MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

É senso comum de que uma guerra é uma forma de trazer crescimento econômico e tudo indica que a crise mundial de 1929, conhecida nos meios econômicos como A Grande Depressão, foi resolvida assim, principalmente no caso da Alemanha. A segunda guerra matou 6 milhões de judeus. Os nazistas se apossaram dos seus bens. Empresas dos judeus passaram para as mãos de alemães. Roubaram as joias, depositaram dinheiro nos bancos suíços e, principalmente, colocaram os judeus para trabalhar nas suas fábricas. Trabalho escravo, sem um centavo de salário, apenas um sopro de esperança ao alcance do dia seguinte.

No pós guerra, em 1948, veio o Plano Marshall que foi uma ajuda americana destina a reconstrução de países e a Alemanha, Ocidental, soube aproveitar e desde então se tornou essa potência econômica de hoje. Em seu favor, sua extraordinária capacidade tecnológica e a qualificação da mão-de-obra. Outras guerras mais localizadas, como as do Oriente Médio, também trouxeram seus impactos econômicos. Mesmo em épocas de guerras, os países mantiveram atividades econômicas. Os bombardeios visam, em principio, alvos militares.

Com essa guerra provocada pela pandemia do covid-19, o mundo todo buscou conter a contaminação pelo isolamento. A China, numa semana perdeu 60% da sua produtividade. A Itália fechou seus acessos, mas não conseguiu conter a quantidade de mortes, até maior do que na China, origem dessa desgraça toda. Em todo mundo as medidas restritivas reduziram a atividade econômica e ameaçam empregos de forma mais ou menos intensa dependendo da estrutura de cada país.

O que se discute no Brasil, de forma altamente ideológica, é a manutenção do isolamento e o consequente afundamento da economia ou se libera a economia com os riscos de se ter crescimento no número de óbitos. O vírus tem um período de incubação de 14 dias e no quinto dia já se tem sintomas. Então, isso poderia ser um instrumento de mapeamento dos casos em cada cidade do país. As secretarias municipais poderiam abrir fichas de acompanhamento e controle, a ser preenchido de casa, com informações que identificassem o status de saúde do cidadão. Se fosse identificado o conjunto de sintomas do covid-19, se faria uma ação direcionada.

Hoje todo mundo tem consciência do potencial de contaminação do vírus. Ele não escolhe por idade, sexo, religião, cor dos olhos, renda familiar, grau de instrução, nada disso. Qualquer nome de A a Z é um potencial hospedeiro. O que se sabe é que pessoas idosas correm mais riscos, assim como aqueles que sofrem de alguma patologia como diabetes, cardiovascular, fumantes, etc. A doença pode matar jovens também? Claro! No Rio de Janeiro um jovem de 26 anos morreu, mas um repórter no Piauí, de 37 anos, está curado. Teve um funcionário do FMI, praticante de esportes, que morreu aos 29 anos, mas Preta Gil declarou hoje que está curada.

As pessoas estão perdendo o foco da questão e perguntando “qual membro de sua família você quer que morra?”. Ninguém, em sã consciência escala um parente para morrer, mas estão colocando as coisas como se fosse A Escolha de Sophia, onde a gente teria que optar pelo sistema econômico ou pelas mortes de parentes ou até mesmo a nossa. Cabe observar o que foi feito no mundo para uma decisão, mas da forma como a imprensa tem tratado o problema não me parece que as pessoas sejam capazes de formar opinião.

Existe uma exploração política orquestrada. Por exemplo: Rodrigo Maia, conhecido como Botafogo nas planilhas da Odebrecht, quer exatamente isso: botar fogo no país, numa espécie de governo paralelo. Recentemente ele disse que a pressão para abrir a economia era oriunda dos aplicadores da Bolsa de Valores, dando a entender que se tratava de um beneficiamento à elite. Ele desconsiderou a pressão dos comerciantes, hoteleiros, vendedores ambulantes que trabalham nas praias e foi incapaz de lutar pela liberação do Fundo Partidário para ajudar a economia. Os partidos precisam desse valor para fazer propaganda da quantidade de vidas, ou de empregos, que eles poderiam ter ajudado a salvar, mas não o fizeram.

No bojo das discussões cobra-se apoio do governo, ou seja, querem que o governo pague todos os salários das empresas que estão sem faturamento. O governo dos Estados Unidos vai colocar US$ 2 trilhões para atender a economia e seria extraordinário se a gente tivesse essa capacidade. Não tem. Temos déficit orçamentário porque este país foi, exaustivamente, roubado. Apesar disso, o governo anunciou um pacote de medidas que visam micros e pequenas empresas, trabalhadores autônomos, visam garantir empregos. Não sei qual será a dimensão do sucesso, mas sei que a economia brasileira não vai se recuperar em 1 ano. Não teremos crescimento econômico este ano e tudo que estava sendo construído terá que ser refeito.

Importante dizer que os bancos já farejaram o risco de mercado e elevaram as taxas de juros para empréstimos. Acabei de ver uma propagando do Santander dizendo que pode bancar dois meses de salários para funcionários públicos a taxa de 3,75% ao mês. Vou dizer de novo: 3,75% ao mês. Essa taxa é igual a 55,54% ao ano. A Prefeitura do Recife está antecipando a cobrança do IPTU de 2021, embora este ano seja o último do mandado do prefeito. Será que ele está prevendo que até 2021 todos estaremos mortos?

Nenhuma economia se sustenta sem consumo. As perdas que já tivemos são irreparáveis. Existe uma irresponsabilidade muito grande da imprensa e de alguns governantes. Por exemplo: João Dória declarou que desde janeiro o hospital Emílio Ribas sabia da propagação e mesmo assim ele não vetou o carnaval. Ele vai ser responsabilizado por isso?

Insisto: falta uma ação de mapeamento dos potenciais vetores. Não faz sentido fechar o comércio de uma cidade que não tem casos declarados. Falta bom senso e a impressão que eu tenho é que a pressão para continuar em casa é mais forte no âmbito do setor público, enquanto as noticias das primeiras demissões já surgem, mas não incomoda quem defende a quarentena.

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