Aquela seria a primeira vez que Maria viajaria de avião. Ernesto, seu marido, havia tirado três dias de folga do seu emprego no Banco do Brasil, em Natal, para aproveitar o feriadão do dia 8 de dezembro em Recife (PE).
Com ele, Maria estava certa de que não sentiria medo “das alturas”. Ledo engano. Subiu no avião com “o coração na mão”, praticamente, “puxada” por Ernesto. Tensa e assustada, Maria “perdeu a voz”. Sabia que se o avião “baixasse um pneu”, não tinha acostamento para fazer a troca. Encolhida à janela do avião, Maria fixou os olhos nas nuvens, sem olhar para o rosto do marido. Mas não soltava sua mão, apertando tanto, a ponto dele achar graça e dizer que estava vendo a hora ela quebrar sua mão esquerda.
O que seria uma viagem rápida, de 35 minutos, para ela parecia que estava atravessando o Oceano Atlântico, num voo de várias horas.
O nervosismo de Maria era visível e Ernesto, que já era acostumado a viajar de avião, se divertia com isso.
Naquela época, década de 70, as companhias de aviação serviam refeições durante as viagens. Logo após a decolagem, foi servido o café da manhã. Maria mal se serviu, preferindo apreciar a “paisagem”.
De repente, teve a certeza de que o avião estava sobrevoando Tangará (conhecida, antigamente, por Riacho), cidade do Rio Grande do Norte, parada certa do ônibus que fazia a linha Natal/Nova-Cruz – Nova-Cruz/Natal, da Viação Riograndense.
Surpresa, Maria falou:
– Oxente! Estamos sobrevoando Tangará?!!!
A voz de Maria foi abafada pela voz da aeromoça, que anunciava:
– Senhores passageiros, dentro de 10 minutos estaremos aterrissando no Aeroporto dos Guararapes, Recife, Pernambuco, Brasil! Tempo bom e temperatura marcando 28 graus.
Maria, morta de vergonha, se sentiu uma verdadeira “beradeira”. Havia falado uma besteira, coisa de matuta mesmo, que nunca tinha viajado de avião. Até então, ela só tinha se aventurado na Onda Marinha, na Roda Gigante e nas Canoas do Parque de Diversões “São Luiz”, nas festas de final de ano em Nova-Cruz, sua terra natal.
Não deu tempo nem de Ernesto terminar de tomar o café da manhã. Foram, apenas, 35 minutos de voo.
Maria ficou sem acreditar, que o avião já houvesse chegado ao Recife. Sentiu um alívio imenso, ao desembarcar. Mas não venceu o medo, e até hoje tem pavor a viajar de avião.
Parafraseando o saudoso Ariano Suassuna, Maria não se cansa de dizer: “Tenho horror a viajar de avião”.
Minha cara e divina Violante, nesta questão de avião, eu estou mais para o Ernesto. Quando viajo, me divirto (sem externar isso, é óbvio) vendo as Marias ou os Josés que estão apavorados com o levantar voo e a aterrissagem do avião.
Um beijo, minha querida.
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado João Francisco!
Conheço varias pessoas,que tem pânico, quando se veem num avião Tanto homens como mulheres. Pessoas acostumadas a viajar mas que nunca perderam o medo.de avião.
O escritor Ariano Suassuna, como também o saudoso cantor e compositor Dominguinhos tinham pavor a avião e o último fez inúmeros shows pelo Brasil afora, viajando sempre por terra.
Um beijo para você também, querido amigo!
Querida Violante, que fique claro, não debocho do medo de ninguém de voar, pois sei que isso independe da vontade própria e é uma fobia. Só não me acostumo com gritos nas decolagens ou aplausos para o comandante depois da aterrissagem, como se o mesmo tivesse feito algo heroico ao pousar o avião.
Bom fim-de-semana, minha cara.
Concordo com você, querido amigo João Francisco. Nada de exagero, nem de cavilação……rsrs
Bom fim-de-semana para você também!
D. Violante,
A grande arte do cronista é criar do nada uma historieta interessante como aquelas que a senhora sabe produzir.
Parabéns por mais esta tão deliciosa.
Carlos Eduardo
Obrigada pelo gratificante comentário, querido cronista Carlos Eduardo!
Fiquei lisonjeada com as suas palavras.
Concordo com você, quando diz:que “a grande arte do cronista é criar do nada uma historieta interessante…….”.
Sou fã dos seus escritos!
Grande abraço, e um excelente final de semana!
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Delícia de história, Lady Violante!
Consta que, o próprio Jô Soares, pra entrevistar o
Ariano Suassuna, teve que vir a Recife. Pois o Mestre Ariano, se recusou a viajar de avião.
O medo de viajar de avião é uma realidade. Se houvesse pesquisa, constatar-se-ia um sem-numero de “Marias”, espalhados pelo “ôco do mundo”, como diria Jesus de Ritinha..
Bom fim de semana.
Obrigada pelo carinho do comentário, prezado Marcos André!
Realmente, o Mestre Ariano Suassuna falava, abertamente, do seu medo de avião, preferindo dar entrevistas em Recife mesmo.
Conheço muitas pessoas que tem crise de pânico, quando se veem “trancadas” num avião.
E o medo aumenta ainda mais, à medida que a mídia “funerária” mostra com detalhes os lamentáveis acidentes aéreos, que tem vitimado inúmeras pessoas, inclusive pessoas conhecidas.
Bom fim de semana para você também, querido amigo!
Grande abraço!
Vivi,
Confesso não ser muito fã de “bicho que avoa arriba do solo”, mas (emplumado mas), sempre que necessário não deixo de “levantar voo”. Confesso ainda que voamos mais tranquilos quando embarcamos em suas crônicas.
Lembro de minha época do Exército onde as operaçoes em helicópteros ou no Hércules traziam ao jovem Sancho muita adrenalina e ação. Hoje me contento com o Quixote Véi di Guerra a rodar por estradas, com os pneus firmes no solo.
Que a amiga empreste a Sancho suas belas asas para voarmos juntos por este JBF de tanta gente maravilhosa.
Um imenso final de semana à querida amiga de literatura e paixão pelo bem escrever.
Obrigada pela doçura do comentário, querido cronista Sancho Pança!
Senti-me lisonjeada com suas palavras!
Não gosto de viajar, principalmente de “asa dura”. Prefiro terra firme.
Mas, (usando o seu “emplumado “mas”), já viajei várias vezes, “fazendo das tripas coração”. rsrs.
Grande abraço e um excelente final de semana!
Violante,
O seu talento permite transformar a aerofobia numa excelente crônica para diversão dos leitores fubânicos. “Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a tua mão” já cantarolava Belchior no final da década de 70. Apesar do romantismo da canção, o medo de voar atinge grande parcela da população mundial e pode acarretar prejuízos financeiros, de saúde e sociais. Decolagem, aterrisagem, turbulências ou mesmo a simples ideia de sair do chão são causa de arrepios para muitos.
A pessoa pode ter medo de voar por certos medos inatos, como altura e lugar apertado, mas também pode sentir medo devido a experiências ruins em voos anteriores. Alguém também pode sentir medo de avião sem nunca ter voado, porque alguém da família tem muito medo ou porque algum conhecido sofreu um acidente ou teve péssima experiência aérea.
Compartilho nesse espaço democrático do JBF um cordel da poeta Fátima Almeida sobre aerofobia com a prezada amiga:
MEDO DE AVIÃO?
NUM É SÓ VOCÊ NÃO.
Conhecer terras distantes
Ir do Recife ao Japão
Sobre nuvens flutuar
Ficar a milhas do chão
Uma aventura sem igual
Encanta qualquer mortal
Que vive nesse mundão.
Mas não é simples assim
Quando se vai viajar
A bordo de um avião
Pesado e solto no ar
Muita gente amarela
Tem um medo que se pela
Antes de ir, quer voltar.
Imagine só você
Quanta gente se conhece
Que perde oportunidade
Quando essa lhe aparece
Apesar de ser famoso
Isso não tira o nervoso
Nem tão pouco o estresse.
Sanfoneiro Domiguinhos
Decidiu não mais voar
Já faz mais de vinte anos
Nem adianta forçar
Só viaja pelo chão
Carro, trem ou caminhão
Para então se apresentar.
Ariano Suassuna
Escritor de muita estima
Achou bonitas as nuvens
Que se avista lá de cima
Porém prefere a paisagem
Que se vê numa viagem
Por terra em qualquer clima.
Um medroso assumido
Veja o cantor Ed Motta
Fica ainda mais cismado
Com toda aquela marmota
“Pra que saber meu irmão,
Quantos metros tá do chão
Isso é o que menos importa”.
Já o famoso sambista
Nosso Zeca Pagodinho
Fala com todas as letras
“Voar é pra passarinho
Vôos internacionais,
Eu não quero ir jamais,
Nem depois de alguns golinhos”.
O grande Oscar Niemeyer
Um arquiteto sem par
Hoje com cento e dois anos
Não quer saber de voar
Nem de boing, nem jatinho
Só carro e de vagarzinho
Sem pressa para chegar.
Outro dia eu assisti
Passou na televisão
O ator Lázaro Ramos
Não curte também avião
Quando está lá nas alturas
Chega a ter até tonturas
Prefere ficar no chão.
As aeromoças já sabem
Wanessa Camargo é medrosa
E fica desesperada
Cabreira e bem nervosa
Ás vezes chega a chorar
Viajando pelo ar
O medo a deixa manhosa.
E o refrão de Belchior
“Foi com medo de avião”
Fala de um alguém nervoso
Que segura a sua mão
Todo mundo compreende
Que I wanna hold your hand
Complementa esta canção.
Mas pra que tremer nas bases
Se dizem que há segurança
As pesquisas asseveram
Que pode ter confiança
Voar é a forma ideal
De correr mundo afinal
Pois encurta a distância.
Estudos é que garantem
Eu só fiz mesmo escrever
Em batida de automóvel
As chances de alguém morrer
Quinhentas vezes maior
Assim, voar é melhor
Incrível, mas pode crer.
Palavras cruzadas ajudam
Na hora que o medo vem
Não olhar pela janela
Segurar a mão de alguém
Um chazinho relaxante
Ou até mesmo um calmante
Rezar o credo e amém!
Fugir daquelas conversas
De gente inconveniente
Que é muito pessimista
E só fala em acidente
Remexe no que passou
Com a TAM e com a GOL
Chega a ser impertinente.
Icaro teve seu sonho
Os homens querem voar
Ter liberdade de um pássaro
Para partir e chegar
Conhecer terras sem fim
Tókio, Miame, Berlim
Voando por sobre o mar.
Da revista Conterrâneos
Parte da história tirei
Coisas bem interessantes
Que para cordel passei
Parabenizo a Luana
Pela matéria bacana
Mas desculpe o que aumentei.
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde, alegria e felicidade
Aristeu
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu, e por compartilhar comigo o genial Cordel da poeta Fátima Almeida, sobre aerofobia!
Adorei!
Concordo com você, quando diz:
… ” o medo de voar atinge grande parcela da população mundial e pode acarretar prejuízos financeiros, de saúde e sociais. Decolagem, aterrisagem, turbulências ou mesmo a simples ideia de sair do chão são causa de arrepios para muitos.”
O medo de avião pode levar à crise de pânico, o que, às vezes, requer tratamento médico especializado.
Desejo a você também, um final de semana pleno de paz, saúde, alegria e felicidade!
Grande abraço!
Tenho que concordar com Maria. Já dei umas “vortinha” no bicho, mas nunca me senti à vontade, rsrs. Prá mim, voar, é coisa de passarinho.
Obrigada pelo comentário gentil, prezado Beni Tavares!
Concordo com você, quando diz:
“Prá mim, voar, é coisa de passarinho”.
Também estou do lado de Maria.rsrsrs
Detesto “asa dura”. Gosto mesmo é de terra firme. rsrs.
Grande abraço!
Bom final de semana!
Queridíssima Violante Pimentel, ou (príncipa Vivi), como a chama o genial Sancho.
“Viagem de Avião” é uma dessas crônicas que relata um episodio pitoresco da vida cotidiana de Maria com muita graça e senso de humor, que só a Dama das Crônicas do JBF tem talento para narrar com muita elegância.
Logo no início da “avoação” dessas máquinas, hoje eficientíssimas e seguras, provocou muito temor em homens e mulheres, principalmente quando havia um acidente em proporções midiáticas muito grande, ou quando envolvia pessoas conhecidas da mídia social.
O medido de Maria, pelo que narra a grande colunista, era do desconhecido. Fatos dessa natureza aconteceu com muita gente, que hoje perdeu o medo e anda como se estivesse passeando de barco no mar, o que pode ser mais perigoso.
Parabéns, Violante, pela excelente crônica. Um ótimo final de sema para a nobre colunista e seus entes queridos.
Obrigada pelo carinho do comentário, querido cronista Cícero Tavaresí
Literalmente, Maria era “marinheira” de primeira viagem. rsrs Nunca tinha viajado de avião. Tinha medo de ter medo.rsrs.
Concordo com você, quando diz:
“Logo no início da “avoação” dessas máquinas, hoje eficientíssimas e seguras, provocou muito temor em homens e mulheres, principalmente quando havia um acidente em proporções midiáticas muito grande, ou quando envolvia pessoas conhecidas da mídia social.”
Entretanto, mesmo com as eficientíssimas e seguras máquinas da atualidade, Maria continua com o mesmo temor de viajar de avião, assim como acontece com inúmeras pessoas.
Um ótimo final de semana para você também e seus familiares, querido Cícero Tavares!
Grande abraço!