CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Zeniltom era um menino tímido.

Foi criado à barra do vestido da mãe, que tinha medo de soltá-lo na rua para não “se juntar com más companhias.”

Aos doze anos sua genitora o matriculou no colégio do Estado, onde encontrou uma turminha da pesada, principalmente na ala das fêmeas que já sabiam onde satanás despejou a água do joelho pela primeira vez no Templo de Salomão e Maria Madalena mijou de cócoras no corredor por não encontrar o mictório da templo aberto.

Passados os anos e o jovem Zeniltom percebendo que não tinha cabeça para aprender matemática, sempre ficando em recuperação e no final só passando porque o professor, sentindo-o esforçado, dava um empurrãozinho para não repetir o ano, resolveu que só iria terminar o ginásio depois que arranjasse um emprego de balconista em qualquer loja e iria largar os estudos, decisão com a qual a mãe não compartilhava. A contra gosto, ele seguiu o conselho da mãe.

Concluído o ginásio e percebendo que não possuía nenhuma aptidão mesmo pelas ciências exatas, cumpriu o que havia prometido a mãe: largou a escola e foi trabalhar numa loja de vendas de produtos eletrônicos. Mas antes de iniciar no trabalho prometeu a mãe que iria estudar à noite para se formar, atendendo os desejos dela.

Conforme havia prometido à genitora, dona Zoromilda, Zeniltom se matriculou num colégio do Estado que ficava perto do trabalho e foi tentar aprender as primeiras noções de Filosofia.

Assim que largava do emprego, ia até a barraquinha de seu Quequé, na frente do colégio, que vendia um cachorro quente no capricho, comia dois, tomava dois copos de kissuco de caju e, satisfeito, se dirigia à sala de aula para esperar o Mestre Malucão.

Depois que Zeniltom chegava, antes do professor e dos outros alunos aparecerem, a segunda pessoa que chegava à classe era a jovem Carmosinha, morena fogosa, de peitos fartos e coxas grossas, que ficava conversando com Zeniltom, sempre cruzando as pernas de um lado para outro, trocando ideias sobre o curso, fatos pessoais, religião, trabalho, coisas do cotidiano.

À medida que o tempo ia passando, Zeniltom e a jovem iam se entrosando, se encaixando, se conhecendo, e, no abrir e piscar de olhos, os dois estavam enrabichados.

Não demorou um ano de namoro. O jovem Zenilto, perdido de paixão e doido para comer o boca de macaco da jovem Carmosinha, seis meses depois do noivado, resolveu se casar e foi morar no quitimete de três vãos nos fundos da casa da mãe, dona Zoromilda.

Depois de casado foi que Zeniltom se apercebeu que sua esposa, Carmosinha, era uma ferrenha frequentadora da Igreja Internacional do Dizimo das Graças de Deus (IIDGD), do pastor Possidônio Samburá, o sujeito mais escroto, escroque, picareta de Conceição do Fiofó.

Com um império de mais de quarenta igrejas no bairro e com uma legião de roubreiro de dá inveja a qualquer Edir Macedo da vida, Possidônio Samburá mandou construir nos fundos de cada igreja erguida uma cadeira da jia para ele fofar todas as mulheres recém-casadas que frequentavam suas igrejas. Cada noite e em cada igreja diferente uma era “cantada” para as satisfações libidinais e labiais do pastor escroto.

Zeniltom, com a libido nos poros, mal terminava as aulas vinha correndo para casa para, antes jantar, fazer um calamengal com a jovem esposa. Mas todas as vezes que chegava em casa Carmosinha estava na igreja participando das chamadas “sessões espirituais de descarregos” e outras mandingas criadas pela mente psicopata do pastor para roubar os fiéis e comer as frequentadoras mais laites.

Cansado de chegar em casa e sentir a ausência da esposa, que sempre o alegava que estava nos cultos patrocinados pelo pastor, Zeniltom cisma do cu e vai até a igreja matriz que ficava a quinhentos metros de sua casa. Ao se aproximar, percebe-a vazia, as lâmpadas da frente acesas e a porta de entrada apenas encostada.

Desconfiado, ele entra na ponta dos pés, e quando se aproxima do púlpito percebe a voz de Carmosinha aos berros:

– Aí, pastor, aí, pastor! Aí pastor! Me segure, pastor! Eu estou entrando no céu! Aí meu Deus! Aí meu Deus, pastor! Aí pastor! Me segure, pastor! Me socorra, pastor, eu estou chegando lá! Gema, pastor! Eu vou… Eu vou… Eu vou… entrar no céu, pastor!… aí… aí… uí… uí…aí!… aí… aí… aí… pastoooooooooor!…

Cabreiro e com a pulga atrás das orelhas com os gritos, o coração acelerado, as mãos geladas e coçando a testa no local donde nasce o chifre, Zeniltom abre a cortina para ver que desmantelo era aquele. Quando deu fé, percebeu que era a sua mulher, Carmosinha, com as pernas abertas na cadeira da jia, nua como veio ao mundo e o pastor Possidônio Samburá fazendo barba, cabelo, bigode e gluglu.

Desgostoso, e sem reação nenhuma, Zeniltom saiu da igreja mais desnorteado do que cego em tiroteio. Mais perdido que cachorro quando cai de caminhão de mudança, mais desorientado do que recruta em campo de batalha. Mas cambaleante do que bêbado quando sai do buteco, depois de tomar uns quatro litros de água que passarinho não bebe.

Completamente desnorteado, arrasado, deprimido e desiludido da vida, Zeniltom chegou em casa, pega uns fios de cem que havia comprado do armazém onde trabalhava, descasca uns dez metros, põe numa tomada, enrola o fio em todo o corpo, acocha com um alicate, tira a roupa de trabalho, e nu do jeito que estava, entra debaixo do chuveiro, toma um banho, e depois pega o gancho e enfia na tomada de embutir recebendo uma descarga elétrica de mais de 1000W, vindo a bater as botas na hora, ficando pretim, pretim!

Sem remoço e fria, Carmosinha, quando chega em casa e ver aquele “presunto”, liga para o pastor e este a orienta não fazer alarde, apenas comunicar o ocorrido à autoridade, à família, enterrar o defunto, regularizar a pensão, ficando estabelecido que todo mês a viúva alegre iria pagar 20% do dízimo em nome da igreja, e morreu o boi!

Além da carne mijada de Carmisinha o pastor Possidônio Samburá herdou também uma pensão vitalícia em forma de dízimo. É como diz Zezim Fonfon, o zelador do templo da (IIDGD): Tem gente que nasce com o cu para a lua: A sorte lhe vem de vento em polpa! Deus não dá o frio conforme o cobertor!

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