CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

TRISTE BAHIA

Hoje, como soteropolitano, pela passagem do aniversário da minha terra, me veio muitas lembranças da infância e da juventude na minha Ribeira.

Lembrei-me da lavagem do Bomfim; da segunda-feira gorda da Ribeira; das regatas na Enseada dos Tainheiros; das corridas de saveiros; das guerras de espadas no São João; do meu João Florêncio Gomes; da minha única professora do curso primário, Maria Dolores de Oliveira, na Escola Nossa Senhora da Penha; das meninas da praia do Bugari; das presenças repentinas de Raulzito, que na época era apenas mais um doido que frequentava a Ribeira, acompanhado do seu inseparável amigo Waldir Serrão; do trem suburbano que agente pegava para ir nas festas de Periperi.

Lembrei-me até do nosso hino de guerra. “Nós somos todos de Itapagipe, rapazes fortes da cabeça aos pés. Somos pequenos, porem abusados e só dormimos depois das dez. Nosso estandarte quem leva e o Borel, com uma garrafa de Pitu’ com mel e lá atrás vem Catuci’, com um tira-gosto de Siri’. Siri’, siri’…”

Podia listar ainda aqui, muitas marcas indeléveis que a minha Salvador me proporcionou, mas hoje não ‘e dia de comemorar nada.

Ontem a Bahia começou a escrever uma página negra na sua história com o fuzilamento do soldado Wesley Soares, apenas um infante, que se recusou de cumprir ordens de baixar o sarrafo em quem descumprir o lockdawn. Ele estava ali, demonstrando o que a maioria da tropa, teria vontade de fazer. Mas ele foi macho, não surtou coisa nenhuma e os seus superiores foram covardes, eliminando ali um brado de revolta contra as injustiças.

A exemplo da freira Joana Angélica, que defendeu seu convento jogando agua quente nos invasores e Maria Quitéria que se travestiu de homem para defender a Pátria, o Soldado Wesley foi imolado no principal portal de Salvador – o Farol da Barra – outrora quardião da Baia de Todos os Santos, ali onde milhares de baianos se dirigem nos carnavais atrás dos trios elétricos.

Ele quis mostrar ao Brasil, que está na hora de nos levantarmos contra a ameaça socialista.

O seu ato a partir de agora, pode ter dois desdobramentos: Ou o povo parte para uma reação contra a mordaça ou vamos para o cadafalso como cordeiros.

7 pensou em “WILTON CARVALHO – VITÓRIA-ES

  1. Caro Wilton,

    só tenho a deixar meus pêsames pela sua terra natal e exprimir gratidão por nos partilhar suas memórias afetivas, o que torna esse ocorrido ainda mais doloroso e indignante.

  2. Pois é…..

    Como já tinha previsto, vai ter de correr muito sangue para termos uma nação minimamente decente……

    Esta putaria do STF e a bandalheira no Congresso vai ter de acabar…….

    Democraticamente a canalhada nao quer, entao só vai na porrada…..

    Nao tem saida…….

    A gang do Pacheco e Lyra sao piores que Maia e Alcolumbre pois sao mais inteligentes e provavelmente mais venais
    Nao esquecer que Alcolumbre ta na CCJ do Senado, puto com o povao que nao permitiu reeleicao pra ele e o mano

    Infelizmente JMB ta com rabo preso dos filhos, amigo e esposa……
    Nao se pode contar com ele…. abrindo as pernas ao Centrao e nao conseguindo nada em troca para o Brasil….

    Vai ter de rodar também e isso significa mais sangue desnecessario de inocentes…

    Que bosta…. !!!!

  3. Wilton, ias indo tão bem, até quando veio a bobajada de “Ele quis mostrar ao Brasil, que está na hora de nos levantarmos contra a ameaça socialista”.
    A morte do soldado Wesley Soares é lamentável, eu não estava lá, desconheço as circunstâncias, me pergunto se poderia ter havido outro desfecho que não o de sua trágica morte.
    Entretanto, as indicações são de que, realmente, o Wesley passou por uma crise psíquica e não que tenha feito uma manifestação política lúcida, em estado de normalidade emocional, contra uma “ameaça comunista” que só existe na cabeça de Jair Messias Bolsonaro e sua turma de seguidores malucos.
    Não existe ameaça socialista no Brasil.
    Na verdade, estamos vivendo desde janeiro de 2019 uma ameaça da extrema-direita, com conotações fascistóides, comandada por um doido varrido.

  4. A BAHIA NA VISÃO DE GREGÓRIO DE MATOS

    A CIDADE DA BAHIA

    A Cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante

    Estás e estou do nosso antigo estado,

    Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,

    Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

    A ti trocou-te a máquina mercante,

    que em tua larga barra tem entrado,

    A mim foi-me trocando e tem trocado,

    Tanto negócio e tanto negociante.

    Deste em dar tanto açúcar excelente

    Pelas drogas inúteis, que abelhuda

    Simples aceitas do sagaz Brichote.

    Oh! se quisera Deus que de repente

    Um dia amanheceras tão sisuda

    que fora de algodão o teu capote!

    A BAHIA

    Tristes sucessos, casos lastimosos,

    Desgraças nunca vistas, nem faladas.

    São, ó Bahia, vésperas choradas

    De outros que estão por vir estranhos

    Sentimo-nos confusos e teimosos

    Pois não damos remédios as já passadas,

    Nem prevemos tampouco as esperadas

    Como que estamos delas desejosos.

    Levou-me o dinheiro, a má fortuna,

    Ficamos sem tostão, real nem branca,

    macutas, correão, nevelão, molhos:

    Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,

    E é que quem o dinheiro nos arranca,

    Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

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