XICO COM X, BIZERRA COM I

Ano 1524: Vasco morreu e Luiz nasceu. 500 anos se passaram desde então. Um, nascido em Sines, foi e voltou ao fim do mundo, enfrentando marolas e tempestades, frágeis caravelas; o outro, dos Macedo de Santarém, Ana de Sá, sua mãe, dedicou-se à Poesia, escreveu um longo Poema, que todos citam e que poucos leram. No norte da África, dizem, deixou um olho. Coincidência, ambos passaram por Goa, na Índia, onde Vasco foi vice-Rei.

Ano 1974: há 50 anos, num 25 de abril, conta a lenda que uma tal Celeste Caeiro (adoro esses sobrenomes lusos, poéticos por natureza) foi sumariamente demitida do restaurante em que trabalhava ante a iminência de uma revolução que se anunciava. Os cravos que seriam distribuídos à clientela naquele dia foram por ela levados e antes de chegar a seu quarto, no Chiado (também aprecio os nomes dos bairros lisboetas – Alfama, Rossio, Arroios) deparou-se com soldados perfilados na baixa de Lisboa e a eles ofereceu as flores que levava. Ante a graciosidade do gesto, os soldados colocaram os cravos na boca de seus fuzis. Deles, não brotariam balas. Ali batizou-se a queda da ditadura.

Ano 2024: Quem dera pudesse a humilde Celeste, em pleno Mosteiro dos Jerónimos, 50 anos depois, depositar seus cravos vermelhos nos túmulos onde descansam o Poeta e o Navegador. E eu, que já gostava da arte brasileira de Grande Otelo e Caetano Veloso, passei a gostar mais ainda de seus homônimos, Otelo e Caetano portugueses, por terem livrado seu povo dos 48 anos de tirania de uma ditadura fascista e de 13 anos de guerras coloniais. Salve Angola, Moçambique e Guiné Bissau! Vade retro, Salazar!

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  1. Um artigo erudito do mestre de todos nós, o enorme Xico Bizerra. Um grande privilégio, de seus leitores e devotos. Viva Portugal. E viva Xico.

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