MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

Imaginei dois cantadores fazendo repente de versos contraditórios.

Ficou assim:

Hoje em dia não me espanto
Com nada do que acontece
Nem com fumaça que desce
Nem com bola que tem canto.
Tá tudo estranho num tanto
Que poste mija em cachorro
Na cabeça, em vez de gorro,
Tem gente usando sapato,
O rato persegue o gato,
Mas eu, de tédio, não morro.

Se mandar parar, eu corro
Se mandar correr, eu paro
Baixando o preço, acho caro.
Se me matarem, não morro.
Só vou a pronto-socorro
Se não estiver doente.
Animal, pra mim, é gente,
E gente é bicho selvagem,
Vou partir numa viagem
Pra ficar aqui presente.

Eu, tomando um caldo quente,
Quase queimava o meu pé.
Pedi então um café,
Que é bebida transparente.
Um ateu disse: – Sou crente!
Mas só creio duvidando.
Se eu sair, já vou chegando.
Todo largo é muito estreito.
Todo impossível tem jeito,
Já começo terminando.

Eu termino começando,
Eu construo destruindo,
Se estou voltando, estou indo,
Se estou indo, estou voltando.
Vi uma cobra voando
E um falcão que se arrastava.
Vi um mudo que falava,
E um cego que tudo via.
Anoiteceu meio-dia
Mas nenhum galo cantava.

9 pensou em “UNS VERSOS

  1. Mestre Marcos Mairton,

    É sempre bom tê-lo junto da gente por meio de suas crônicas, contos e cordéis.

    O Jornal da Besta Fubana fica mais rico, culturalmente; e a gente mais sabido.

    Juro como ficou feliz quando leio seus repentes de versos contraditórios, e/ou outros versos e crônicas.

    Quanto mais houver, mais debates aparecerão. E a gente sai por aí trocando ideias.

    Obrigado!

  2. Versos bonitos e bem pensados ,mas jeito que a coisa vai dá até para afirmar que o contraditorio dos versos está uma coisa normal.
    Coloque-os numa mesa com a justiça e a política e verá que esta normal,normal .normal .
    Por exemplo a expressão ” poste mijando em cachorro” . Aconteçe !.
    “Ateu dizendo sou crente ” aqui mesmo tem fotos de alguns deles dentro de igreja .
    E por ai vai……………………………………………..Vou para por aqui , pois já vi mudo pedindo ajuda dentro do trem ( eles colocam um papel no colo da gente ) , e conversando a tarde numa estação . Também já vi cego apreciando um belo par de pernas . E já tinha dado uns trocados ao pilantra. Hoje estou menos sensível a estes atos.

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