MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

O Senhor Professor Doutor Engenheiro Telemaco Hippólyto de Macedo Van Langendonck, carinhosamente chamado de “Teleco”, já falecido, foi uma das sumidades da Escola Politécnica da USP. Além de títulos como Doutor em Engenharia, Professor Catedrático Emérito de 1980, a maior honraria da Escola, e inúmeros outros títulos acadêmicos, também se formou em Direito (dizia que era para preencher as horas vagas) e tocava violino nos concertos dominicais da Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo. Deixou vários tratados sobre Resistência dos Materiais.

Sua fama era internacional. Falava várias línguas. Resolvia em minutos equações de Resistência dos Materiais que Engenheiros tarimbados demoravam horas – há que se considerar que não havia calculadoras eletrônicas naquela época. Quando da construção da barragem da usina hidroelétrica de Itaipu, à época a maior do mundo, ele e o Professor Milton Vargas, também Catedrático Emérito da Politécnica em 1988 (foi também filósofo, membro do Instituto Brasileiro de Filosofia e da Academia Paulista de Letras), foram consultados para certificarem que realmente a barragem da usina iria suportar toda a carga que o lago de Itaipu criaria. Somente com a certificação dessas duas feras o Governo aprovaria o projeto da construção da usina.

Como se vê, só estou falando de gente de altíssima extração, habitantes da região além do Cinturão de Van Allen, região do espaço descoberta pelo cientista americano James Alfred Van Allen, amigo íntimo de Sua Alteza Reverendíssima Papa Luiz Berto, com quem aprendeu a fazer contas.

Pois bem, o Professor Telêmaco praticamente não conversava com os alunos, já que essa raça não tinha altura intelectual suficiente para sequer interrogá-lo – tirar dúvidas ficava a cargo de seus assistentes. Além disso, seu ego não permitiria que fosse questionado por um qualquer da ignara plebe.

Quando a Escola Politécnica iniciou sua mudança para a Cidade Universitária em 1962 o Professor Telêmaco simplesmente se recusou a dar suas aulas em local tão distante de sua casa. Portanto, a disciplina de Resistência dos Materiais continuou a ser ministrada ainda por mais dois anos na antiga edificação, carinhosamente chamada de Velha Poli.

A antiga Escola Politécnica (“Velha Poli”), Praça Cel. Fernando Prestes

A nova Escola Politécnica, Cidade Universitária

O Edifício Paula Souza, um dos que compunham o campus da Escola, ficou praticamente vazio e algumas salas foram destinadas ao curso de alfabetização de adultos pelo método Paulo Freire, um personagem até hoje discutível. Naquela época era uma novidade, pois prometia alfabetizar um adulto em 45 dias.

Pois bem, um dia do ano de 1963 um beradeiro, totalmente analfabeto, foi inscrito no curso de alfabetização. Em seu primeiro dia de aula tomou seu banho, passou “Avanço” no sovaco, raspou a barbicha, pôs uma roupa limpa – afinal, iria aprender a ler e escrever – e entrou no Edifício Paula Souza. Analfabeto que era, perdeu-se nos números das salas e foi parar dentro da classe onde o Professor Telêmaco ministrava Resistência III aos alunos do quarto ano de Engenharia de Estruturas.

O quadro negro continha algumas fórmulas matemáticas parecidas com a que segue:

O eminente professor teorizava sobre cálculo de tensões estruturais já além do alcance de um cérebro normal de um estudante do quarto ano de Engenharia.

Após algum tempo o nosso analfabeto caipira interrompeu o professor em alta voz, indignado:

– “Porque vocês não me avisaram que aprender a ler e escrever era tão complicado? Não estou entendendo nada! Vocês não têm um professor mais acessível?”

A indignação do Professor Telêmaco em ser interrompido com tal atrevimento ficou patente! O sangue lhe subiu à cabeça e por pouco não teve uma apoplexia! Os alunos se preocuparam. O grande mestre estava na iminência de ter um troço.

Sem esperar a aula terminar o nosso capiau levantou-se, saiu da sala e foi direto à secretaria pedir para sair do curso. Afirmou que foi tapeado, e aprender a ler e escrever era mais difícil do que lhe prometeram, além do que o professor era um incompetente em ensinar e não ajudava em nada.

Se o nosso personagem, caso ainda vivo, continua a ser analfabeto, formou-se no curso Paulo Freire, (o que dá no mesmo) ou é apenas mais um militante do PSOL, é uma informação que se perdeu nas brumas do passado.

7 pensou em “UM ANALFABETO NA ESCOLA POLITÉCNICA

  1. Telemaco foi também fundador da Themag Engenharia que projetou inúmeras hidroelétricas e demais obras de vulto. Começou no Largo do Arouche, 24 e depois na Rua Bela Cintra, e hoje na R. Pedro Américo, 32.
    Possui vastíssimo legado de projetos realizados.

    Já paulo freire foi a maior besta que só detonou o ensino no país.

  2. Manoel Bernardo, obrigado pelo imerecido elogio.
    José Roberto, Paulo Freire está para o Prof. Telemaco assim como um batráquio está para o sol. Realmente, ele foi um luminar e o outro um mentecapto.
    Bom dia para vocês

  3. Não posso culpar o capiau por não entender Resistência dos Materiais. É bem mais fácil decifrar hieróglifos antigos de outros planetas. rsrsrs.

  4. Oi Beni:
    Você não deixa de ter razão.
    Eu, pessoalmente, consigo entender mais Resistência dos Materiais do que as decisões do STF.
    Tenha um bom dia!

  5. A bela função Gama! Meus alunos de lascam pra calcular os valores da gama em 1/2, 3/2, etc…..Genial Magnovaldo. Eu tinha um primo analfabeto e insisti pra ele frequentar uma escola que tinha em frente a casa dele. Ele foi e também perdido no meio das salas entrou na sala da quinta série. Ficou uma aula e saiu depois justificou: “eu até sei as letras, mas quando mistura fica ruim”

  6. Pô, Assuero: essa função Gama saiu dos empoeirados escaninhos dos miolos. Rapaz, somente você com sua mente brilhante para se lembrar dessas cousas.
    Um abraço,
    Magnovaldo

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