O escritor Georges Bernanos, francês de índole católica, dizia que “nada é mais ridículo do que um velho enrabichado.” E Alceu Amoroso Lima, o extraordinário Tristão de Athayde, complementava: “Nada mais contra a natureza das coisas e aos olhos de Deus do que a velhice inconformada com a morte.” Morremos muitas vezes ao longo da nossa existência: quando um amigo se vai, diante dos punhais cravados pelos parentes aparentes, pelas animalidades cometidas pelos amigos de mentirinha ou quando as arrogâncias corroem um debilitado humanismo século XXI. Ao longo das nossas vidas, diante da inexorabilidade da eternização, tomamos quatro atitudes diferentes. Quando crianças, a morte nos é indiferente. Nutrimos por ela uma curiosidade idêntica às demais sentidas diante do imprevisto. Nenhum valor específico lhe atribuímos, posto que ela não provoca qualquer reação mais profunda. Um acidente da vida como outro qualquer. O escuro, quando se é criança, provoca muito mais medo que a própria morte. Para não falar das almas do outro mundo. Brinca-se até de morto como se brinca de bandido ou de mocinho. Ou de professor. Ou de dona de casa, as meninas-da-casa fazendo comidinha para as meninas-visitas, as mais gulosas.
Na adolescência, principiamos a pensar na morte. Idealizamos a morte, mitificamos a morte. E começamos a pensar na própria morte. E principiamos a morrer, diante dos primeiros desmoronamentos provocados em nosso castelo-derredor. Mas ainda encaramos a morte como final de uma aventura, sem tropeços nem maldades, apenas coroamento, sem as pedras do caminho. Na juventude, a morte torna-se companheira quase brincante. Conceito romântico, substituindo a indiferença da primeira idade.
A inimizade se inicia na porteira da maturidade. A morte torna-se a maior inimiga, temida, mais analisada, filosófica e religiosamente. A indagação de São Paulo inquieta: “Morte, onde está tua vitória?” A morte é término ou passagem? Túmulo ou túnel, como magistralmente o saudoso Pastor Campos, o pai da amiga Pérola, costuma dizer em suas pregações. Com crença ou sem ela, a agonia da morte se torna presente e o viver um contínuo e resoluto foco de resistência.
No último quadrante da vida, entretanto, “a mesa está posta e a cama feita”, como nos dizia o poeta Bandeira, que vivia aos trancos e barrancos com a Última Dama. Nessa fase, exige-se serenidade, capacidade de rever caminhadas menos felizes, emergindo a convicção de que bem outras seriam algumas das estratégias tomadas. se os fatos fossem encarados com a mentalidade dessa fase da vida. Creio que a concepção da morte é determinada pela concepção que se faz da vida. Superar a morte, eis o desafio maior dos libertos dos encantamentos supérfluos, das prestimosidades dos lambetas, das pantufas sabichonas, dos burregos tecnocratas que desconhecem os valores de uma sociedade emergente e dos recalcados recalcitrantes, que se imaginam eternas vítimas, cordeirinhos imolados de um mundo que não os compreende devidamente. Sem falar dos azedos – homens, mulheres e demais gêneros – que imaginam sempre estar em ambientes europeus, reinos se possível, os daqui nada mais sendo que peças fétidas de um contexto de ofuscados pelas suas “luminosidades.”
Sejamos metamorfoses ambulantes pensantes sempre, para compreendermos bem a significância do que existe do outro lado do mundo existencial.
“Sejamos metamorfoses ambulantes pensantes sempre, para compreendermos bem a significância do que existe do outro lado do mundo existencial.”
Ual!
Não entendi nada, mas meu domingo ficou mais paulofreireano agora.