VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

O Retrato de Dorian Gray é um romance filosófico, da autoria do escritor e dramaturgo Oscar Wilde, por sinal, o único romance escrito por ele.

O referido romance existe em duas versões: a edição de revista de 1890 e a edição do livro de 1891.

Conforme a literatura do século XIX, O Retrato de Dorian Gray é um exemplo de literatura gótica, com fortes temas interpretados a partir do lendário Fausto. Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o Demônio, baseada no médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust.

Os editores suprimiram, antes da publicação da revista, sem o conhecimento do autor, quinhentas palavras, temendo que a obra fosse considerada indecente, pela crítica literária.

Apesar da censura, O Retrato de Dorian Gray ofendeu a sensibilidade moral dos críticos literários britânicos, alguns dos quais disseram que ele merecia ser acusado de violar as leis que protegiam a moralidade pública. Em resposta, Wilde defendeu agressivamente seu romance e arte, em correspondência com a imprensa britânica.

Wilde revisou e ampliou a edição de revista de O Retrato de Dorian Gray (1890) para uma publicação como um romance; a edição do livro (1891) contou com um prefácio aforístico – uma apologia sobre a arte do romance e do leitor. O conteúdo, estilo e apresentação do prefácio tornaram-se famosos em seu próprio direito literário, como crítica social e cultural.

Em 1891, quando foi publicado em sua versão final, O Retrato de Dorian Gray foi recebido com escândalo, e provocou um intenso debate sobre o papel da arte em relação à moralidade. Alguns anos mais tarde, o livro foi usado contra o próprio autor em processos judiciais, como evidência de que ele possuía “uma certa tendência” – no caso, a homossexualidade, motivo pelo qual acabou condenado a dois anos de prisão por atentado ao pudor.

Mais de cem anos depois, porém, o único romance de Oscar Wilde continua sendo lido e debatido no mundo inteiro, e por questões que vão muito além do moralismo do fim do período vitoriano na Inglaterra, definida por um dos personagens do livro como “a terra natal da hipocrisia”.

Seu tema central – um personagem que leva uma vida dupla, mantendo uma aparência de virtude, enquanto se entrega ao hedonismo mais extremado. O hedonismo é uma teoria ou doutrina filosófico-moral, que afirma que o prazer é o bem supremo da vida humana – tem apelo atemporal e universal. Sua trama se vale de alguns dos traços que notabilizaram a melhor literatura de sua época, como a presença de elementos fantásticos e de grandes reflexões filosóficas, além do senso de humor sagaz e do sarcasmo implacável característicos de Oscar Wilde.

Dorian Gray é o tema de um retrato de corpo inteiro de Basil Hallward, um artista que está impressionado e encantado com a beleza de Dorian; ele acredita que a beleza de Dorian é responsável pela nova modalidade em sua arte como pintor.

Através de Basil, Dorian conhece Lord Henry Wotton, e logo se encanta com a visão de mundo hedonista do aristocrata, entendendo que a beleza e a sensualidade são as únicas coisas que valem a pena alcançar na vida.

Entendendo que sua beleza irá um dia desaparecer, Dorian Gray expressa o desejo de vender sua alma ao demônio, para garantir que, em seu lugar, o retrato envelheça e desapareça.

O desejo é concedido, e Dorian passa a levar uma vida libertina, de experiências variadas, imorais e amorais. Enquanto isso, o retrato vai envelhecendo em seu lugar, e registrando todas as coisas ruins, que corrompem a alma de Dorian Gray, que permanece jovem.

O Retrato de Dorian Gray inicia em um ensolarado dia de verão, na Inglaterra da Era Vitoriana, onde Lord Henry Wotton, um homem opinativo, observa o sensível artista Basil Hallward a pintar o retrato de Dorian Gray, seu anfitrião, e um lindo jovem que é a musa final de Basil.

Depois de ouvir a visão de mundo hedonista de Lorde Henry, um homem depravado, Dorian começa a pensar que a beleza é o único aspecto da vida que vale a pena seguir, e deseja que o retrato pintado por Basil envelheça em seu lugar.

Sob a influência hedonista de Lord Henry, Dorian explora plenamente a sua sensualidade. Ele descobre a atriz Sibyl Vane, que atua em peças de teatro de Shakespeare num teatro sombrio da classe trabalhadora. Dorian se aproxima e a corteja, e logo lhe propõe casamento. A apaixonada Sibyl o chama de “Príncipe Formoso”, e desmaia com a felicidade de ser amada. Mas, mas seu irmão protetor, James, um marinheiro, adverte que, se seu “Príncipe Formoso” a magoasse, iria matá-lo.

Dorian convida Basil e Lord Henry para ver Sibyl atuar em Romeu e Julieta. Sibyl, cujo único conhecimento do amor foi através do amor ao teatro, renuncia à sua carreira de atriz, para experimentar o amor verdadeiro com Dorian Gray. Desanimado por ela ter abandonado o palco, Dorian a rejeita, dizendo-lhe que atuar no palco era a sua beleza. Sem isso, ela já não era interessante. Ao voltar para casa, Dorian percebe que o retrato foi alterado; seu desejo realizado, e o homem do retrato carrega um sorriso sutil de crueldade.

Sentindo-se ferido e solitário, Dorian decide se reconciliar com Sibyl, mas é tarde demais. Lord Henry informa que Sibyl se matou, por engolir ácido cianídrico. Dorian Gray, então, entende que, a partir daí, sua vida dirigida pela luxúria e boa aparência seria suficiente. Nos dezoito anos seguintes, as experiências de Dorian, com todos os seus vícios e perversões sexuais falta, são influenciados por um romance francês moralmente venenoso, um presente recebido do decadente Lord Henry Wotton.

A narrativa não revela o título do romance francês, mas em seu julgamento, Wilde disse que o romance Dorian Gray era como ler À rebours (“Contra a Natureza”, 1884), de Joris-Karl Huysmans.

À noite, antes de partir para Paris, Basil vai à casa de Dorian lhe perguntar sobre os rumores de seu sensualismo auto-indulgente. Dorian não nega sua devassidão, e leva Basil a um quarto fechado para ver o retrato, que havia se tornado hediondo pela corrupção de Dorian. Na raiva, Dorian culpa Basil pelo seu destino, e o apunhala até morrer. Dorian, depois, calmamente, chantageia um velho amigo, o químico Alan Campbell, para destruir o corpo de Basil Hallward em ácido nítrico.

Para escapar da culpa de seu crime, Dorian vai para um antigo antro de ópio, onde James Vane está inconscientemente presente. Ao ouvir alguém se referir a Dorian como “Príncipe Encantado”, James o procura e tenta atirar em Dorian. Em seu confronto, Dorian engana James, ao fazê-lo acreditar que é muito jovem para ter conhecido Sibyl, que se suicidou dezoito anos antes, e já que seu rosto ainda é o de um jovem. James cede e libera Dorian, mas depois é abordado por uma mulher do antro de ópio, que reprova James por não o ter matado. Ela confirma que o homem era Dorian Gray e explica que ele não envelheceu em dezoito anos; compreendendo demasiado tarde, James corre atrás de Dorian, mas não o encontra.

Uma noite, durante o jantar em casa, Dorian espiona James rondando a casa. Dorian teme por sua vida. Dias depois, durante uma caçada, um dos caçadores acidentalmente atira e mata James Vane, que estava escondido em um matagal. Ao retornar a Londres, Dorian diz para Lord Henry que irá ser bom a partir de então. Sua nova probidade começa com não partir o coração da ingênua Hetty Merton, o seu interesse romântico atual. Dorian se pergunta se sua bondade recém-descoberta teria revertido a sua corrupção no retrato, mas ele só vê uma imagem mais feia de si mesmo. A partir daí, Dorian entende que seus verdadeiros motivos para o auto-sacrifício de reforma moral foram provocados pela vaidade e a curiosidade pela busca de novas experiências.

Decidindo que só a completa confissão iria absolvê-lo de delitos, Dorian decide destruir o último vestígio de sua consciência. Enfurecido, pega a faca com que ele assassinou Basil Hallward e apunhala o retrato. Os servos da casa acordam ao ouvir um grito do quarto fechado. Na rua, os transeuntes também ouvem o grito e chamam a polícia. Ao entrarem na sala trancada, os servos encontram um velho desconhecido, esfaqueado no coração, seu rosto e figura estão secas e decrépitas. Os servos identificam o cadáver desfigurado pelos anéis nos dedos que pertencem ao seu mestre; ao lado deles, está o retrato de Dorian Gray, que regressou à sua beleza original.

Oscar Wilde disse que, no romance O Retrato de Dorian Gray (1891), três dos personagens eram reflexos de si mesmo:

Basil Hallward é o que penso que sou: Lorde Henry é o que o mundo pensa de mim: Dorian Gray é o que eu gostaria de ser – em outras eras, talvez. Dorian Gray – um jovem atraente e narcisista, encantado com o “novo” hedonismo de Lorde Henry. Ele se entrega a cada prazer (moral e imoral), vida que finalmente o leva à morte.

14 pensou em “SOBRE O RETRATO DE DORIAN GRAY

  1. Salvo engano teve um filme baseado na obra. Muito bom, Violante. Queria aproveitar pra lhe informar que criamos um grupo de ZAP com os frequentadores do cabaré. Caso se interesse mande seu número. Se não quiser deixar aqui, tem o e-mail mauricioassuero18@gmail.com. Abraços, feliz ano novo.

  2. O filme O RETRATO DE DORIAN GRAY é muito, mais muito ruim mesmo. Para os críticos e cinéfilos que já leram a obra de Oscar Wilder, essa é, sem o menor farelo de duvida, umas das piores adaptações de livros para o cinema.

    P.S.: – O longa é um desrespeito à memória do lendário escritor. Porém, há quem diga que o diretor do longa metragem, Oliver Parker, quis mostrar personagens que eram a própria personalidade e vida desconectas com a realidade da época (o modus vivendi), atribulada ao Autor do livro, inclusive por achá-lo um praticante assiduo do homossexualismo.

    • Obrigada pelo comentário, prezado Altamir Pinheiro. Não assisti ao filme, por falta de oportunidade. Mas agora, fiquei curiosa para assistir. O livro, ganhei de presente. A metamorfose das pessoas, com o avançar da idade, é uma realidade, e não aceita propina, A ficção do “pacto com o demônio” para não envelhecer, deve ser o sonho de muita gente que não aceita a vida como ela é. , .
      O homossexualismo abordado no livro, O Retrato de Dorian Gray, escrito e publicado há mais de cem anos, hoje seria “fichinha”, diante da sociedade atual.

      Um abraço, e um Feliz Ano Novo!

  3. Violante,

    Parabéns pelo enredo linear do romance filosófico O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, publicado em periódico na revista mensal Lippincott’s Monthly Magazine, foi censurado em uma infinidade de palavras antes de sua publicação, em razão dos editores temerem indecências. Mesmo assim, com a censura, quando publicado, entenderam os críticos britânicos que o escritor merecia ser acusado de violar as leis que protegiam a moralidade pública.
    Às vezes, a ficção e a realidade se entrelaçam. O pacto “demoníaco” do seduzido jovem Dorian Gray em guardar para sempre a jovialidade e a beleza, deixando para um quadro seu as mazelas do tempo e do envelhecimento pode ser comparado com o excesso de cirurgias plásticas e procedimentos dermatológicos de algumas celebridades. O envelhecimento é fisiológico, entretanto a vaidade pode levar a situações contrárias ao bem-estar.

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria

    Aristeu

    • Obrigada pelo excelente comentário, prezado Aristeu!

      Escrito há mais de cem anos, “O Retrato de Dorian Gray”, na época, censurado, pela indecência e pela homossexualidade abordadas, hoje seria um pingo d’água no Oceano Atlântico, diante do mundo degenerado em que vivemos.

      A arte imita a vida. Por isso, como você disse, “a ficção e a realidade se entrelaçam”. Muita gente seria capaz de fazer um “pacto demoníaco” para não envelhecer. Realmente, esse desejo encontra arrimo “no excesso de cirurgias plásticas e procedimentos dermatológicos de algumas celebridades.”.
      Mas, o tempo é inexorável.

      “Não existe isto de livros morais ou imorais. Livros são coisas bem escritas ou mal escritas. E só”. (Oscar Wilde).

      Um grande abraço, amigo! Um Ano Novo, com muita Saúde e Felicidade, para você e sua família!

  4. A genialidade de Oscar Wilde encontrando a genial Violante… Lugar de gênios da literatura realmente é na casa fubânica…

    Que o ano da musa fubânica seja tão belo quanto as “cenas” que a moça potiguar vai deixando pelo “caminho” deste “jbf” de todos nós.

    Beijão, linda!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    • Obrigada pela delicadeza do comentário, prezado Sancho.
      Ganhei o dia, e me lembrei do inesquecível Ariano Suassuna, falando sobre “gênios” .
      Você sabe massagear nossos corações, com suas colocações carinhosas.
      Sua ausência no “Cabaré do Berto” está sendo assunto em todas as “assembleias”.
      Volta, Sancho!!!

      Um Ano Novo cheio de prosperidade, muita Saúde e Felicidade, para você e sua família!

      Um forte abraço!
      ….

  5. Parabéns, estimada Violante!
    Primeiramente, corroboro as palavras do nosso grande Sancho Pança: “ A genialidade de Oscar Wilde encontrando a genial Violante… Lugar de gênios da literatura realmente é na casa fubânica…”
    Segundamente, devo ressaltar que você me fez entender melhor O Retrato de Dorian Gray. Quando o li, comentava-se que Dorian Gray era o retrato do Oscar Wilde. Agora você aclarou: Basil Hallward é o que Wilde achava que era o retrato dele(Wilde). Lorde Henrique é o que o mundo pensava do Wilde. E, finalmente, Dorian Gray é o que Wilde gostaria de ser.
    De todo modo, nesses três personagens está a personalidade de Oscar Wilde, ele não sabia quem era ele mesmo.
    Para ilustrar a personalidade do gênio Oscar Wilde, conto uma passagem na vida dele. Certa feita, um amigo muito próximo queixou-se da forma muito brincalhona de o Oscar Wilde encarrar a vida. Disse-lhe o amigo: – Oscar, é muito ruim conversar com você, pois não sei quando você está falando sério, nem quando você está brincando! Ao que Wilde respondeu: – nem eu!
    Parabéns, Violante! Continue nos brindando com suas pérolas literárias.
    UM ANO NOVO CHEIO DE VACINAS E, POR CONSEGUINTE, SAÚDE E PAZ!
    Um forte abraço.

  6. Obrigada pelo generoso comentário, prezado Boaventura!
    Na verdade, os principais personagens do romance “O Retrato de Dorian Gray” são degenerados:
    Basil Hallward (o pintor), Dorian Gray (o modelo lindíssimo, que posou para Basil, e por quem o pintou tinha verdadeira loucura), e Lord Henry Wotton,, que ao conhecer Dorian Gray, também se apaixonou por ele. Por coincidência, são esses personagens que, segundo o autor Oscar Wilde eram reflexos dele mesmo. Daí, o motivo dele não conhecer a si mesmo.

    Um grande abraço, amigo!.

    Para você e sua família, também desejo um ANO NOVO CHEIO DE SAÚDE, VACINAS E PAZ!

    Já fiz até uma paródia, com a música “CINDERELA” :

    “VENHA DE ONDE VIER…,
    CHEGUE DE ONDE CHEGAR…
    ME ENCONTRARÁS BEM NA FRENTE,
    DE BLUSA AMARELA, PRA ME VACINAR….”

  7. De nada, estimada Violante! Gostei muito de sua paródia, pois está desprovida de preconceitos e constituída de civismo. E nela há uma mensagem subjacente: o mais importante é a preservação da saúde.

Deixe um comentário para Maurício Assuero Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *