DEU NO JORNAL

Marcel van Hattem

Advogado Nelson Willians presta depoimento à CPMI do INSS mas usa direito de ficar em silêncio.

Advogado Nelson Willians presta depoimento à CPMI do INSS mas usa direito de ficar em silêncio

Sapatos caríssimos, terno alinhado. Vinhos na adega em casa, carros de luxo na garagem. Alguns, agora, apreendidos pela Polícia Federal. A ostentação do advogado Nelson Wilians, investigado por suposta lavagem de dinheiro do roubo dos aposentados no INSS, é notória. Mesmo durante o depoimento na CPMI desta semana, o doutor manteve o nariz empinado. Ou, pelo menos, tentou.

Apesar de ter dito em sua fala de abertura na CPMI que tinha ouvido de um ancião que “a soberba é mentira e a humildade é a verdade”, quando questionado se faria o juramento de dizer apenas a verdade à comissão investigativa ele foi peremptório e monossilábico, pronunciando um rotundo não. Logo a seguir, ainda na primeira fase do interrogatório, aquela que cabe às perguntas do relator, quando questionado se teria algum relacionamento com o petista José Dirceu, o tão falante advogado anunciou que, dali em diante, preferiria ficar calado.

Mais além de seu suposto envolvimento, de acordo com a investigação da Polícia Federal, no abominável crime cometido contra velhinhos e deficientes físicos, chamou a atenção outro importante fato: o dono da maior banca de advogados do Brasil tinha dificuldade de defender a si mesmo. Era assessorado por dois advogados – o que em si não apenas é comum, como também recomendável –, que pareciam estar muito mais preparados do que o chefe para estarem naquela sala.

À medida que transcorria seu depoimento, o despreparo, a soberba e a deselegância do doutor ficavam cada vez mais pronunciados. E aquilo que se vê nas suas redes sociais, seguidas por expressivo número de brasileiros (somente no Instagram, mais de 1,5 milhão de pessoas), desfazia-se ao vivo no plenário da CPMI no Senado e nas transmissões feitas via TV, rádio e internet. A pompa da rede social transformava-se em pó na vida real.

A reflexão é inevitável: muitas vezes, ser o melhor tecnicamente na sua área profissional não é o suficiente para que alguém se torne rico e famoso. Muitas vezes, aliás, pode ser até um empecilho. Nelson Wilians, independentemente de como amealhou sua fortuna pessoal, se honesta ou desonestamente, como apontam as investigações, é resultado de uma cultura mais ampla: a da importância dos relacionamentos – às vezes só deles, em detrimento de todo o restante.

Gente famosa, círculos restritos, viagens em jatos particulares, reuniões e festas em ilhas privadas. É só adentrar determinado círculo com desenvoltura, convicção e um bom negócio para oferecer, que a vida se transforma. Os maiores picaretas da história, não apenas brasileira mas também mundial, já ensinaram o caminho das pedras, várias vezes. Não se trata aqui de crítica à riqueza, obviamente: ao contrário, o sucesso bem havido é admirável e respeitável!

No caso brasileiro, porém, parece que vivemos uma situação agravada. Com a erosão da segurança jurídica nas Cortes superiores, incluindo o tráfico de influência constante praticado por familiares de magistrados que advogam perante os tribunais, e a promiscuidade entre autoridades judiciais e lideranças políticas no Executivo e no Legislativo, o resultado da fórmula está dado: corrupção com dinheiro público feita por agentes privados com o auxílio indispensável de autoridades públicas, todos beneficiários destes grandes esquemas.

A CPMI do INSS terá um árduo trabalho pela frente para descobrir todos os ladrões do dinheiro dos aposentados assim como os maiores beneficiários do escândalo. Mas o Doutor Nelson Wilians forneceu ótimas pistas com o seu comportamento na Comissão: nem tudo o que aparenta, é. E justamente aquilo que é, no fundo, é o que verdadeiramente importa.

Um comentário em “A SOBERBA QUE REVELOU A VERDADE

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