CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Frase de Don Vito Corleone no filme o Poderoso Chefão

Ademilton nasceu numa cidadezinha pobre do interior nordestino, onde só havia três ruas, a principal e duas secundárias, sem asfalto. Nasceu uma criança magra, raquítica, anêmica, qual um “Tibicuera”, mas na adolescência recuperou essa deficiência orgânica com umas “paneladas” que a mãe, Dona Abigaí Franzina, preparava em segredo e lhe dava à noite, antes de dormir.

Cedo descobriu que tinha vocação para cozinhar bem, hábito herdado da mãe que, onde punha as mãos habilidosas no tempero, transformava qualquer prato caseiro em iguaria deliciosa, sem nunca ter recebido orientação gastronômica. Tudo lhe era intuitivo.

Depois que ficou adulto Ademilton confessou a mãe que queria viajar para a cidade grande, trabalhar em cozinha ou montar seu próprio negócio focado em comida, mas algo o bloqueava de fazer o que mais gostava: sua condição homossexual, que a mãe já tinha notado desde criança e nunca o recriminou, por isso mesmo lhe era uma das maiores incentivadoras.

Já com seus dezoito anos completo e focado nas suas pretensões gastronômicas, Ademilton reuniu a mãe, o pai e os irmãos, confessou-lhes “que lugar pequeno não lhe dava futuro, espaço para ele se desenvolver”, por isso mesmo estava viajando para a cidade grande com o propósito de investir na profissão de cozinheiro, sua verdadeira vocação. Quando tivesse estabelecido viria buscar a família para formar a sociedade.

Os pais e os irmãos o apoiaram, desejando-lhe grande sucesso na empreitada, o que fez com que Ademilton se sentisse mais seguro da sua decisão.

Ao aportar na cidade grande, vindo por um ônibus da Itapemirim, Ademilton alugou um quartinho no centro da cidade, num local movimentado, com o dinheiro que os pais lhe deram para se virar por uns dias enquanto não arranjasse emprego ou abrisse o seu negócio dos sonhos.

Intuitivo, ele logo percebeu que havia ancorado no lugar certo e, com seu faro gastronômico, percebeu que no lugar onde ficou não havia um ponto comercial decente, acolhedor, que absorvesse toda aquela gente que saia do trabalho a procura de comida para almoçar, bebida, lazer, diversão, arte, mulher…

Um dia, vagando pela cidade e estudando todas as possibilidades comerciais possíveis, Ademilton entrou no cinema onde estava passando “O Poderoso Chefão”, primeiro filme da trilogia dos Vito Corleone, dirigido pelo magno Francis Ford Coppola. Quando terminou a exibição do filme ele ficou atordoado com os diálogos, sobretudo com as célebres frases sobre empreendedorismo ditas por Don Vito Corleone, como: “Nunca desvie o foco do seu negócio, mesmo que apareçam propostas tentadoras. Isso acaba lhe prejudicando e você pode não saber onde vai chegar.” Dentre outras.

Depois que saiu do cinema, Ademilton já tinha pronto o protótipo do seu projeto comercial na cabeça e no outro dia começou a pôr em prática sua ambição. Montar o restaurante com todos os pratos que a mãe lhe ensinara, e mostrar aos fregueses que a comodidade em gastronomia havia chegado.

Com menos de um ano de inaugurado o restaurante de Ademilton era sucesso absoluto nas redondezas no ramo da culinária típica da região, mas com pratos de nomes criativos bolados por ele, além de outras diversões.

Mas como na vida nunca se sabe o que o futuro lhe reserva, Ademilton não seguiu as lições de Don Vito Corleone e se juntou a comerciantes inescrupulosos da área que com inveja da ascensão do jovem promissor mandaram-no matar para “eliminando a pedra do meio do caminho.”

A Polícia não apurou quem cometeu o crime. Em consequência ninguém foi preso e nunca se soube dos autores da execução e mandantes. O restaurante do jovem promissor foi fechado, todos os funcionários foram dispensados e a família, cujo sonho era trabalhar junto para crescer junto, ficou apenas na esperança.

Infelizmente Ademilton não seguiu os conselhos de Don Vito Corleone, que vale para qualquer época.

Seis lições do filme O Poderoso Chefão para empreendedores e líderes:

11 pensou em “UMA CRÔNICA TRISTE

  1. Pois é Cícero. Empreendedor precisa explorar o que faz. É preciso ser um camaleão, mas dentro da área de conhecimento

  2. Maurício Assuero, grande articulista do Jornal da Besta Fubana, o maior jornal internético que surgiu no universo virtual, após a criação da INTERNET. Essa história é real, deu-se quase do mesmo jeito que está posta, infelizmente.

    Apesar do ano que aconteceu, anos oitenta, a Polícia da época já era corrupta. Descobriu-se os mandantes do crime, os executores, e a grana que rolou ganhou o silêncio de alguns membros da honrada Instituição.

    Infelizmente o jovem promissor não seguiu os conselhos do sábio Don Vito Corleone e caiu numa cilada. O empreendedor foi silenciado com cinco balaços na cabeça por ser inteligente, promissor e gostar de trabalhar.

    Faz parte da vida, e Banânia acoita!

  3. O filme Poderoso Chefão é para mim o maior de todos os tempos, os 3 são ótimos, porém o primeiro e o segundo se destacam. A Sofia Coppola e o Andy Garcia atrapalharam o último.

    Não me canso de assistir. A cada 4 ou 5 anos assisto aos 3, já fiz até maratona de 9 horas.

    Quem quer aprender também o que é conservadorismo, tem que assistir.

    Hoje nos filmes é só lacração.

    • Caríssimo comentarista João Francisco,

      Muito obrigado pela leitura e comentário. Gostamos de ser lidos. Isso lava a alma e enobrece o ego, principalmente se o comentário vem de um comentarista talentoso feito você.

      Quanto ao filme, o nobre comentarista já o definiu muito bem: vale ser assistido centenas de vezes.

      Pena o Ademilton, à época da traição, ainda ter sido tão inexperiente porque senão teria sacado as lições do mafioso Don Vito Corleone.

      Forte abraço com ótimo início de semana para o nobre amigo e família!

  4. Não entendi meu querido, que lugar é este que só tem duas ruas , a principal e duas secundárias sem asfalto . E este rapaz alegre deveria ter dito que : se eu lavo Não cozinho e se eu cozinho Não lavo !. Agora isto me deu força , vou fazer valer meu cnpj . Vou entrar para mafia que ainda insiste em permanecer no governo . Pegar umas mamatas com estrume ou bosta. Dá dinheiro ! , pergunta para o defensor dos corruptos. Desculpe as brincadeiras Cícero , mas que o filme é bom , não resta dúvida.

  5. Caríssimo Joaquimfrancisco,

    Você não tem de agradecer nada, caríssimo. Eu é que tenho de agradecer o comentário.

    1) Não mencionei o nome do município porque a tragédia até hoje ainda abala a família, apesar de ter já se passado mais de trinta anos.

    2) O rapaz alegre era muito honesto e inteligente, mas para a vida ele era muito inexperiente, não possuía a tarimba dos mafiosos do ramo do comércio.

    3) Não envolvia nada de governo. Tudo era particular.

    4) A homossexualidade nele era patente, porém durante o tempo que ele se dedicou ao comércio, segundo ainda a família, não chegou a soltar a franga porque tinha medo.

    Forte abraço e ótimo início de semana para o nobre comentarista!

  6. O mês de agosto em muito tem inspirado nossos colunistas…É cada crônica… Que Deus os abençoe.

    Todos nosotros tomamos decisiones terribles todo el tiempo. Excepto yo, yo soy infalible… O rapaz fez péssimas escolhas…

    Como sou infalível, tenho tomado minha dose diária, não de ozônio, que não sou desses, mas (benedicto mas), de colunistas fantásticos que pululam nas páginas fubânicas.

    Grandissíma crônica, imenso Tavares.

    Falando em Tavares, beijão fraterno para os três: Beni, Cícero e Arthur.

    • Sancho quase vizinho do apê do lula ( que perigo! ), tu andas falando muito no tratamento itajaiense. Mas saiba que um conhecido meu (conhecido de vista , de longe , muito longe ), ao tomar umas cangibrinas deixou escapar que o ruim não é soltar a franga , e sim o bafo quente no cangote!. Mas olhe o prefeito ozônico já anunciou que vai adotar o tratamento medicamentoso da hidroxicloroquina . na sua cidade. Disse que Bolsonaro tem razão ao defender o uso da cloroquina. Eita mundo que dá voltas !. E como és caminhoneiro , lembrei de um velho slogan : O mundo gira , a Lusitana roda!.

      • O mundo gira , a Lusitana roda!.Para quem não sabe, a Lusitana é (ou era, nem sei se ainda está na ativa) uma transportadora, e aquele slogan reforçava a ideia mágica da mudança, e, mais do que isso, reforçava a marca de forma brilhante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *