinheiro, Deus tenha misericórdia de todos nós. Abraços!

  2. Bom dia mestre. Entendo de matemática financeira o mesmo que Lula entende de honestidade e Haddad de economia, qual seja, absolutamente nada.

    Dito isso, nada a comentar sobre a prova em si; não tenho nem vocabulário para isso.

    Apenas um breve conselho: não sei em quais instituições o senhor leciona; caso seja em uma dessas madrassas federais, tome cuidado ao usar correios ou outras estartais como exemplo, logo será censurado.

    Abraço e feliz natal.

    • Pois e Pablo. Pode ser um risco mesmo, mas minhas provas só coloca exemplos reais. Vejo propagandas de bens financiados, consórcios etc. e ponho na prova. O aluno precisa trabalhar com a prática

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