PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

Capa da 5ª edição de Zé Limeira, O Poeta do Absurdo, da autoria de Orlando Tejo

* * *

Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e o mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento
Teve um dia um pensamento:
“Tudo aquilo era boato”
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento!

Um dia Nossa Senhora
Se encontrou com Rui Barbosa
Tiraram um dedo de prosa
Viraram e foram se embora
Judas se enforcou na hora
Com uma corda de cimento
Botaram os filhos pra dentro
Foi pra arca de Noé,
Viva a princesa Isabé,
Diz o Novo Testamento.

Pedro Álvares Cabral
Inventou o telefone
Começou tocar trombone
Na porta de Zé Leal
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento.

Um sujeito chegou no cais do porto
E pediu emprego de alfaiate
Misturou cinturão com abacate
E depois descobriu que estava morto
Ligou seu rádio no focinho de um porco
E afogou-se num chá de erva cidreira
Requereu um diploma de parteira
E tocou numa ópera de sinos…
Eram mãos de dezoito mil meninos
E não sei quantos pés de bananeira.

Eu já cantei no Recife
Na porta do Pronto Socorro
Ganhei duzentos mil réis
Comprei duzentos cachorro
Morri no ano passado
Mas este ano eu não morro…

Sou casado e bem casado
Com quem não digo com quem
A mulher ainda é viva
Mas morreu mora no além
Se voltar um dia à Terra
Vai morar no pé-da-serra
Não casa com mais ninguém.

Lá na serra do Teixeira
Zé Limeira é o meu nome,
Eurico Dutra é um grande
Mas vive passando fome
Ainda antonte eu peguei
Na perna dum lubisome.

Minha mãe era católica
E meu pai era católico
Ele romano apostólico
Ela romana apostólica
Tivero um dia uma cólica
Que chamam dor de barriga
Vomitaro uma lumbriga
Do tamanho dum farol
Tomaro Capivarol
Diz a tradição antiga.

Minha avó, mãe de meu pai
Veia feme sertaneja
Cantou no coro da Igreja
O Major Dutra não cai
Na beira do Paraguai
Vovó pegou uma briga
Trouve mamãe na barriga
Eu vim dentro da laringe
Quage me dava uma impinge
Diz a tradição antiga.

Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí

Aonde Limeira canta
O povo não aborrece
Marrã de onça donzela
Suspira que bucho cresce
Velha de setenta ano
Cochila que a baba desce!

Quem vem lá é Zé Limeira
Cantor de força vulcânica
Prodologicadamente
Cantor sem nenhuma pânica
Só não pode apreciá-lo
Pessoa senvergônhanica.

5 pensou em “ZÉ LIMEIRA, O POETA DO ABSURDO (I)

  1. Nu tempu da monarquia
    Quani u chicoti istralava
    São Pedo colhia tava
    Ia na fera i vendia
    Jisuis qui lá residia
    Decretô armagedom
    Deu di vendê califon
    Cobrava os òio da cara
    Surra bom mesmo é di vara
    Orquestra só di piston!

    (Eu, brincando de Zé Limeira)

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