A PALAVRA DO EDITOR

Josimar tinha um gatinho. Lindo. Era o seu xodó. Raça boa, vistoso, grande amigo, vivia no colo, se esfregando, todo dengoso.

Quando Josimar chegava, ele vinha todo feliz dar as boas vindas, parecia um cachorro.

Josimar carregava o Xodó – esse era o nome do gato – até para o banheiro, para não deixá-lo sozinho um minuto sequer enquanto estivesse em casa.

Chegava do trabalho, mal entrava e o gato pulava no seu colo. Posto no chão, andava trançando-se pelo meio das pernas do dono, miando de felicidade.

Um dia, Neuzinha lhe perguntou: – Se tiver de escolher, fica com eu ou com Xodó?

Neuzinha espera a resposta até hoje.

Pois, Josimar tem, ou tinha, um grande amigo.

Amigo que era unha e carne com ele desde a adolescência.

Iam para bailes, botecos, praia, o que fosse, juntos. Tanto que acabaram se casando com duas irmãs, Neuzinha e Juracinta.

Um dia, Jair entrou e pediu:

– Josimar, me empresta Xodó?

– Ôxe! Disse Josimar. Onde já se viu emprestar gato?

Jair explicou:

– Amigo, minha casa está Infestada de rato. Vejo que aqui não, eles não se atrevem, porque tem Xodó, que já vimos muitas vezes carregando ratos na boca.

Josimar relutou, mas emprestou Xodó, por uma semana, uma semana, viu?

Pois, Jair levou o gato, a semana passou e nada. Josimar perguntou, Jair disse que ainda tinha ratos, para deixar mais um pouquinho.

Quinze dias, vinte, um mês, Josimar começou a ficar impaciente.

Tinha uma saudade danada de Xodó, se emocionava pensando que o gatinho também estaria sentindo a falta dele.

Já estava para dar um ultimato, quando Juracinta veio ver a irmã e sem querer falou que Jair tinha comido Xodó.

– Chiii, sabia não, Neuzinha? Jair não pode ver um gato. Ele tinha me dito que ia pedir para Josimar dar o gato para ele, que pediu e Josimar deu…

– Tu é besta, mulé! Josimar vai é ficar uma fera.

Não deu outra. Neuzinha contou para ele, que pegou o revólver e saiu que nem um louco.

Foi entrando pela casa de Jair, lhe apontou o trinta e oito e avisou se tu num me diz onde tá meu Xodó tu vai morrer seu safado. Tu comeu meu gato, né? Apois ajoelha e reza.

Nisso, Josimar ouviu um chiado, pensou… será que é Xodó?

Jair respondeu que não, era coisa chiando no fogo.

Josimar então perguntou que cheiro é esse, parece carne assando. Sua boca encheu-se de água.

– Que porra é essa, Jair?! Ele perguntou.

Jair, ajoelhado, respondeu que estava assando o Relâmpago.

– Como assim? O Relâmpago? O cachorro do Doutor Enéias?

– É, respondeu Jair.

Josimar guardou a arma na cintura e foi em direção ao cheiro.

Tinha cerveja, caipirinha e o cachorro assando.

– Tu num tem jeito mesmo, né Jair?

As mulheres, Neuzinha e Juracinta, entraram correndo, esbaforidas e assustadas, a tempo de ver cada um pegando uma cadeira, um prato, arroz, farofa, vinagrete.

7 pensou em “TUDO ACABOU-SE EM CHURRASCO

  1. Esbaforidas!
    Como eu amo esse idioma!
    Que léxico!
    “Estro” é outra palavra querida.
    Você tem isso (estro) Goiano.
    E o verbo medrar?
    Na sua historieta, a elisão do cachorro e gato permitiu que os ratos medrem?
    Ou só medram os legumes e as sensaborias?
    ***
    Ótima fábula, cuja moral, entendo, é o valor da amizade e do churrasco.
    O churrasco principalmente.
    ***

    • Saniasin, deixei de comentar na hora, mas ficou gravado no fundo do meu coração o elogio de dizer que eu tenho estro. Muita bondade sua. Meu ego sentiu-se carinhosamente massageado.

  2. Caro Mestre , a moral da estória seria : É bom ‘ já ir ‘ se acostumando ?. Sim porque o científico ” fique em casa ” vai acabar dizimando os cachorros . Como no Vietnam se comem ratos assados , na Coréia do Norte cachorro assado e nos botecos daqui churrasquinho de gato, parece que a opção que citaste vai ser melhor que a próxima : canibalismo !.

  3. Prezado Joaquimfrancisco, não tive intenções políticas com essa história, parcialmente verídica: na vida real, a amizade acabou-se, para sempre; preferi um epílogo mais suave, em tempos de tanta ansiedade e estresse.

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