MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

O assunto foi pouco comentado, mas neste mês deveriamos estar celebrando os trinta anos da queda do Muro de Berlim.

Para recordar, o muro não separava a Alemanha Ocidental da Oriental, como alguns pensam. O que acontece é que após a guerra, a cidade de Berlim, que ficava dentro da parte “oriental”, foi também dividida. O muro cercava Berlim Ocidental, isolando-a do país ao seu redor. Para entrar ou sair de Berlim Ocidental, só de avião ou por uma única estrada (autobahn A2), vigiada pelo exército da Alemanha Oriental.

A queda do muro marcou o fim de uma era em que o socialismo/comunismo tentou se impôr pela força, em sociedades militarizadas e sufocadas pela repressão do governo. Rússia, Ucrânia, Polônia, Hungria, Romênia, além da própria Alemanha Oriental e vários outros, eram ditaduras extremamente fechadas, onde o governo controlava a vida de todos e tentava criar uma “nova sociedade”, onde as pessoas deixariam de ser indivíduos com vontade própria e passariam a ser apenas números nos planejamentos estatais. Claro que não funcionou.

A tentativa de eliminar a liberdade de escolha, o lucro e o mercado resultou em sociedades onde faltava tudo, a a vida diária era uma constante luta em busca das necessidades básicas como comida, roupa e remédio. Em 1989, o comunismo finalmente ruiu, sobrando apenas Cuba e Coréia do Norte como anacrônicas lembranças daqueles tempos.

Na época, alguns entusiastas da esquerda se viram forçados a admitir que “as pessoas do lado de lá queriam vir para o lado de cá, mas ninguém do lado de cá queria ir para o lado de lá”. A sinceridade não durou muito, claro, e logo voltaram as mentiras sobre o suposto “paraíso socialista”, onde todo mundo era feliz, não faltava nada e havia paz, justiça e igualdade. Os fãs da esquerda continuam gaguejando (ou enfurecendo-se) quando são lembrados do fato de que os habitantes dos “paraísos socialistas” arriscavam a vida para sair de lá rumo aos “infernos capitalistas”. Aliás, vários destes fãs da esquerda moram em Paris, Londres ou Nova Iorque, e não em Havana ou Pyongyang. Naturalmente, os novos militantes não descansam na tarefa de reescrever o passado, repetindo as mentiras até que estas se imponham pela quantidade, e fique impossível encontrar uma versão dos fatos que não obedeça à sua ideologia.

O que é importante lembrar é que o sonho de poder da esquerda não terminou, apenas mudou de formato e de métodos. Dizem que a forma mais eficiente de escravidão é fazer o escravo pensar que é livre; é exatamente esta a nova tática. Na União Soviética e na Alemanha Oriental, as pessoas eram vigiadas pela polícia para que não tentassem fugir ou se rebelar, e não tinham opção a não ser obedecer ao governo. No mundo moderno, as pessoas obedecem ao governo voluntariamente, e fazem elas mesmas o papel da polícia através da internet e das redes sociais. Se os soviéticos usavam a força bruta para estatizar as empresas, hoje os governos usam regulamentações de um lado e subsídios de outro para colocar os empresários sob suas ordens.

Como em “1984”, o grande romance de Orwell, “liberdade é escravidão, ignorância é força”. As pessoas aprenderam a ter medo da liberdade, e preferem passar a vida obedecendo e desejando que lhe digam o que fazer. Do mesmo modo, temem raciocinar por si mesmas e preferem viver “sem pensar muito”. Quem ousa destoar deste aprisionamento voluntário é xingado de “reacionário”, “fascista” ou coisa parecida. Nos tempos soviéticos, havia recompensas para quem delatasse os vizinhos ou parentes que falavam mal do governo. Nos tempos modernos, as pessoas vigiam e delatam os amigos sem pedir recompensa além da satisfação pessoal de falar mal dos outros.

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