ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

O poeta paraibano Manoel Xudu (1932-1985), antes de ser grande cantador de viola, destacou-se pela profunda formação humanística. Respeitoso, espontâneo, modesto, gênio do repente e exemplo de decência e coleguismo. Sua personalidade se impunha pela maneira educada e gentil de se comunicar. Inspirava admiração, respeito e cordialidade em todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer esse talentoso poeta e repentista paraibano que brilhou no admirável universo da poesia cantada.

Geraldo Amâncio, um dos expoentes da cantoria de viola, fez uma homenagem póstuma ao extraordinário Manoel Xudu glosando o seguinte mote:

A viola vestida de saudade
Pendurada na cruz do cantador.

Sendo vítima dos golpes da traição,
Da pessoa a quem tanto deu carinho,
De repente se vendo tão sozinho,
Resolveu enfrentar a solidão,
Por ser grande demais seu coração,
Não havia lugar para rancor,
Coração de poeta é como a flor
Machucada por pés, sem piedade,
A viola vestida de saudade
Pendurada na cruz do cantador.

O seu estro foi puro como o lírio
Cujas pétalas muitos buscam tê-las
Tinha o brilho opalino das estrelas
Nas chapadas azuis do céu empíreo
Fora preso, que pena, por delíreo.
Aos encantos do seu primeiro amor,
Quem nasceu com destino de condor,
Só na pátria de Deus tem liberdade,
A viola vestida de saudade
Pendurada na cruz do cantador.

13 pensou em “TRIBUTO POÉTICO A MANOEL XUDU

  1. Lendo este artigo do Jornal da Besta Fubana tive uma saudade do grande poeta e repentista Manoel Xudu. Lembrei-me das diversas apresentações que tive oportunidade de comprovar a sua facilidade de dizer belos versos improvisados. A segunda estrofe da homenagem póstuma de Geraldo Amância descreve detalhadamente as virtudes desse gênio do repente.

    • Edmilson,

      Agradeço seu formidável comentário. Concordo plenamente com seu elogio aos versos desse talentoso repentista que está imortalizado e suas estrofes estão na memória afetiva de todos que apreciam o admirável mundo do repente e da poesia popular.
      Aproveito a ocasião para descrever um episódio poético do genial Manoel Xudu.

      Manoel Filó (1959-2015), admirável poeta, descrevendo com Xudu a vida dos pássaros, terminou uma sextilha assim:

      Pra tão longe a ave voa,
      De volta não erra o ninho.

      Xudu arrematou de forma brilhante:

      A arte do passarinho
      Nos causa admiração:
      Prepara o ninho de feno,
      No meio bota algodão
      Para os filhotes implumes
      Não levarem um arranhão.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Manoel Xudu Sobrinho foi um homem simples, generoso, constantemente cavalheiro, incapaz de um ato ríspido, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o perigo de ser ameaçada. Afirmo que a segunda estrofe da homenagem póstuma ao gênio do repente Manoel Xudu é uma verdade insofismável: O seu estro foi puro como o lírio/Cujas pétalas muitos buscam tê-las/Tinha o brilho opalino das estrelas/Nas chapadas azuis do céu empíreo/Fora preso, que pena, por delírio./
    Aos encantos do seu primeiro amor,/Quem nasceu com destino de condor,/Só na pátria de Deus tem liberdade,/A viola vestida de saudade/Pendurada na cruz do cantador.

    • Vitorino,

      Grato por seu comentário interessante com observações que ajudam a entender a biografia desse gênio do repente. Sou um dos que admiram o legado poético de Manoel Xudu e sempre faço questão de homenagear quem engrandeceu com versos antológicos o maravilhoso mundo do repente.
      Compartilho um episódio desse poeta, que partiu antes do combinado, para a apreciação de prezado amigo.

      Certa vez, Manoel Xudú (1932-1985) participava de um desafio e seu colega o abordou:

      Caro Manoel Xudu
      Tenho santa inspiração…

      Xudu pega na deixa e faz uma belíssima sextilha:

      Sou igualmente a pião
      Saindo de uma ponteira
      Que quando bate no chão
      Chega levanta a poeira
      Com tanta velocidade
      Que muda a cor da madeira.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  3. Eu admiro muito os versos de Manoel Xudu. Ganhei de um amigo apologista um livro do pesquisador Pedro Ribeiro, Mané Xudu – O Imortal do Repente, sempre folheio quando estou com vontade de admirar suas estrofes criativas, belas e sábias. Dizem que Xudu cantou com mais de cem repentistas, só perdeu para a esquentante (pinga) que o levou ao túmulo. Virou repentista imortal, o maior de todos depois de Pinto do Monteiro, nesta arte extraordinária que é a poesia do repente. O poeta Manoel Xudu Sobrinho, Manoel Xudu, ou, simplesmente, Xudu, nasceu em São José de Pilar-PB em 15 de março de 1932 e faleceu em 1985, em Salgado de São Félix/PB, onde residia.

  4. Fernando,

    Grato por seu primoroso comentário. Você foi extremamente assistencial divulgando o livro do pesquisador Pedro Ribeiro, Mané Xudu – O Imortal do Repente, que é uma fonte de pesquisa para se informar sobre a vida e a obra desse genial poeta e repentista.

    Retribuo seu comentário compartilhando duas sextilhas criativas desse inspirado poeta que admiramos e estamos devemos sempre homenageando nesse excelente Jornal da Besta Fubana.

    Nessa vida atribulada
    O camponês se flagela
    Chega em casa meia noite
    Tira a tampa da panela
    Vê o poema da fome
    Escrito no fundo dela.

    Deus querendo, todos comem
    Que um dia Ele pregando
    Mais de cinco mil pessoas
    Que estavam lhe observando
    Com cinco pães e dois peixes
    Comeram e ficou sobrando.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  5. Um poeta e repentista que recebe uma homenagem de Geraldo Amâncio merece ter sua obra reeditada, pois o poeta cearense conhece tudo sobre o repente. Fique curiosa e irei procurar o livro comentado pelo leitor fubânico nem que seja no sebo (comércio de livros usados). Muito bom o artigo!

  6. Parabéns, prezado Aristeu, pela excelente postagem TRIBUTO POÉTICO A MANOEL XUDU!
    Gostei imensamente da explanação que você fez sobre este grande poeta paraibano, MANOEL XUDU (1932 – 1985), que “antes de ser grande cantador de viola, destacou-se pela profunda formação humanística.”.

    Muito bonita a homenagem póstuma prestada ao poeta Manoel Xudu, pelo poeta Geraldo Amâncio, glosando o seguinte mote::

    A viola vestida de saudade
    Pendurada na cruz do cantador.

    Ouso repetir as belíssimas glosas:

    Sendo vítima dos golpes da traição,
    Da pessoa a quem tanto deu carinho,
    De repente se vendo tão sozinho,
    Resolveu enfrentar a solidão,
    Por ser grande demais seu coração,
    Não havia lugar para rancor,
    Coração de poeta é como a flor
    Machucada por pés, sem piedade,
    A viola vestida de saudade
    Pendurada na cruz do cantador.

    O seu estro foi puro como o lírio
    Cujas pétalas muitos buscam tê-las
    Tinha o brilho opalino das estrelas
    Nas chapadas azuis do céu empíreo
    Fora preso, que pena, por delíreo.
    Aos encantos do seu primeiro amor,
    Quem nasceu com destino de condor,
    Só na pátria de Deus tem liberdade,
    A viola vestida de saudade
    Pendurada na cruz do cantador.

    Uma ótima semana, com muita saúde e Paz!

    • Violante,

      É gratificante receber seu importante comentário valorizando o repentista que transmite cultura e lirismo pelas cidades desse imenso Brasil. Sou um fã desse poeta gentil, humilde e de um talento que o fazia sobressair no maravilhoso mundo do repente e da poesia popular.

      Manoel Xudu (1932 – 1985) destacou-se perante os demais repentistas pelo extraordinário poder de observação. Suas estrofes refletem os mínimos detalhes que a natureza projeta na matéria-prima utilizada pelo grande poeta. Seus olhos funcionavam como verdadeira máquina fotográfica, registrando o que às vezes os olhos não distinguiam. O pica-pau é uma ave que passa o tempo todo picando as árvores e, na ausência destas, já picaram até naves espaciais, atrasando-lhes a hora do voo. Vejamos esta sextilha antológica inspirada nesta ave:

      Admiro o pica-pau
      Fazer buraco em angico
      Tem hora que é taco-taco
      Tem hora que é tico-tico
      Nem sente dor de cabeça
      Nem quebra a ponta do bico.

      Compartilho mais duas sextilhas do talentoso Manoel Xudu com a prezada amiga:

      Tem coisa na natureza
      Que olho e fico surpreso:
      Uma nuvem carregada,
      Se sustentar com o peso,
      De dentro de um bolo d’água,
      Saltar um corisco aceso.

      O meu verso é como a foice
      De um brejeiro cortar cana.
      Sendo de cima pra baixo,
      Tanto corta, como abana,
      Sendo de baixo pra cima,
      Voa do cabo e se dana.

      Desejo uma semana de paz, saúde e harmonia

      Aristeu

      • Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo esta belas sextilhas do grande poeta Manoel Xudu!
        Adorei, principalmente a do Pica-Pau !
        Um abraço!

        Muita saúde e Paz!

  7. Dione,

    Muito obrigado pelo seu comentário. Confesso que estou feliz por seu interesse nos versos do poeta e repentista paraibano Manoel Xudu (1932-1985). O livro indicado por nosso leitor fubânico é excelente. Aproveito a oportunidade para compartilhar duas sextilhas do genial Manoel Xudo com a prezada amiga:

    O homem que bem pensar
    Não tira a vida de um grilo
    A mata fica calada
    O bosque fica intranquilo
    A lua fica chorosa
    Por não poder mais ouvi-lo.

    Tristeza é a do peruzinho
    Beliscando essa maniva
    Correndo atrás da galinha
    A sua mãe adotiva
    Como quem está dizendo
    Ah se mamãe fosse viva!

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  8. Aristeu,
    A segunda sempre nos reserva boa leitura e aprendizado,sua coluna nos dá a conhecer a grandeza de nossos poetas.
    Obrigado pelo conhecimento compartilhado.
    Feliz Semana.
    Abraços Fraterno.
    Carmen.

  9. Carmen,

    Agradeço o seu comentário que me estimula no prazeroso serviço de pesquisar o admirável universo do repente e a cultura popular. Compartilho um episódio desse poeta paraibano com a prezada amiga.

    Manoel Lourenço da Silva (1932-1986), conhecido na cantoria de viola por Manoel Xudu, foi acometido por um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI). Não é novidade que hábitos saudáveis de vida e alimentação balanceada aumentam a imunidade evitando doenças. Manoel Xudu, às vezes, exagerava no consumo de bebida alcoólica, e a intensa atividade de repentista não permitia refeições nutritivas. Esse somatório de fatores contribuiu para a enfermidade provocar uma pausa nos seus compromissos na arte de improvisar versos.

    O poeta estava hospitalizado para se recuperar dessa patologia que, felizmente, não deixou nenhuma sequela, quando recebeu a visita de um colega, tendo este feito o seguinte comentário:

    Essa goela de Xudu
    Muita cachaça engoliu.

    Xudu, com a velocidade do pensamento que tem um repentista, concluiu:

    Mas o doutor proibiu
    Deu tomar cachaça e Brahma
    Hoje eu bebo somente
    Deitado na minha cama
    Algumas gotas de lágrimas
    Que minha esposa derrama.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *