MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

Ultimamente, tenho encontrado nos jornais, com certa frequência, textos escritos por analistas políticos ou econômicos usando a expressão “tiro no pé”. A cada vez que isso acontece, lembro de um caso que julguei em Fortaleza, sobre um assalto a uma agência dos Correios.

A expressão é relativamente comum, mas não custa lembrar que “tiro no pé” é “algo que foi feito ou planejado errado, e a pessoa que o executou, pensando que ia se dar bem, acabou se prejudicando”. As aspas estão aí porque fui buscar a explicação no site Dicionário Informal. É sempre bom usar referências bibliográficas.

Mas de onde teria surgido a expressão? Quem teria dado o primeiro tiro no pé?

Fiz uma rápida pesquisa no Google e nada encontrei. Muitos sites explicam o que a expressão significa, mas ninguém diz de onde ela surgiu.

Diante do vazio informativo, busquei na minha própria experiência a resposta para as indagações acima.

Porque, afinal de contas, não sou leigo no assunto quando se trata de manusear armas de fogo. Quando me registrei, em 2019, no Clube Esportivo de Atiradores, Caçadores e Colecionadores do Distrito Federal (CEACC-DF), já havia feito, por razões profissionais, vários cursos de autoproteção, todos eles incluindo o uso de armas de fogo para defesa pessoal.

Nesses cursos, uma lição sempre se repetiu: em deslocamentos com a arma pronta para uso, manter o cano para baixo, em um ângulo de 45 graus em relação ao eixo vertical.

O motivo do cano direcionado para baixo é evitar um disparo acidental contra alguém que esteja à sua frente, mas o ângulo de 45 graus serve para que não aconteça o fato sobre o qual tratamos aqui: um tiro no pé.

Lembro então de uma cena que vi em um filme cuja trama se passava no século XVIII, talvez XIX. Dois jovens se enfrentavam em um duelo com pistolas. De costas um para o outro, caminhavam dez passos em sentidos opostos. Depois, viravam-se e atiravam.

Durante a caminhada, mantinham as pistolas com o cano apontado para baixo, mas sem observar a regra dos 45 graus. Talvez tenha surgido assim a expressão “tiro no pé”. Algum duelista mais nervoso deve ter apertado o gatilho antes da hora e acertado a extremidade de um de seus membros inferiores.

Foi mais ou menos o que aconteceu naquele caso do assalto à agência dos Correios que um dia julguei.

Os dois assaltantes estavam dentro do estabelecimento, quando chegaram ao local dois policiais, alertados por populares.

Os militares foram recebidos à bala. Depois de uma breve troca de tiros, um dos assaltantes pegou para refém uma senhora de aproximadamente 50 anos de idade. Saiu da agência fazendo da mulher um escudo humano. O outro assaltante vinha logo atrás.

Já na calçada, a arma do assaltante disparou. Um tiro no pé. Não dele, mas da refém. A mulher caiu ao solo. Um dos policiais, demonstrando grande habilidade, aproveitou o momento e disparou também a sua arma, alvejando o assaltante no abdômen. O outro indivíduo levantou as mãos, rendendo-se. Foram presos.

É por isso que sempre que ouço alguém dizer que “fulano deu um tiro no pé”, no sentido figurado, lembro desse caso, quando o tiro no pé foi literal. Não foi no pé de quem atirou, mas quem atirou acabou se dando mal também.

Neste ano de eleições para vagas de presidente da república, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, estratégias eleitorais aparentemente geniais podem acabar resultando em verdadeiros tiros no pé. Espero que apenas no sentido figurado.

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  1. Tem também a história do medroso que, desafiado para um duelo, teve que aceitar, diante das pessoas. Como estava se cagando de medo, na hora da contagem do duelo, deu de propósito, um tiro no pé e se livrou de coisa pior. rsrss.

  2. Caro Marcos, esta divagação sobre a a origem da expressão “tiro no pé” é interessante.

    Obviamente, quem deu o primeiro tiro não deve se orgulhar muito de seu feito, mesmo que soubesse que seu nome iria entrar para a posteridade como um exemplo de algo que deu ruim para o autor. Deve ter falado para as testemunhas: “pode falar o que eu fiz, mas por favor, omita meu nome”.

    Vários exemplos reais na política de “tiro no pé” me vem à cabeça, porém um se destaca no momento.

    Não vou falar seu nome para não criar polêmica, apenas uma dica: foi seu ex colega, Dr. Marcos, seu sobrenome começa com Mo e termina com ro. Deu um tiro de bazuca no pé.

    Abraço

    • João Francisco, o tal mo……ro, desde que deixou a lava jato não fez outra coisa a não ser dar tiros no seus pés como não deixou de dar tiros , como na historinha, tiro nos pés de quem lhe deu um ministério e a quem lhe deu abrigo e até e pagava para ele começar a brincar de ser candidato a qualquer coisa.

      • Caro Tarcísio (este nome vai vingar aqui em SP)! Para saber quem sofreu mais com tiros no pé, é só ver quem está de pé ou quem está rastejando atrás de dinheiro do fundão do partido de um tal de Bivar. É muita humilhação.

        Há 4 anos atrás o Deputado de baixo clero Bolsonaro correu atrás do mesmo Bivar (dono de um partido nanico) atrás de uma legenda para disputar a presidência. Não pediu nem precisou de dinheiro. Ao contrário, depois da eleição, deixou o tal partido com tanto dinheiro, que deu para comprar até o ex juiz especialista em tiro no próprio pé.

    • Ao meu ver, João Francisco, meu ex-colega atirou em um pé ao aceitar o convite para entrar para o governo; atirou no outro pé ao sair do governo.
      Lamento muito tudo isso, porque era um colega muito respeitado entre nós.
      Sobre sua carreira como pré-candidato abstenho-me de tecer comentários.

  3. Prezado Dr. Mairton,

    Sou seu admirador há longa data. Creio que desde que ouvi Coração de Frango pela primeira vez.

    Sei que o senhor não gosta de falar de política mas vou lhe pedir um grande favor:

    Fale com o seu colega, Dr. Kássio Nunes, para que ele retire aquele pedido escroto de levar o caso da REVISÃO DA VIDA TODA de volta para o plenário do STF.

    Esta manobra nojenta dele foi a maior sacanagem, dentre incontáveis, já praticada contra os velhinhos aposentados que não usufruem das benesses de ter APOSENTADORIA INTEGRAL e a partir dos IMENSOS E INJUSTIFICADOS SALÁRIOS da multidão de funcionários públicos.

    Com essa atitude nojenta, ele escreveu indelevelmente o nome dele na galeria dos grandes patifes da nossa nação. Equiparou-se em tudo aos demais seres abjetos que puLULAm naquela corte.

    Espero que seu “Embargo Auricular” seja bem sucedido, em nome dos milhares de aposentados que se encontram pendurados nesta maldita decisão.

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