DEU NO JORNAL

Editorial Gazeta do Povo

A economia brasileira, como se esperava, desacelerou no segundo trimestre deste ano, na comparação com os primeiros três meses de 2025. Os dados divulgados na terça-feira pelo IBGE mostram que o PIB cresceu 0,4% entre abril e junho, contra 1,3 entre janeiro e março. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o PIB também desacelerou, de 3,5% para 3,2%. Era um resultado já esperado, embora ainda ligeiramente melhor que as projeções do mercado financeiro, que apontavam para um crescimento de 0,3% no segundo trimestre, e a desaceleração deve continuar neste segundo semestre. E as narrativas que só contam a história pela metade já começaram a ganhar corpo.

“Era um efeito esperado a partir da política monetária restritiva iniciada em setembro do ano passado”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, em referência ao aperto provocado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – a Selic era de 10,50% ao ano até a reunião de setembro do ano passado, quando começou um ciclo de alta interrompido apenas em julho deste ano, quando os juros já estavam em 15% ao ano. De fato, juros altos encarecem o crédito, do qual muitas atividades econômicas (como a indústria de transformação e a construção civil, que registraram recuo) dependem para crescer, e “desviam” para o mercado financeiro recursos que, em outras circunstâncias, seriam usados em investimentos no setor produtivo – os investimentos, aliás, caíram 2,2% no segundo trimestre; com isso, a proporção de investimentos como porcentagem do PIB caiu de 17,8% para 16,8%, muito aquém dos 25% necessários para garantir um crescimento constante e sustentável da economia.

Mas culpar o Banco Central pela desaceleração é ignorar que a política monetária é responsiva: ela reage a outros fatores, e é neles que se deve procurar os verdadeiros responsáveis pela desaceleração iniciada neste segundo trimestre. No caso brasileiro, apesar de solavancos externos, como o tarifaço de Donald Trump, é inegável que o grande culpado é um governo que insiste em gastar como se não houvesse amanhã e que força a economia a rodar muito acima do seu limite, com um estímulo irresponsável ao consumo que ressuscita a “nova matriz econômica” lulodilmista que levou o país à pior recessão de sua história.

O arcabouço fiscal já está desmoralizado: o governo trata o limite inferior da meta de tolerância como o objetivo real a buscar, e consegue tirar inúmeras despesas da conta oficial – como resultado, o déficit primário real será muito pior que o déficit primário formal. A despesa governamental continua crescendo acima da inflação, enquanto Lula e Fernando Haddad só sabem acertar as contas pelo lado da receita, arrancando cada vez mais dos brasileiros. A dívida pública como proporção do PIB sobe velozmente e sem controle. A gastança e o superaquecimento da economia são inflacionários e, como a missão do Banco Central é proteger o valor da moeda, ele reage da única forma que está ao seu alcance, elevando juros para frear a economia e, ao menos, conseguir o chamado “pouso suave”, em vez de uma nova e traumática recessão.

Com 2026 chegando, é quase impossível que Lula reverta a marcha e adote uma política fiscal responsável – basta olhar o Orçamento proposto para o ano que vem, que já de partida prevê um rombo de R$ 23 bilhões. Como dizia Dilma Rousseff, em época de eleição pode-se “fazer o diabo”. E quem pagará pelos pecados fiscais de Lula serão os brasileiros, que já veem subir a inadimplência e o número de empresas pedindo recuperação judicial, enquanto o governo continua superaquecendo a economia em vez de fomentar investimento e proporcionar aumento da competitividade do setor produtivo brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *