Recife, a Veneza Americana
Inspirado em notas de Fernando Novais, quando se referiu à minha cidade como “Porto dos Arrecifes”, informo que ao me dedicar a estudos sobre a obra de Francisco Augusto Pereira da Costa – Anais Pernambucanos – observei que a capital do meu estado já foi conhecida – inclusive em documentos antigos e por vozes populares – por vários topônimos, o que me chamou a atenção para o tema desta crônica historiográfica.
Ouvi falar em várias denominações da cidade, desde as populares às documentadas. E falarei um pouco sobre o tema.
Inicialmente conhecida como “Porto de Olinda”, (atual Bairro do Rio Branco) porque ali se instalou a zona de atracação de navios. Em seguida, foram construídos os armazéns, uma balança para pesar caixas de açúcar e pau-brasil; depois, face ao progresso, surgiram algumas casas de moradia.
Séculos a seguir, veio um traçado de metrópole, com as duas avenidas principais – Rio Branco e Marquês de Olinda, prédios em estilo neoclássico e uma moderníssima ponte-giratória. Até o início dessas reformas era chamada: “Ribeira Marinha dos Arrecifes”.
Mais adiante, desejando Nassau planejar a “Metrópole Brasileira”, focou um novo traçado para ruas e casas, na parte que era conhecida como “Ilha de Antônio Vaz”, ficando a região do porto referida como “Rio Branco” e “Bairro do Recife Antigo”, passando a atual área de Santo Antônio a ser conhecida como “Cidade Baixa”, dado à relação com Olinda, que era a Cidade Alta.
O Recife deixou, em passados anos, de ser “Aldeia do Recife” e começou a disputar com Olinda – que era a “Cidade Alta” – o privilégio de ser uma cidade que cresceu e se tornou capital de Pernambuco. A denominação de “Cidade Baixa” foi criada pelo pirata inglês James Lancaster, que passou pelo Recife em 1594, para fins de saque.
“Aldeia do Recife” e “Povoamento do Recife” foram dois topônimos que seus habitantes ouviram falar, com certa insistência, a partir de 1630. É interessante assinalar que o principal bairro do Recife – que viria a se chamar oficialmente: Bairro de Santo Antônio e contava apenas com 130 casas sendo os sobrados de um e dois andares, além de lojas.
Fico imaginando como essa cidade conseguiu acomodar tantos soldados que vieram da Holanda para tomar o Brasil de assalto, aqui permanecendo durante o período de 1630 a 1654.
Quando o Príncipe Maurício de Nassau aqui chegou e começou a traçar as linhas de uma urbe moderna, concentrou na Ilha de Antônio Vaz a sede do Governo, instalando os tribunais, a Casa da Moeda, a alfândega, as repartições públicas e o empório comercial. Recife tomou corpo. Seria nos anos 1950, com o advento das iniciativas da Sudene, a “Metrópole do Nordeste”.
Com o passar do tempo outras denominações foram aparecendo em jornais: “Cidade dos Rios e das Pontes”, “Cidade dos Arrecifes”.
Uma das mais importantes denominações foi “Cidade Maurícia”, em homenagem popular ao alemão Johann Moritz von Nassau-Siegen, nascido em Dillenburg, que aqui chegou contratado pela Cia. das Índias Ocidentais, no período da invasão holandesa, para ser o Administrador de Pernambuco, pessoa que deu ao lugar foros de “Capital do Brasil holandês”, outro título importante do Recife.
Uma curiosidade! Há vozes correntes e títulos de livros que costumam citar o nome abrasileirado – Maurício de Nassau – como nascido na Holanda, quando, na verdade, era um príncipe alemão e cujo registro de nascimento consta da forma como se escreve no idioma germânico: Johann Moritz.
Em dias recentes eufemisticamente denominnaram minha cidade como: “Recife – Capital do Frevo e do Maracatu”. É mesmo! Para confirmar bastaria se ouvir Cristina Amaral cantando “Recife Manhã de Sol”, notável peça de Jota Michiles, e por esse motivo já poderemos batizá-la com nova denominação: “Recife – Primavera dos Amores”. Vejamos:
Recife Manhã de Sol – De Jota Michiles e interpretação de Cristina Amaral
Todavia, teremos que considerar que em 1938, o radialista Luiz Campos – mais conhecido como Ziul Matos, escreveu os versos e o maestro Nelson Ferreira musicou o frevo-hino que tem atravessado os tempos, tornando nossa cidade a encantadora:
“Recife – Veneza Americana”. Autores: Ziul Matos e Nelson Ferreira
Com o coral misto da Fábrica de Discos Mocambo
“És Veneza Americana
Do mais lindo céu de anil
Minha terra hospitaleira
Namorada do Brasil”.
E assim, considero o Recife não apenas “A Namorada do Brasil”, mas a cidade que é a “Veneza da América do Sul”, portanto, a “Veneza Americana”.
Primoroso texto!
Uma crônica CHEIA DE GRAÇA e de GLÓRIA.
Parabéns, colega e amigo Carlos Eduardo!
Agora fiquei conhecendo mais ainda a bela história do Recife, escrita com a tinta do coração de quem verdadeiramente ama seu torrão natal.
Fraternal abraço,
Boaventura Bonfim
Fortaleza-CE.