Karina Michelin
O ministro Luiz Fux jogou uma bomba no plenário do Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira, 21 de outubro. Ao votar pela absolvição dos sete réus do “núcleo da desinformação”, ele admitiu que o tribunal cometeu injustiças nos julgamentos dos atos de 8 de janeiro de 2023 – e declarou que não pode mais sustentar as mesmas posições que tomou no calor da comoção nacional.
“Há mais coragem em ser justo parecendo ser injusto do que ser injusto para salvaguardar as aparências da Justiça”, disse, em tom de mea-culpa. Fux reconheceu que o STF agiu sob “urgência e paixão” e que “o tempo e a consciência já não permitem manter o mesmo entendimento”. Foi um discurso raro, quase uma confissão: um ministro do Supremo admitindo que o tribunal errou.
O voto rompeu com a linha do relator Alexandre de Moraes, que pediu a condenação dos acusados, e com a posição de Cristiano Zanin, que o acompanhou. Fux, isolado, disse que condutas desorganizadas e sem coordenação não configuram golpe de Estado – e que “atos preparatórios” não podem ser tratados como crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O gesto de Fux foi um recado direto à própria Corte, que há meses é acusada de agir como tribunal político e de atropelar garantias constitucionais. “Não há demérito maior para o juiz do que pactuar com o próprio equívoco”, afirmou.
Horas antes, o ministro havia oficializado seu pedido de transferência para a 2ª Turma, grupo formado por Gilmar Mendes, Toffoli, Mendonça e Nunes Marques – justamente o bloco onde se travam os maiores embates políticos da Corte.
Ao romper com o discurso de punição exemplar e expor a manipulação da Justiça sob pretexto de “defesa da democracia”, Fux rompe de vez com o clima de unanimidade que sustentou a narrativa oficial do 8 de Janeiro.
No STF, ninguém muda de turma por acaso. E Fux acaba de mudar não só de turma – mudou de lado, de discurso e, talvez, de consciência.
O ministro Luiz Fux jogou uma bomba no plenário do Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira, 21 de outubro. Ao votar pela absolvição dos sete réus do “núcleo da desinformação”, ele admitiu que o tribunal cometeu injustiças nos julgamentos dos atos de 8 de janeiro de 2023 – e… pic.twitter.com/x2cz6wWd5l
— Karina Michelin (@karinamichelin) October 21, 2025