A PALAVRA DO EDITOR

Fui um contumaz leitor de Ronildo Maia Leite, um cronista arretado de ótimo do Jornal do Commércio. Sua coluna BOM DIA, RECIFE, sempre historicamente acidorresistente, despertavam os abilolados, desnudavam hipócritas, arrebicavam oportunistas e posturas fingidoras, dilacerando uma macacaria que apenas desejava levar vantagens político-eleitoreiras, aproveitando-se da mitografia de alguns manhosos.

Diante das maracutaias vergonhosas que ainda continuam circunvizinhando na atual quadratura política brasileira , onde uma desmesurada bandidagem parece asfixiar a honradez e a dignidade de milhões de eleitores brasileiros, tenho quase certeza que o notável Ronildo andou se abeberando num livrinho de humor tão corrosivo quanto inteligente, por mim lido e relido várias vezes.

Com sucessivas edições italianas , brasileiras, castelhanas e catalãs, francesas e belgas, o Discurso Sobre o Filho-da-Puta, do lusitano Alberto Pimenta, em primorosa tiragem da Fenda Edições, está aliviando sobremaneira as angústias individuais e coletivas dos que ainda têm vergonha, nesta quarentena pandêmica. 

A edição por mim compulsada retrata, com refinada ironia, os comportamentos hipócritas, públicos e privados. Segundo Pimenta, sobre o FDP múltiplas lendas são contadas. O autor do Discurso estabeleceu, para iniciação dos ainda leigos no assunto, algumas linhas que servem para pressentir a presença de um deles . O saudoso Ronildo seguramente sabia, de trás pra frente, tais grandes linhas, posto que suas deliciosas e oportuníssimas crônicas estão repimpadas de mortíferas entrelinhas.

Para os ex-leitores do Ronildo, como eu, torno públicos alguns dos parâmetros do Alberto Pimenta, para possibilitar uma melhor identificação dos que estão merecendo levar umas cipoadas cidadãs, não mais fazendo de besta os eleitores de um estado já muito politicamente sacrificado:

1. O FDP existe e está em todas as partes. Nunca se define à primeira vista. Não usa sinais explícitos, nem distintivos, sempre dizendo o que pretendia dizer o maioral seu chefe.

2. O FDP não consente na despreocupação. Pretende chegar a todos os lugares sem chegar a sair pra lugar nenhum, vocacionado para não deixar fazer.

3. Os FDP conhecem-se bem. Sabem comunicar-se muitíssimo eficazmente uns com os outros. E têm sempre um bom motivo coletivo para os seus atos particulares e um excelente motivo particular para seus atos públicos.

4. Todo FDP detesta o sucesso das investigações dos outros e se preocupa obsessivamente com a ascensão profissional dos companheiros de trabalho, jamais se aperfeiçoando porque jamais se desligou das caminhadas bem sucedidas dos seus colegas , de infância, de trabalho ou de comunidade.

Ao relembrar o Ronildo Maia Leite lendo seus artigos, todos eles recheados de oportuníssimas vergastadas, creio que o melhor indicador para os atuais isolamentos é a releitura bem mastigada das notas do Alberto Pimenta. Para melhor identificar os “vocacionados“. E também para não se converter em mais um deles . Mas sobretudo para poder trabalhar prevenido em ambientes onde eles pululam , quase todos travestidos de coadjuvantes da construção do bem estar social … deles.

O Ronildo era um baita cronista diferenciado. Daqueles que absorveram eficazmente o balizamento magistral de Bernard Shaw : “Alguns homens vêm as coisas como são e perguntam POR QUE? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto POR QUE NÃO?”

3 pensou em “SAUDADES DE UM TALENTO

  1. Excelente e oportuno texto, professor!
    Os FDPs existem e estão em todas as partes.
    E, pelo visto, levam a sério a recomendação que se encontra no Livro de Gênesis: Crescei e multiplicai-vos.

    Do jornalista Fabio Pannunzio, no Twitter em julho/2019: “Olho ao redor e me pergunto: de onde saiu tanto filho da puta?”

  2. Obrigado pelos incentivos. Mas somente com ampla CCC – Consciência Crítica Cidadã, despertaremos os abilolados de sempre para os perigos das MA – Macaxeiras Anais que jamais nos libertarão.

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