JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Ou, “Uma ponte de safena nas veias da vida”

Água que alimenta a vida no planeta

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

Patativa do Assaré

Dia histórico, o 26 de junho de 2020. A fome, que noutros tempos matou muita gente, naquele dia recebeu o “tiro de misericórdia”, e anteviu a transformação dos campos e roçados esturricados em pastagens verdejantes convidando para o trabalho e o plantio.

Incontáveis as vezes que, desesperados, saíamos de foice na mão e cabaça no ombro, à procura d´água.

Os açudes, no barro esturricado, nos obrigavam a procurar água noutros lugares. A saída era o cipó da mucunã (cuja semente, em outros lugares é conhecida como “olho de boi”), onde a Natureza divina deposita no seu âmago uma pequena e saudável reserva.

Cipó de mucunã

Distante de algum dia ser uma “torneira”, o cipó é algo muito além da vida. Água saudável e, dizem, medicinal. Mas, por vezes, é apenas o líquido que abastece a ansiedade e mata a necessidade do corpo humano.

Às vezes o “segredo” está na forma de cortar

Não é “qualquer um” que encontra e identifica o cipó d´água. É necessário vivência e, mais ainda, precaução na hora de verificar e tentar cortá-lo. Não é raro encontrar cobras venenosas enroladas e camufladas nos cipós.

A vida do sertanejo passa por todo esse tipo de perigo – e, sempre para suprir uma necessidade vital.

Assim, que importância tem o fato de descobrir “quem idealizou” fazer a transposição?

Idealizar por idealizar, quem vive naquela região, antes castigada pela Natureza e hoje abençoada por ações de pessoas que sequer nasceram ali – vem idealizando há mais de um século e sabe que “apenas idealizar e nada fazer”, não é o mais importante.

Agora, complementando a boa ação, o Governo Federal precisa viabilizar e facilitar o apoio logístico (equipamento de irrigação, energia elétrica barata, transporte e principalmente cooperativas) para o Agricultor que tem coragem e disposição para retribuir.

Semente da mucunã (olho de boi)

Quem nunca foi ao Ceará, certamente não conhece, por óbvio, e jamais ouviu falar numa espécie de “triângulo” formado pelos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Desses, o mais conhecido é Juazeiro do Norte – assim chamado, para fazer diferença com Juazeiro da Bahia, não tão distante dali, separado de Petrolina/PE, pelas águas que serpenteiam o Velho Chico.

Do lado Norte, a saída ou entrada por Sobral e Tianguá ou Chaval; do lado Sul, Icó, que leva à Petrolina e, logo depois, Juazeiro da Bahia; noutro ramal, levando à Paraíba, Jati – esse último, o caminho da “transfusão” chamada de “transposição”. É o Ceará, aberto ao Brasil.

Desde aquele histórico 26 de junho, discute-se a paternidade da transposição. Se, fora daquele Estado, alguém pega em armas e se engalfinha por conta disso, no Ceará, os beneficiados se regozijam e, com jumentos com cambitos, latas, tonéis e cabaças, se preocupam apenas em encher os potes e as quartinhas.

Na esteira das ações, o livramento definitivo para a raiz da mucunã, e os joelhos postos ao chão, em oração de graças e agradecimento: à Deus, o Onipotente.

Momento da chegada da água em Jati

18 pensou em “TRANSPOSIÇÃO QUE VIROU TRANSFUSÃO

  1. Excelente crônica-comentário, caríssimo Zé Ramos.

    Em nenhum jornal internético que a gente consulte encontrará coisa igual, só mesmo aqui no JBF.

    As matérias publicadas ou são esgotos públicos ou são puxa-saquismos intencionais dos “formadores de opinião.”

    Parabéns, Irmão do coração! Como diz nosso editor: ganhei o dia depois que li!

    • Cícero, “quem é do mar, não enjoa” – e vosmecê conhece do riscado por ter nascido na região, ter o umbigo cortado com tesoura enferrujada e tomado o primeiro banho numa bacia de alumínio. Você é do meio, do centro e das beiradas. Cababom!

  2. O sertão é rico e seu maior produto é o sertanejo, é seu povo. A transposição do velho Chico teve início em 1840. Agora, o importante é o apoio pra produzir como disse Ramos.

    • Maurício: caro Professor, esse é o mote da embolada e do desafio. Há esperança, sim. Teresa Cristina também é do ramo e tá fazendo uma “ministração” estupenda à frente do Ministério da Agricultura. Caberá, agora, ao Banco do Nordeste, Embrapa e outros financiadores começar a entender que precisamos sair do atraso. Se tiver apoio, a água cumprirá seu papel!

  3. Caro Sr. Ramos, a maior riqueza do NE é a cultura de seu povo. Qualquer lugar que vá tem uma bonita tradição.

    Povo guerreiro, povo trabalhador, que fugindo da seca, ajudou SP a crescer e aqui ficaram muitos dos seus filhos.

    A transposição do velho Chico, junto com a dessalinização das águas salobras, a Ferrovia transnordesdina, a irrigação e a implantação das técnicas de plantio de Israel farão com que ocorra uma mudança radical e rápida na região.

    Porém é preciso romper com os grilhões da velha política que tem escravizado seu povo há séculos.

    Um bom domingo.

    • Joãozinho Francisquinho: os grilhões existem sim. Mas, não existem apenas “lá, naquela região”. E, respeitando suas opiniões, conceitos e com certeza experiência, AFIRMO que isso não se muda nos bancos escolares. É coisa para mudar em casa, no respeito, na direção correta do caminho e do respeito aos valores humanos. Existem as exceções? Existem, claro. Sempre existirão. Exemplo: o que foi que essa besta quadrada alcunhada de Lula, fez? Pensou. Idealizou. E qual o valor disso? Nenhum. Tudo que Lula/Dilma fizeram precisou ser refeito – daí, a demora do final da obra. Com certeza o amigo não conhece Cabrobó, Barro, Jati, Icó, todos, municípios daquela região onde o passarinho bebia cachaça por não encontrar água.

      • Me desculpe Ramos se fui rude.

        Lula foi um exemplo de nordestino muito ruim para nós.

        Porém já fui algumas vezes aí e me encantei pelo povo, pela cultura e pela natureza.

        Torço para que as coisas melhorem agora.

        Abraço

        • Nada para desculpar. Não entendo seu comentário como algo rude. São as realidades e as verdades. Fique tranquilo.

  4. Oi Zé, boa tarde e parabéns pelo texto.

    Só tenho uma observacao e curiosidade a fazer: como gosto muito de Simbologia e consequentemente do Suíço Psicalista Carl Jung, queria fazer uma pergunta?

    Ao você mencionar um texto de junho de 2020 e colocar uma foto em que aparece o Michel Temer, isto quer dizer que você está fazendo campanha antecipada pro dito cujo ou que sua Chupicleide precisa ser demitida?

    Se não for nenhuma das respostas, me desculpe.

    Mas é porque acho que minha “intelligere”, me perturba e sempre me exige maiores ações sobre tudo aquilo que não compreendo!

    Bom domingo para todos.

    PS: Toda vez que coloco este “para todos” fico sem saber se me lembro da contravenção Carioca ou se dum slogan de uma Anta que passou pelo nosso governo. Ahhh. Esta minha “intelligere”!!!

    PS1: Sancho, desculpe-me o plágio.

    • Vivaldo, parabéns macho véi! Se eu fosse dono de um jornal impresso, convidaria vosmecê para ser “Revisor” ou “Copidesque”. Vamos aos fatos: quando digitei no Google, pedindo imagens do dia da inauguração da transposição em Jati/CE, apareceu essa foto aí. Você está coberto de razão. Não tenho certeza se o “sujeito” que vosmecê acha que é Temer, é realmente o Temer. Acontece que, no dia da “inauguração” Bolsonaro não estava usando “blusa de mangas compridas”, mas uma “blusa de mangas curtas” e, sobre essa, um jaleco de cor diferente. Parabéns! Mas, espie aqui: não devemos culpar nem responsabilzar essa sofrida e buchuda Chupicleide, pois ela apenas “recebe as fotos” que os colunistas enviam. Sejamos justos – apois a mulé nem recebe salário para fazer o que faz!…… Obrigado amigo!

    • Abusemos dos PS
      Cara e vivíssim, Vivaldo…
      PS2: Sancho avisa que os amigos tudo podem. Sirva-se, á vontade, faça uso voraussetzungslosigkeit e vamu qui vamu!!!!!!

  5. Fica matutando Sancho enquanto ouve Martha Argerich plays Beethoven Piano Concerto No. 1 + Bach Gavotte / Scarlatti K141 (encore)
    Menos palavras e mais ação? Sempre incomodou o sulista Sancho os versos de Gonzagão: Quando olhei a terra ardendo. Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu. Por que tamanha judiação.
    Doídos versos, mas que necessita de gente de ação, que pare de olhar para o céu em oração e parta para cima da turma política… Nunca entendi a mansidão do povo nordestino diante dos desmandos de certos políticos do Nordeste, que a cada campanha, em todos os níveis, despejam saliva que daria para acabar com a seca, mas que pouco fizeram de efetivo por terra tão maravilhosa (lá em se plantando tudo dá, se água houver – “Uma ponte de safena nas veias da vida”). Sempre achei que blogs como este do Berto podem fazer muito mais, pois ecoa pelo Nordeste e pelo Brasil. Há que se tirar os políticos de suas zonas de conforto. Que esses homens e mulheres maravilhosos que aqui escrevem colunas e dão palpites nos comentários partam para cima de seus políticos cobrando que realmente façam o que prometem pelo cabra macho do sertão e suas mulheres maravilhosas. Ação, senhores!!!!!

    Quanto ao autor do texto, o que dizer Sancho de um gênio chamado José Ramos?
    Prefiro mandar um grandioso beijo em seu coração, grandíssimo señor Ramos.

    • Sancho, você me enfeitiçou! Você de fez comer queijo do leite de cabra, que é a coisa mais mió do mundo! E, como escreve Berto, o único que consegue ganhar na Roleta do Cu-Trancado lá nim Palmares/PE, “fiquei acho que só a porra”. Sancho, quando eu espiava minha Avó “servindo nossos pratos” na hora do almoço ou do jantar, eu perguntava: Vó, por que a senhora que bota nossa comida no prato?” E ela respondia: porque eu que sei a quantidade que dá para cada um, sem faltar pra ninguém. Assim, Sancho, jamais poderemos olvidar que, desde muitas chuvas e muitos sóis passados e nuvens feitas sinais pelos índios do faroeste americano, que Sunpaulo e Rio de Janeiro são os dois mais tudo do Brasil. Agora, não sejamos idiotas a ponto de querermos esconde que, “se o mundo é grande, o cu do mundo jamais será pequeno – e a cagada será sempre proporcional, por encotrar saída adequada”. E, por conta desse politicamente correto, de que forma Sunpaulo e Rio têm “comandado” o Brasil? E, assim, ancho que só a porra, eu pergunto: por que homens ou região nordestina? Quantos são os estados nordestinos que compõem o Brasil? Somadas todas as bancadas dos estados nordestinos, essa soma atingirá ou superará as bancadas de Sunpaulo e Rio + Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entãosse Sancho, votar bem é fazer risco n´água! O povo nordestino responde é com trabalho e não com voto.

      • Coisa mais mió do mundo depende do gosto da freguesia, mas belos textos do amigo Ramos não é para qualquer um.
        Por estas bandas sulistas Sancho continua fazendo risco n´água.
        Um grandioso beijo em seu coração, grandíssimo señor Ramos.

        • Sancho: não sei que fim levou um amigo nosso aqui deste JBF, de nome Maurino Júnior. Ou, quem sabe o Fred. Numa resposta igual essa, um deles responderia: vosmecê é um grande FDP e cairia no Kkkkkkkkkkk

          • Ôxi, seu cabra!!! Se assunte!!! Ô tô sempre pela aqui!!! É que eu tenho que gravar video-aulas e dar aulas on line e isso toma um pouco de tempo. Mas, sempre estou aqui massacrando os felas, os crápulas, os escroques, os lalaus, os lularápios e por aí vai!!! Receba meu abraço e obrigado pela lembrança!!! E bóte pá torá nos seus textos!!!

            • Maurino: arre égua macho réi! Sabe que a coisa mais mió do mundo cagente veve hoje? É terr certeza que os amigos estão vivos e saudáveis e, trepando muito! Arre égua! Xêro, parceiro!

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