A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! …
Milagre … fantasia … ou, talvez, sina …
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! …
Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
O que seria a Flor do Sonho da Poetisa?
Seria o amor, que amor?
Mas surgiria a florir em um muro todo em ruína, como Florbela se definia?
Flor do sonho, onde tudo é permitido; não entendemos onde ela pode nos levar.