MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

Xavier estava sentado, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo apoiado nas palmas das mãos. Havia um murmúrio de vozes, mas ele parecia alheio ao que se passava ao seu redor.

Com os olhos fechados, podia ver, no fundo da sua mente, a rua lá fora.

Mas não havia ninguém ali. As calçadas, as praças, tudo estava vazio. Se alguém aparecia, caminhava apressado, olhando para os lados, como se estivesse fugindo de alguma coisa.

Um ruído o trouxe de volta ao bar. Um leve ruído. Porcelana tocando madeira. Em seguida, uma voz:

– Senhor… seu café…

O cheiro agradável da bebida encheu suas narinas. Agora ele ouvia as vozes e risos ao seu redor.

Xavier abriu os olhos. Percebeu a fumaça saindo do líquido escuro na xícara.

Ergueu-se e olhou para o garçom. Sem dizer uma palavra, o abraçou como se fossem velhos amigos.

E assim comemoraram o fim da pandemia.

(*) Este é meu último conto de 2020 no JBF. Que ele seja como uma profecia para 2021. Agradeço a todos os fubânicos que dedicaram algum tempo aos escritos desta coluna. FELIZ ANO NOVO!

7 pensou em “UM ABRAÇO (*)

  1. MMM, café é bom até em pensamento. Mas, eu prefiro aquele torrado em casa, feito naquela lata velha dependurada numa vara por cima do fogão e adoçado com rapadura. É tão bom e forte, que dá para usar o pó duas vezes.

      • Eita.. dois feras que eu prezo, leio e releio pra aprender um pouco do tanto que eles dizem em tão poucas palavras. Um escrevendo e o outro comentando. Cada qual mais sintético e verdadeiro. Marcos Mairton, naquele jeito de garimpeiro das idéias maravilhosas, pintando o quadro perfeito do resumo de um ano consumado na desesperança e na solidão dos isolamentos ditos sociais (coisa mais incongruente! como pode ser social um cerceamento dos abraços, dos apertos de mão, das boas risadas trocadas nas mesas do café ou no meio da rua?). Não podias ser mais feliz do que foste nessa pequena crônica que resumiu 10 meses de horror, amigo Mairton !! Meus parabéns e meu agradecimento por ter o prazer de ler uma peça brilhante que só podia ter sido escrita por um car brilhante como você !
        E Zé Ramos no seu comentário? Duas verdades expostas no ato, feito cachorro quente e caldo de cana! Daqui senti o cheiro do café torrado em casa e adoçado com rapadura (que eu gulosamente como sem receita médica, porque para o meu prazer meu médico sou eu mesmo).
        Um escritor/poeta/juiz urbano e outro um escritor/poeta/jornalista entre o urbano e o rural, entre o cheiro do mato e o calor do asfalto, aos quais dedico o meu louvor.. ZéRamo e Mairton, vcs fazem parte muito importante ds belezas da Nação Nordestina. Meu abraço apertado incorreto politicamente e coronísticamente falando, mas vá às favas o coronga e suas mentiras mal-intencionadas. Mas um abraço mesmo, daquele de quebrar costela !!! Vocês me inspiram !

  2. Feliz Ano Novo, Mestre Marcos Marton!!!

    Brindaremos o ano novo com vacina e um bom gole de café.

    2021 vem como se fosse “aguas de março fechando o verão” com nova promessa de vida nova em nossos corações.

Deixe um comentário para José de Oliveira Ramos Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *