MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Thomas Sowell é um dos meus autores prediletos. Fala com conhecimento de causa e vai direto ao ponto, sem muitos rodeios. O texto abaixo, naturalmente, fala da situação nos EUA, o país dele. Não faço parte da comunidade acadêmica aqui no Brasil, mas o que observo e leio me leva a crer que as palavras de Sowell cabem direitinho na nossa realidade.

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PENSAR ESTÁ SE TORNANDO ALGO OBSOLETO – Thomas Sowell, 2014

Recentemente, um sujeito me criticou pelo que eu havia dito em um artigo. Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas pelo simples fato de estarem sendo ditas por ele. As alegações que ele fez eram as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista — alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua publicação. Ele poderia ter aprendido isso caso tivesse me dado a chance de responder às suas provocações, de modo a começar um debate. Porém, ele próprio deixou claro desde o início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim apenas de me acusar e me denunciar.

Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.

É sempre surpreendente – e apavorante – constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem afirmando. Seja em debates de internet ou em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo. Há inúmeras maneiras de parecer que se está argumentando quando na realidade não se está produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada (para não dizer idiotizante) certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não foi apenas negligenciada no sistema educacional atual, como também foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje – desde escolas a universidades – estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as suposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar toda sua vida de estudante, desde o jardim de infância até o doutorado, sem entrar em contato com nenhuma visão de mundo diferente das opiniões autorizadas e politicamente corretas que dominam o sistema educacional. Para piorar, a perspectiva moral da ideologia predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas idéias realmente se vêem como anjos combatendo as forças do mal.

Estamos hoje vivenciando o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas pela ideia da inviolabilidade de certos pensamentos grupais que qualquer professor “forasteiro”, que não compactue com este pensamento gregário, não pode falar a respeito de nenhum assunto sem antes ter sido devidamente “credenciado” por seus pares.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de capacitar as pessoas a pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista que hoje é predominante no meio universitário rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de cada assunto apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como “especialistas”.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de clichês e frases de efeito evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários – teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual – agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos?

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos.

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado – ou melhor, doutrinado – nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original.

Um comentário em “TEXTOS ALHEIOS

  1. Thomas Sowell estava certo em 2014. Só não deu nome aos bois.

    Vou dar um exemplo. Dia destes aqui no JBF foi repercutida uma notícia de que a uma turma de formandos direito da UFG resolveu se batizar com o nome do sanguinário que fazia julgamentos sumários Fidel Castro. Disse na ocasião que seria o mesmo que dar o nome do casal Nardoni a uma turma de Pedagogia infantil.

    Outro caso, o Filme “Jardim das Aflições”, do Josias Teófilo, que conta sobre o filósofo de direita Olavo de Carvalho foi impedido de ser exibido nas Universidades Federais onde era levado para ser exibido a alunos interessados.

    Quem são os intolerantes?

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