Texto publicado em Dez 2018, agora republicado em homenagem ao Artista Zé Cláudio que partiu em 12.12.2023
José Cláudio e Bill Gates
Em lúcido e inteligente artigo, aliás, como é do seu feitio sempre fazê-lo, o eminente mestre das letras jurídicas e outras mais, Doutor Zé Paulo Cavalcanti, analisa os poucos pontos convergentes entre o incensado e milionário Bill Gates e o artista pernambucano José Cláudio. Um nasceu em Seattle e tem como mania juntar milhões de dólares. O outro, nascido mais perto, sob o sol de Ipojuca, não foi bafejado pela deusa da riqueza mas, em contrapartida, os deuses do talento afagaram-lhe a alma desde a mais tenra idade.
Bill mora numa mansão na cidade em que nasceu, cercado por sessenta seguranças protegendo seus passos e frustrando-lhe qualquer privacidade. Já o outro, o Pintor, se indagado, diz que mora por trás da casa de Abel. Que Abel? Sabe-se lá quem! O Severino americano não sabe pintar na mesma dimensão que o Pintor Zé não teve ‘talento’ para juntar tantos milhões. Mas algo em comum os dois tem: Quando recolhidos ao lar, nenhum deles usa sapatos. Nem camisa. Apenas um calção tão largo quanto indecente. E assim permanecem, ainda que recebendo a mais ilustre visita.
Não que eu inveje o Bill das Américas, podre de rico, como se diz lá pelo Crato. Nem o seu dinheiro. Não posso invejar quem precisa de 60 seguranças para viver. A Zé Claudio, certamente, invejo: o seu talento e o modo de vida. A ambos, copio num detalhe: o calção frouxo, o sem-camisa e os pés descalços dentro de casa. Tudo livre como livre deve ser a vida de quem está de bem com ela. Só me falta saber pintar como Zé Cláudio e ter 60 seguranças para, com o maior prazer do mundo, dispensá-los, sem justa causa, pagar-lhes todos os direitos, vestir meu calção frouxo, tirar a camisa, descalçar os pés e viver a vida. Como gente. E ser feliz, como Zé Cláudio.
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Esse texto do mestre Xico Bizerra a respeito do encantamento do artista Zé Cláudio me lembrou o humorista piripiriense João Cláudio Moreno, talvez o maior da atualidade.
Segundo ele em entrevista a um “pode-queste” da hora, morava num apartamento de 400²m no Rio de Janeiro nos anos noventa, desfrutando apenas da sala, da cozinha, do sanitário, da biblioteca para trabalhar, da capelinha para rezar. O resto era só ostentação.
Percebeu, com o tempo e um exemplo de um homem simples e despojado que nada daquilo lhe valia apenas e se mudou para um de 140²m. Fernando Pessoa, astrólogo, o orientou no mapa astral de sua filha Clara Mello, romancista, poetiza, astróloga, os passos para ser feliz sem precisar de tudo aquilo.
Belo texto, Xico.
Feliz 2024, ao mestre e família.
E a Doutor Zé Paulo, o mesmo afeto.
O mais engraçado, mestre Xico, é como vive na sua casa o Bill americano. E a graça é que é muito parecido com nosso Zé Cláudio. Um amigo almoçou com ele e me contou. Primeiro, nenhum segurança aparece. Em hora nenhuma; você não se sente incomodado, por aquela gente. É tudo por câmaras, e muito discreto. O pessoal do Mossad é competente. Segundo é que o tal Bill nem usa sapatos, nem camisas. Recebe os convidados de calção, e almoça com eles assim. Zé Cláudio se sentiria em casa, se lá estivesse. Vamos imitar, pois.
Eu já os imito, Dr Zé Paulo, seja no despojar das roupas, seja no pisar o chão com os pés, livres de sapatos. Gravatas, que usei por anos, hoje não servem sequer pra enfeitar meu guarda-roupas: cortei quase dúzia e meia delas. Procuro imitá-los na felicidade que vivem (viveram), cada um a seu modo. Quanto a meu amigo JCMoreno, a quem Ciço se refere, é outro exemplo a ser seguido. Exemplo de inteligência, humildade e generosidade.
Xico é phoda.. até um desencarne vira poesia. Sutil, sublime, superlativa,
Meu caro Assuero , esse texto é de 5 anos, 2018, antes do desencarne. Pedi ao Papa Berto a republicação em homenagem, aí sim, à viagem derradeira do grande artista. Abraço