VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Um presente é um mimo, um regalo, um carinho, um gesto de delicadeza, que se dá a alguém, espontaneamente. Normalmente, isso ocorre em datas de aniversário natalício. Demonstra, antes de tudo, um elo de consideração e afeto entre duas pessoas. O gesto, por si só, é o verdadeiro presente.

Há pessoas que não pensam assim, e tem a crônica mania de trocar por coisa diferente, qualquer presente que recebem. É como se quem as presenteou não tivesse bom gosto. Essas pessoas não valorizam a escolha de quem comprou o presente, e a primeira iniciativa é irem à loja onde o mesmo foi adquirido, para providenciar a troca e saber quanto custou. Se se tratar de peça de vestuário, não trocam nunca por número maior ou menor. Querem, tão-somente, um presente diferente daquele que lhes foi dado. E fazem questão de revelar a troca do presente, à pessoa de quem recebeu. É um modo estranho de ser.

Para mim, um presente recebido, antes de tudo, traz consigo o perfil e o gosto de quem o comprou. Não vejo nele o valor monetário, e o carinho que ele representa não tem preço. Não costumo trocar os presentes que recebo, nem tenho coragem de dizer à pessoa que me presenteou, o que já ouvi: “Se eu não gostar, eu troco por outra coisa.”

Considero isso, o cúmulo da indelicadeza. É a curiosidade mórbida, que compõe o caráter dessas pessoas, que as leva à loja, onde foi adquirido o presente, para saber seu preço. A segunda providência é trocar o presente por outro diferente, ou até por mais de um, quando o preço foi alto.

Essas pessoas, que sofrem da mania de trocar qualquer presente que recebem, só não devolvem a mercadoria na loja e pedem o dinheiro que o adquirente pagou, porque há uma regra no comércio, que diz: Mercadoria não se devolve; troca-se. Somente em caso de vício redibitório (defeito), o comprador poderá optar pela devolução da mercadoria e recebimento do dinheiro pago. Entretanto, esse direito é próprio do adquirente da mercadoria e não de quem a recebeu de presente.

O valor emocional de um presente não diz respeito ao preço, mas sim à afeição que liga a pessoa que deu o presente àquela que o recebeu. O gesto espontâneo de presentear não tem preço, nem comporta a expectativa de retribuição, ou contraprestação.

Há presentes que, para pessoas sensíveis, não tem preço. Um sorriso franco de uma pessoa querida, uma palavra de delicadeza, um abraço, um elogio, um telefonema falando de saudade, ou uma frase de amor, alegram mais a alma de quem está aniversariando, do que um objeto caro, comprado na mais rica loja.

O maior presente que se pode receber de alguém de quem se gosta é o carinho, o respeito e a consideração.

O ato de presentear, portanto, é um gesto espontâneo. Sinto saudade do tempo da delicadeza.

A franqueza rude sempre fere as pessoas sensíveis. Trocar um presente dado com carinho, só por trocar e ver quanto custou, não passa de um gesto indelicado.

Na minha infância distante, ouvi muito minhas tias Edite e Eulina dizerem:

“Esse presente é da Maroca. Não se dá, não se vende e não se troca.”

Traduzindo: “Foi Fulana quem me deu esse presente e eu não dou, não vendo e não troco.”

6 pensou em “UM PRESENTE

  1. Eu trabalhei numa gravadora, na parte financeira, e tinha um jovem que fazia o “contas a pagar”. A gente tinha muito contato com cantores/cantoras, alguns com grande sucesso, outros batalhando muito. Certa ocasião, comecei uma análise do estoque e não entendi como ele estava positivo, cheguei a dizer “fulano, o estoque está dando cria?”. Parti pra analisar item por item, ou seja, por artista. Até que cheguei num cantor, digamos A, que tínhamos comprado X discos dele e no estoque tinha X+1. Então, era ele que estava causando distorções. O próximo passo foi idêntifucar outro, B, artista que tivesse faltando um disco e achei. Conclusão: fulano ganhou um disco de A e trocou por um disco de B. Não deu baixa e eu quase perco o juízo pra resolver o problema.

  2. Linda crônica, Violante Pimentel, “UM PRESENTE.”

    Por exemplo, recebi no dia 16,12.2019 um presente lindo cujo título está grafado: “Cenas do Caminho,” com a seguinte dedicatória: “Ao Prezado Cronista Cícero Tavares de Melo, um pouco das cenas do meu caminho,” que já li, reli, e vou relê-lo novamente com o mesmo prazer, emoção, carinho e felicidade.

    Esse presente eu não troco, não vendo, não empresto, e o guardo na cabeceira do meu coração como um presente dado de coração por Você.

    A alegria de quem dá um presente não tem preço. Quanto ao quem recebe, desrespeitar a regra da boa educação, não tem um pingo de respeito nem por si mesmo!

    Parabéns, mais uma vez pela crônica!

    • Obrigada pelo carinhoso comentário, querido cronista Cícero Tavares! Suas palavras me emocionaram! É gratificante saber que você gostou do meu livro e o guarda como um mimo. Um grande abraço, amigo, e muita inspiração para os seus excelentes escritos!.

  3. Obrigada pelo comentário, amigo Maurício Assuero! Uma mercadoria não pode entrar ou sair do estoque, sem registro no livro próprio… Algum vendedor “bonzinho” errou, em fazer a troca de um disco de um cantor, por outro diferente, amistosamente, sem nenhuma anotação…

    Um abraço!

  4. Violante,

    Parabéns pela crônica lembrar a importância de não se trocar o presente recebido. Seus argumentos são convincentes e demonstram a falta de consideração por quem presenteou com carinho o mimo. Conheço uma senhora que tinha o costume de repassar os presentes recebidos. Ela só deixou essa mania quando teve a infelicidade de presentear uma amiga com o mesmo presente recebido da mesma. Foi um vexame tão grande que essa senhora nunca mais repassou os presentes que recebeu….

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  5. Obrigada pelo gratificante comentário, prezado poeta e pesquisador Aristeu Bezerra! O comum é se ter carinho pelo presente recebido. A troca só deve ser feita, por motivo superior. Mas não pela mania de trocar. Isso é quase uma psicose. Conheço pessoas que padecem desse mal… Quanto ao “redar”, também conheço pessoas que tem esse hábito. kkkk

    Um abraço!

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